El Niño transforma o Deserto do Atacama em um jardim florescente

O Deserto do Atacama, no Chile, é conhecido mundialmente como o lugar mais seco do planeta. Com uma paisagem árida, montanhas de areia e uma escassez extrema de água, a ideia de ver flores colorindo esse ambiente parece impossível. No entanto, o fenômeno El Niño está proporcionando uma transformação surpreendente.

Recentemente, partes do deserto foram tomadas por flores brancas e roxas, uma visão rara e espetacular que atraiu a atenção de cientistas, turistas e moradores locais. Essa mudança inesperada no ecossistema do Atacama levanta questões sobre os impactos de fenômenos climáticos em regiões extremas e sobre a resiliência da natureza diante das adversidades.

O Deserto do Atacama está localizado na região norte do Chile e se estende por cerca de 1.600 quilômetros, fazendo fronteira com o Peru e a Bolívia. Com uma média anual de chuvas de menos de 15 milímetros em algumas áreas, ele é amplamente reconhecido como o lugar mais seco do mundo. A paisagem desértica é marcada por dunas de areia, salinas, formações rochosas e vastas planícies que raramente vêem qualquer sinal de vida. É também um dos ambientes mais inóspitos da Terra, onde muitos trechos não registram chuva há décadas.

No entanto, a aridez extrema do Atacama não impede que ele seja um local de grande interesse científico. A semelhança de suas condições com as encontradas em Marte faz do deserto um campo de testes para cientistas que estudam o planeta vermelho. Além disso, o céu limpo e sem poluição luminosa faz do Atacama um dos melhores lugares do mundo para a observação astronômica.

Mesmo com todas essas características que tornam o deserto um dos locais mais inóspitos da Terra, o fenômeno El Niño conseguiu romper com o ciclo de secura, resultando no que os especialistas chamam de “deserto florido”.

El Niño é um fenômeno climático global que ocorre periodicamente no Oceano Pacífico, caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas superficiais. Esse aquecimento interfere nas correntes atmosféricas e tem consequências de grande escala, como inundações, secas e mudanças nas temperaturas globais. No caso do Chile, e mais especificamente no Deserto do Atacama, o El Niño traz chuvas inesperadas para regiões que normalmente não recebem precipitação.

Em 2023, a intensificação desse fenômeno causou uma reviravolta climática no Atacama. Áreas que não viam chuvas há muito tempo foram surpreendidas por precipitações esparsas, suficientes para ativar as sementes dormentes que estavam sob a superfície do solo desértico. Esse fenômeno é conhecido como o “deserto florido”, um evento raro, mas que desperta grande fascínio.

As flores que agora adornam partes do Atacama são predominantemente brancas e roxas, criando uma paisagem que contrasta fortemente com o usual aspecto árido da região. O ciclo de vida dessas plantas é curto, mas espetacular, já que florescem, reproduzem-se e morrem rapidamente, aproveitando o máximo de umidade que o El Niño proporcionou.

O florescimento no Deserto do Atacama é uma prova notável da resiliência da natureza. As sementes que estavam latentes por anos, ou até décadas, esperaram pacientemente pelas condições ideais para germinar. Essas plantas adaptaram-se para sobreviver em condições extremas de seca, mantendo suas sementes protegidas no solo até que a umidade necessária chegasse.

Entre as espécies que floresceram estão a Nolana paradoxa, uma planta de flores roxas, e a Cristaria, de flores brancas. Essas flores fazem parte de uma adaptação natural fascinante, em que espécies conseguem resistir à ausência quase total de água, um processo que muitos cientistas estudam como exemplo de sobrevivência em ambientes hostis.

O desabrochar das flores no Atacama não apenas embeleza o deserto, mas também atrai uma variedade de insetos polinizadores, aves e até pequenos mamíferos, temporariamente transformando o deserto em um ecossistema vibrante e ativo. Essa breve “explosão de vida” mostra como mesmo os ambientes mais extremos podem abrigar complexos ciclos de vida, prontos para emergir quando as condições se tornam favoráveis.

Embora o El Niño seja um fenômeno natural, há uma crescente preocupação de que as mudanças climáticas estejam intensificando sua ocorrência e seus efeitos. Cientistas alertam que a frequência e a intensidade de eventos como El Niño podem estar aumentando devido ao aquecimento global. Isso significa que regiões como o Atacama, historicamente secas, podem enfrentar mudanças climáticas significativas nos próximos anos, alternando entre períodos de extrema seca e chuvas inesperadas.

Essa variação climática drástica não afeta apenas o ecossistema do deserto, mas também as comunidades locais. Moradores da região do Atacama, que tradicionalmente lidam com a falta de água, podem enfrentar novos desafios com o aumento das chuvas ou, em outros momentos, com secas ainda mais intensas. A agricultura, por exemplo, uma atividade limitada no deserto, pode se beneficiar temporariamente das chuvas, mas também sofre com a imprevisibilidade do clima.

