Desertos verdes e o futuro ambiental do Brasil

A aprovação da Lei nº 14.876, que retirou a silvicultura da lista de atividades potencialmente poluidoras, trouxe novas diretrizes para o setor florestal no Brasil. Com essa mudança, o plantio comercial de espécies como pinus e eucalipto foi desburocratizado, facilitando o licenciamento ambiental e eliminando o pagamento de taxas específicas. No entanto, essa decisão tem gerado discussões intensas sobre os possíveis impactos ambientais e os benefícios socioeconômicos dessa prática.

Desertos verdes referem-se a grandes áreas de monoculturas florestais, geralmente de espécies exóticas, que resultam em uma paisagem uniforme e de baixa diversidade bioecológica. Essas áreas são frequentemente dominadas por espécies como pinus e eucalipto, usadas para a produção de madeira e celulose. Apesar de visualmente verdes, essas monoculturas são criticadas por sua baixa diversidade de flora e fauna, o que pode resultar em impactos ecológicos negativos.

A silvicultura comercial é vista por alguns como uma prática essencial para o desenvolvimento econômico do país. Especialistas apontam benefícios como a geração de empregos, a contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB), e a retenção de água na biosfera. Francisco Higuchi, CEO da Tero Carbon e doutor em Ecologia e Manejo de Florestas Tropicais, destaca que a prática pode trazer retornos ambientais, como o aumento da macrofauna e da microbiota nas áreas plantadas.

Por outro lado, organizações como a Associação Brasileira de Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa) e a World Wide Fund for Nature (WWF Brasil) alertam para os riscos ambientais associados à silvicultura em larga escala. Entre os principais problemas, destacam-se a degradação ambiental, a extinção de espécies e a escassez de recursos hídricos. Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) de 2019 revelou que plantações de eucalipto podem levar à desertificação do solo e à poluição de recursos hídricos devido ao uso intensivo de agrotóxicos.

A monocultura florestal tende a substituir ecossistemas nativos ricos em biodiversidade, impactando negativamente a flora e a fauna locais. Higuchi concorda que florestas homogêneas plantadas apresentam menor diversidade florística e genética em comparação com florestas naturais maduras. Em regiões de baixa pluviosidade, o plantio de eucalipto pode exacerbar o ressecamento dos solos, agravando a escassez hídrica.

A mudança na legislação, que desobriga a silvicultura de atender a certos requisitos ambientais, foi recebida com críticas por várias organizações ambientais. Antes da aprovação da lei, entidades como o Instituto Socioambiental (ISA) e o Observatório do Clima (OC) solicitaram que a medida fosse revista e vetada, alegando que a silvicultura em larga escala possui um potencial poluidor significativo.

Apesar das preocupações ambientais, a silvicultura tem uma importância econômica substancial para o Brasil. O país é o maior produtor e exportador mundial de celulose, sendo este o terceiro produto agrícola mais exportado. A indústria florestal gera milhares de empregos diretos e indiretos, contribuindo significativamente para o PIB. Além disso, a prática pode ajudar a reduzir a pressão sobre florestas naturais, promovendo o cultivo de espécies específicas para fins comerciais.

Higuchi destaca que os impactos ambientais da silvicultura variam de acordo com as circunstâncias específicas e que tanto impactos positivos quanto negativos podem ocorrer. Ele ressalta que florestas plantadas podem trazer benefícios como a retenção de água e o retorno da fauna, mas reconhece que a prática deve ser gerida com cuidado para evitar a degradação ambiental.

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