Incêndios no Paraná, um caso registrado a cada 27 minutos em 2024

A cada 27 minutos, um incêndio é registrado em algum lugar no Paraná. Assim tem sido no ano de 2024, ao longo do qual já foram atendidos mais de 8,8 mil casos desse tipo, conforme o Sistema de Estatísticas de Ocorrências do Corpo de Bombeiros do Paraná (Sysbm). Em relação a anos anteriores, nota-se um aumento expressivo na média diária de ocorrências  e isso que a ‘temporada do fogo’ no estado, período em que os registros de incêndio ambiental costumam crescer expressivamente, nem teve início ainda.

De acordo com os dados oficiais, desde o início do ano até esta ultima segunda-feira (17 de junho) um total de 8.813 incêndios foram registrados no Paraná, incluindo-se todos os tipos de situações no levantamento (incêndios em vegetação, edificação, meio de transporte e outros). Para se ter uma dimensão do que isso representa, é como se, a cada dia, 53 ocorrências desse tipo fossem registradas – o equivalente a um caso a cada 27 minutos.

Na comparação com anos anteriores, verifica-se que neste ano houve um aumento expressivo nos registros. Em 2023, por exemplo, um total de 14.065 incêndios foram registrados ao longo de todo o ano, com uma média de 39 ocorrências diárias. Em 2022, já foram 11.803 incêndios, o equivalente a 32 casos por dia.

Para piorar, é de se esperar que as ocorrências de incêndio se tornem ainda mais frequentes nas próximas semanas e meses. É que o outono está chegando ao fim e o inverno, curiosamente, é um período em que as ocorrências de incêndio em vegetação (também chamados de incêndios ambientais ou incêndios florestais) crescem expressivamente no estado. Isso acontece porque a estação mais fria do ano costuma também ter um tempo mais seco, o que também deixa as matas também mais secas e fáceis de incendiar.

Nesta ultima segunda-feira (17), um incêndio de grandes proporções atingiu o barracão de fábrica de tintas no bairro Eucaliptos, em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Quatro caminhões foram mobilizados pelo Corpo de Bombeiros para combater as chamas, além de uma carreta tanque para abastecimento de viaturas e a própria viatura do oficial responsável pelo atendimento à ocorrência.

Felizmente, o incêndio não teve vítimas e todos os funcionários da empresa conseguiram sair do local antes que algo de mais grave acontecesse. A fumaça que saía do local, no entanto, pôde ser vista de longe (inclusive a partir de outras cidades da Região Metropolitana), em cenas que viralizaram nas redes sociais mostrando uma coluna de fumaça preta.

Além disso, moradores da região tiveram de lidar com momentos de espanto. Isso porque o barracão tinha muito líquido inflamável, o que não só fez com que o fogo se espalhasse rapidamente pelo local, mas também causou várias explosões.

Temporada do fogo, concentra quase metade dos incêndios florestais

Com um tempo atípico para esta época do ano, extremamente seco, o Paraná está desde a última semana em alerta vermelho para incêndios florestais. Nos últimos sete dias, inclusive, 446 focos de incêndio em vegetação foram identificados no estado. Apenas ontem, até 17 horas, foram anotadas 21 ocorrências, pelo menos duas delas na Grande Curitiba (em Rio Branco do Sul e em São José dos Pinhais). Além disso, o Bem Paraná também flagrou uma situação em Curitiba mesmo, no bairro Tatuquara, sobre a qual não havia informações no Sysbm até o fechamento da reportagem.

Tradicionalmente, inclusive, o terceiro trimestre do ano (entre os meses de julho e setembro) costuma ser o que concentra mais ocorrências de incêndio em vegetação. Prova disso é que, a cada ano, cerca de 10 mil incêndios desse tipo são registrados no estado, e quase metade dos casos (cerca de 4,9 mil registros) se concentram entre os meses de julho, agosto e setembro.

