Depois de seis anos de espera, o Victoria’s Secret Fashion Show fez seu tão aguardado retorno em Nova York, reacendendo uma mistura de entusiasmo e curiosidade. O evento, que já foi sinônimo de glamour e espetacularidade, volta em um momento em que a moda está passando por grandes transformações sociais.
O público esperava ver não apenas modelos deslumbrantes, mas também uma proposta mais alinhada com as demandas de inclusão e representatividade. A missão da marca era clara: provar que aprendeu com as críticas e que pode ser relevante em um mercado que mudou desde seu último desfile.
Com um elenco estrelado, incluindo Valentina Sampaio, Ashley Graham e Carla Bruni, a nova edição prometia trazer uma diversidade inédita ao palco. No entanto, a decisão de apostar na nostalgia dos anos 2000 dividiu opiniões e levantou a questão: será que o desfile conseguiu se atualizar ou apenas tentou surfar na lembrança dos seus tempos áureos?
Durante seus anos de auge, o Victoria’s Secret Fashion Show foi um dos eventos mais aguardados do calendário da moda. Porém, com o passar do tempo, a marca começou a perder espaço, sendo criticada por padrões estéticos rígidos e falta de diversidade. Em meio à pressão pública por mais inclusão e representatividade, a marca foi acusada de objetificar corpos femininos e perpetuar ideais ultrapassados de beleza.
Essas críticas se somaram a mudanças no mercado de lingerie, onde novas marcas começaram a se destacar ao adotar discursos mais inclusivos e celebrando corpos de diferentes formas e tamanhos. Diante disso, o hiato de seis anos foi visto como uma tentativa de reestruturação.
No retorno em 2024, a Victoria’s Secret sabia que não poderia entregar apenas um desfile glamouroso; precisava também mostrar que havia aprendido com seus erros e se reconectado com o zeitgeist atual.
Um dos destaques do retorno do desfile foi a escolha das modelos. Nomes como Valentina Sampaio, a primeira modelo transgênero a desfilar pela marca, Ashley Graham, referência no mercado plus size, e Carla Bruni, ícone da moda internacional, foram escaladas para representar uma pluralidade de corpos, etnias e trajetórias. Essas escolhas indicam um esforço para reposicionar a marca e responder às críticas de exclusão e padronização de beleza.
Ashley Graham, conhecida por sua militância em prol da diversidade corporal, fez uma aparição marcante, quebrando barreiras que a marca havia imposto por anos. Valentina Sampaio, por sua vez, trouxe visibilidade para modelos trans no mundo da moda, reforçando que a inclusão precisa ser mais do que uma tendência passageira.
Apesar das tentativas de modernizar sua imagem, o desfile de 2024 flertou intensamente com a nostalgia dos anos 2000, período em que a marca viveu seu auge. Esse tom nostálgico foi percebido tanto nas escolhas musicais quanto na estética das coleções apresentadas na passarela. Enquanto para alguns essa abordagem trouxe um sentimento reconfortante, para outros soou como uma falta de inovação e uma tentativa de reviver um momento que já não faz mais sentido para o público atual.
A moda hoje pede mais do que nostalgia: demanda autenticidade, conexão com temas sociais relevantes e responsabilidade na forma como apresenta o corpo e a diversidade. Ao tentar resgatar os “anos dourados”, a Victoria’s Secret pode ter perdido uma oportunidade de mostrar uma verdadeira renovação.
Embora o retorno do Victoria’s Secret Fashion Show tenha sido cercado de grande expectativa, a recepção foi mista. Enquanto alguns fãs celebraram o retorno de um evento icônico, muitos críticos avaliaram que, apesar do esforço em apresentar um casting mais diverso, o desfile ainda parecia desconectado das mudanças sociais e das novas demandas do público.
A marca foi elogiada por adotar a diversidade de maneira mais clara, mas houve quem questionasse se essa inclusão era genuína ou apenas uma tentativa de recuperar relevância diante da pressão do mercado. “A pluralidade é importante, mas precisa ser autêntica”, comentou um especialista em moda. “Não adianta trazer diversidade apenas como estratégia de marketing.”
Além disso, o formato do evento, ainda baseado em um desfile tradicional e espetacularizado, foi visto como antiquado para alguns críticos. Em um momento em que a moda explora formatos mais dinâmicos e digitalizados, como desfiles virtuais e colaborações interativas, a insistência no formato clássico gerou dúvidas sobre a capacidade da Victoria’s Secret de se reinventar.
O retorno do Victoria’s Secret Fashion Show em 2024 representa um momento crucial para a marca. A indústria da moda está em constante transformação, e marcas que não se adaptam às novas realidades correm o risco de perder espaço para concorrentes mais alinhados com as demandas do público.
O evento deste ano pode ser visto como um passo inicial para reposicionar a marca, mas não será suficiente por si só. A Victoria’s Secret precisará mostrar, nos próximos anos, que a inclusão e a diversidade fazem parte de uma estratégia de longo prazo, e não apenas uma resposta imediata às críticas.
Além disso, será necessário repensar a narrativa e o formato do desfile, alinhando-se com as novas tendências do mercado e com a forma como o público consome moda atualmente. Autenticidade e relevância social serão essenciais para garantir que a marca consiga se conectar com uma geração mais consciente e exigente.