Além disso, o aumento de eventos climáticos extremos pode impactar a economia local, que depende fortemente do turismo. O “deserto florido” atrai muitos turistas, curiosos para ver esse fenômeno raro, mas períodos de intensas chuvas ou secas prolongadas podem alterar a capacidade da região de manter sua infraestrutura e atratividade.

O “deserto florido” não é apenas um fenômeno natural, mas também uma atração turística. Milhares de pessoas viajam para o Atacama durante esses raros eventos para testemunhar a transformação do deserto em um verdadeiro tapete de flores. Hotéis, guias turísticos e a economia local se beneficiam diretamente desse fluxo de turistas, que trazem um impulso econômico temporário para a região.

No entanto, o aumento do turismo também exige uma atenção especial à conservação ambiental. A presença de um grande número de visitantes pode, por exemplo, causar danos às flores e ao solo sensível do deserto. Autoridades locais, cientes da necessidade de proteger esse fenômeno, implementaram medidas para garantir que o turismo seja sustentável, permitindo que as futuras gerações também possam desfrutar do deserto florido.

Foto: .sustenare.com.br

Centro gestor alerta para seca severa este ano na Amazônia

As chuvas, abaixo da média em grande parte da região, somadas às previsões de temperaturas acima da normalidade, já são motivo de preocupação para as autoridades com o período de estiagem na Amazônia em 2024. O Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) fez um alerta aos órgãos de defesa civil para necessidade de medidas preventivas e de assistência às populações afetadas.

De acordo com o analista do Censipam Flavio Altieri, os estudos apontam para uma seca muito semelhante à do ano passado na região. “A gente tem os efeitos do fenômeno El Niño que ainda interferem na região e mantêm o aquecimento do [oceano] Atlântico Norte e Sul que também interferem em pouca chuva na Amazônia.”

Nos últimos 12 meses até abril deste ano, o Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico registrava déficit de 27% nos volumes de chuvas. Segundo o superintendente de Operações de Eventos Críticos, Alan Vaz Lopes, os níveis de água e a vazão dos rios da Amazônia, embora tenham grandes volumes, são muito sensíveis à falta de chuvas. “Um pequeno déficit de chuva em determinado momento provoca uma grande redução de níveis de água e de escoamento dos rios. É por isso que a gente vê rios enormes tendo uma redução muito rápida nos níveis de água.”

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Para os especialistas, os efeitos mais imediatos da seca severa podem afetar de forma intensa a navegabilidade nos rios. “Principalmente as populações mais isoladas são afetadas, porque, com rios sem navegabilidade, passam a enfrentar dificuldade de locomoção para aquisição de material de consumo”, explica Altieri.

A economia da região também poderá sofrer problemas, diz o analista do Censipam. Somente nos rios Solimões, Amazonas, Madeira e Tapajós, há 4.695 quilômetros em extensão de hidrovias, pelas quais foram transportadas, no ano passado, 78,2 milhões de toneladas de cargas, somando 55% do que foi movimentado dentro do país desta forma. “No caso das hidrovias do Rio Madeira, quando atingem uma cota abaixo de 4 metros, já se interrompe a navegação noturna. Conforme vai baixando, pode chegar à interrupção completa. A mesma coisa acontece na Bacia do Tapajós”, alerta Altieri.

O abastecimento de energia do país é outro setor sensível, já que a região concentra 17 usinas hidrelétricas responsáveis por 23,6% do consumo no Sistema Interligado Nacional. Embora outras estruturas de geração possam suprir uma eventual interrupção, o remanejamento sempre causa algum impacto para o país.

A sazonalidade da seca na Amazônia ocorre em etapas desiguais na região. Portanto, os indicativos variam conforme o período de estiagem, que costuma atingir o ápice nos meses de setembro e novembro. De acordo com Altieri, nesses meses, a atenção é redobrada, mas atualmente, ainda não há indicativo para maiores preocupações com o abastecimento energético.

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“A maior parte das hidrelétricas está nos rios da Bacia Araguaia-Tocantins e, apesar de o nível estar mais baixo do que no ano passado, os níveis ainda estão satisfatórios para geração de energia”, afirmou  Altieri.

Por outro lado, é necessário planejamento em termos de abastecimento de alimentos e água potável, já que a região tem 164 pontos de captação de águas superficiais que também podem ser afetados pela seca severa. “Como o rio é a via de acesso para a maioria das comunidades mais isoladas é interessante um planejamento para que mantimentos, como alimentos e água potável, possam ser transportados com antecedência e os impactos sejam menores para essas populações”, acrescentou.

Fonte: agencia brasil

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