Ajudar a combater essas ocorrências, contudo, é um dever de todos. E para isso, basta seguir algumas dicas de segurança simples, como não jogar lixo em terrenos baldios ou qualquer outro lugar inapropriado, não descartar bitucas de cigarro para fora do carro e não fazer queimadas para limpeza de terrenos.Caso se depare com um pequeno foco de incêndio (nada maior que uma pequena fogueira), você pode apagá-lo com uma mangueira de jardim ou até com um balde d’água, evitando que aconteçam maiores prejuízos.

Mas se o incêndio já ganhou muita altura ou uma extensão muito avantajada, ligue imediatamente para o Corpo de Bombeiros (número 193 para emergências em todo o território nacional), informe o local, tamanho e direção para onde o incêndio está indo. Também procure um lugar seguro, longe do fogo ou da fumaça, para permanecer.

Amazônia registra recorde de incêndios em fevereiro

Imagem: PARALAXIS/Shutterstock

A Amazônia enfrenta um recorde de focos de incêndio para o mês de fevereiro, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. Com 2.924 pontos de queimadas identificados pelas imagens de satélite até o último dia 26, a quantidade é a maior desde o início da série histórica, iniciada em 1999. No segundo semestre de 2023, algumas regiões da floresta, como as do Estado do Amazonas, tiveram picos de incêndios. A própria gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que contratou mais brigadistas, mas admitiu ao Estadão que a estrutura de combate ao fogo era insuficiente. Especialistas já alertavam para os efeitos do El Niño na região, que tem a estiagem agravada pelo fenômeno climático.

Embora tenha baixado pela metade o desmatamento em 2023, o insucesso na prevenção de incêndios tem pressionado o governo, que prometeu ter a proteção ambiental como uma de suas principais bandeiras. Procurado pela reportagem, o Ministério do Meio Ambiente não havia se manifestado até a publicação deste texto.

Na comparação com todo o mês de fevereiro do ano passado (734 focos), a Amazônia registra alta de 298% de focos de incêndio em um ano. O número deste ano pode aumentar até o fechamento do mês, na quinta-feira. Os dados são atualizados todos os dias pelo Inpe.

A pior situação é registrada no Estado de Roraima, onde a fumaça chegou a encobrir partes da capital, Boa Vista, e trechos da RR-206, rodovia estadual. Nesta semana, uma comitiva de ministros – entre eles Marina Silva (Meio Ambiente), Ricardo Lewandowski (Justiça) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas) – estará na capital roraimense para inaugurar um espaço de coordenação das ações na Terra Indígena Yanomâmi. Na semana passada, um balanço do governo federal mostrou que o número de mortes de indígenas na reserva, a maior do tipo do País, aumentou um ano após Lula decretar emergência de saúde na região. Um dos principais problemas da região é o domínio de algumas áreas pelos garimpeiros ilegais.

Na maior parte da Amazônia, a estação seca começa em julho, com ápice em agosto, e vai até outubro. Nessa época, a vegetação e a matéria orgânica no solo ficam propícias à queima. Esse fator, somado ao ar menos úmido, espalha as chamas com mais rapidez e dificulta o combate. Por ser úmida, especialistas destacam que dificilmente a floresta pega fogo sozinha, e a maioria das queimadas envolve ação humana criminosa. Em grande parte dos casos, os incêndios servem para abrir novas áreas de pastagem. Hoje, a maior fonte de origem dos gases de efeito estufa lançados pelo Brasil na atmosfera é o desmate. A preservação da floresta tropical com maior biodiversidade do planeta é vista como fundamental para frear o agravamento das mudanças climáticas.

O aumento alarmante dos incêndios na Amazônia exige ações imediatas e eficazes por parte das autoridades governamentais, bem como uma conscientização global sobre a importância vital da preservação desse ecossistema crucial para o equilíbrio ambiental do planeta. A negligência e ações criminosas que levam ao desmatamento e às queimadas não apenas prejudicam a biodiversidade e as comunidades locais, mas também contribuem significativamente para as mudanças climáticas globais, exacerbando os desafios já existentes. É fundamental que sejam implementadas políticas robustas de conservação e medidas de combate ao desmatamento e às queimadas, garantindo a proteção da Amazônia e de seu valioso patrimônio natural para as gerações presentes e futuras.

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