O Brasil alcançou uma importante conquista no campo da saúde pública: a eliminação da filariose linfática, popularmente conhecida como elefantíase, como problema de saúde pública. A certificação foi concedida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e marca o país como o 20º no mundo a eliminar a doença, que é considerada uma das principais causas de incapacidade permanente ou de longo prazo.
A enfermidade, antes endêmica na região metropolitana do Recife, incluindo as cidades de Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista, teve seu último caso confirmado em 2017, segundo o Ministério da Saúde.
Essa vitória é resultado de décadas de esforços conjuntos de profissionais da saúde, instituições governamentais e políticas públicas focadas no controle e na prevenção de doenças tropicais negligenciadas.
Além de garantir a melhoria na qualidade de vida das pessoas que residem em áreas de risco, a eliminação da filariose linfática no Brasil representa um passo importante para o fortalecimento da saúde pública nacional e um exemplo a ser seguido por outras nações que ainda enfrentam essa enfermidade.
A filariose linfática, ou elefantíase, é uma doença parasitária causada pelo verme nematoide Wuchereria bancrofti. A infecção ocorre quando uma pessoa é picada pelo mosquito Culex quinquefasciatus, popularmente conhecido como pernilongo ou muriçoca, infectado com larvas do parasita. Uma vez no organismo humano, essas larvas se desenvolvem e se alojam no sistema linfático, bloqueando a circulação de líquidos e causando edemas crônicos.
As manifestações clínicas da doença variam desde inchaços leves até formas mais graves, como o aumento anormal de membros, seios e órgãos genitais, causando dor, desfiguração e incapacidade permanente. A filariose linfática também é uma doença estigmatizante, que afeta a autoestima e o bem-estar psicológico das pessoas acometidas.
Embora o tratamento da infecção seja possível, a doença ainda representa um desafio em áreas com baixa cobertura de saúde, onde a vigilância e o controle de vetores não são plenamente implementados. A eliminação como problema de saúde pública implica que a transmissão foi interrompida e os casos existentes foram tratados, minimizando o risco de novos surtos.
A eliminação da filariose linfática como problema de saúde pública no Brasil é fruto de um extenso trabalho de planejamento e implementação de estratégias de controle e prevenção. O Ministério da Saúde, em parceria com governos locais e organizações internacionais, iniciou campanhas de conscientização, mutirões de diagnóstico e tratamento e intensificou o controle do mosquito vetor.
O Recife e sua região metropolitana, única área no Brasil onde a doença ainda era endêmica até recentemente, foi o foco das principais intervenções. A administração em massa de medicamentos, combinada com a vigilância ativa e as medidas de controle do mosquito, foram cruciais para interromper a transmissão. Esse trabalho se refletiu no último caso registrado em 2017 e, desde então, o monitoramento constante garantiu que não houvesse novas infecções.
Em comunicado publicado na última terça-feira (1º), a Organização Mundial da Saúde (OMS) parabenizou o Brasil pela eliminação da filariose linfática como problema de saúde pública. O diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, destacou o compromisso do país em combater uma doença dolorosa e incapacitante, enfatizando a importância de esforços contínuos para evitar o ressurgimento da infecção.
“Eliminar uma doença é uma conquista importante e que exige um compromisso inabalável. Parabenizo o Brasil por seus esforços para libertar sua população do flagelo de uma doença dolorosa, desfigurante, incapacitante e estigmatizante. Este é mais um exemplo do incrível progresso que estamos fazendo contra as doenças tropicais negligenciadas”, afirmou Ghebreyesus.
A validação pela OMS confirma que o Brasil atendeu a todos os critérios estabelecidos para eliminação da filariose linfática como problema de saúde pública. Isso inclui a interrupção da transmissão, a baixa prevalência da infecção e a capacidade de manter a vigilância para prevenir a reemergência.
Com a certificação brasileira, 20 países e territórios no mundo conseguiram eliminar a filariose linfática como problema de saúde pública, incluindo nações como Malawi, Togo, Egito, Bangladesh, Maldivas e Vietnã. Em contrapartida, ainda existem 39 países onde a filariose permanece endêmica, afetando mais de 657 milhões de pessoas.
Nas Américas, além do Brasil, três países ainda lutam para eliminar a doença: República Dominicana, Guiana e Haiti. Nesses locais, a OMS recomenda a administração em massa de medicamentos para interromper a transmissão. A meta global é eliminar pelo menos 20 doenças tropicais negligenciadas até 2030, incluindo a filariose linfática.
A eliminação da filariose linfática requer estratégias abrangentes de saúde pública, que vão desde a prevenção da picada do mosquito transmissor até a administração de medicamentos preventivos em massa. No Brasil, o sucesso no combate à doença envolveu medidas como:
- Controle do Mosquito Vetor: Reduzir a população de mosquitos Culex através de ações de limpeza urbana, eliminação de focos de reprodução e uso de inseticidas.
- Administração em Massa de Medicamentos: Realização de campanhas de quimioterapia preventiva com o objetivo de tratar as pessoas infectadas e interromper a transmissão.
- Vigilância Epidemiológica: Monitoramento constante para detectar e tratar rapidamente novos casos.
- Conscientização da População: Campanhas educativas sobre os modos de transmissão, os sintomas e as formas de prevenção da doença.
Essas ações devem ser contínuas para garantir que a filariose linfática não retorne às áreas onde foi eliminada.
A filariose linfática faz parte do grupo de doenças tropicais negligenciadas (DTNs), que afetam principalmente populações em condições de pobreza e em áreas com infraestrutura de saúde precária. A eliminação de DTNs como problema de saúde pública é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU para 2030.
Doenças como a filariose linfática, a doença de Chagas, a hanseníase e a esquistossomose causam grande impacto na saúde e na qualidade de vida das pessoas acometidas. Elas geram incapacidades, reduzem a produtividade e aumentam a pobreza, perpetuando um ciclo de desigualdade social e econômica.
A eliminação dessas enfermidades não apenas melhora a saúde da população, mas também contribui para o desenvolvimento econômico e social das comunidades afetadas. Nesse contexto, o reconhecimento da eliminação da filariose linfática no Brasil é um marco que reforça o compromisso do país com a melhoria da saúde pública e a promoção do bem-estar de seus cidadãos.