O setor florestal brasileiro continua a desempenhar um papel fundamental na economia do país. Em 2023, a Pesquisa Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS) revelou um recorde no valor da produção florestal, alcançando R$ 37,9 bilhões, um aumento de 11,2% em comparação ao ano anterior. Apesar de o crescimento ser ligeiramente inferior ao registrado em 2022, quando foi de 13,4%, esses números mostram a força do setor, principalmente impulsionado pela silvicultura.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) destacou a relevância da silvicultura, que mais uma vez superou a extração vegetal, mantendo uma tendência que persiste desde 1998.
A silvicultura, definida como a exploração de florestas plantadas para fins comerciais, representa a maior parte do valor da produção primária florestal no Brasil. Em 2023, a participação da silvicultura atingiu 83,6%, enquanto a extração vegetal, que envolve a exploração de recursos vegetais naturais, respondeu por apenas 16,4% desse total. Esse desequilíbrio entre os dois setores tem se mantido desde o final dos anos 1990 e reflete a crescente importância da silvicultura para o mercado nacional e internacional.
O valor da produção da silvicultura registrou um aumento de 13,6% em 2023, confirmando uma tendência de crescimento constante do setor. Os produtos madeireiros foram os principais responsáveis por esse avanço, representando 98,2% do valor total gerado pela silvicultura. Entre esses produtos, destaca-se a madeira destinada à fabricação de papel e celulose, que teve um crescimento de 19,4% no valor da produção, além da lenha, que apresentou o maior crescimento entre os produtos madeireiros, com aumento de 20,6%.
A produção de madeira continua sendo o carro-chefe da silvicultura no Brasil. Em 2023, o setor madeireiro teve um aumento de 15,4% no valor da produção, impulsionado por uma demanda crescente, tanto no mercado interno quanto no externo. Um dos principais destinos da madeira extraída das florestas plantadas é a indústria de papel e celulose, um segmento em que o Brasil ocupa uma posição de destaque mundial.
O valor da produção de madeira para papel e celulose alcançou R$ 11,7 bilhões, um crescimento de 19,4% em relação ao ano anterior. Esse segmento é estratégico para a economia florestal do país, uma vez que o Brasil é um dos maiores exportadores de celulose do mundo. Em 2023, o país exportou 19,1 milhões de toneladas de celulose, gerando receitas de US$ 7,9 bilhões, apesar de uma leve retração de 5,3% nas exportações frente ao ano anterior.
Além do papel e celulose, outros produtos madeireiros, como a madeira em tora para finalidades diversas e o carvão vegetal, também apresentaram crescimento. A madeira em tora teve um aumento de 16,2% no valor da produção, enquanto o carvão vegetal, que ocupa a terceira posição no setor madeireiro, cresceu 6,5% em 2023.
Em contrapartida, o setor de extração vegetal, que engloba a coleta de recursos naturais como madeira, frutos e oleaginosas, apresentou um desempenho menos expressivo em 2023. O valor da produção de extração vegetal teve uma ligeira diminuição de R$ 132 mil em relação a 2022. Essa retração, embora pequena, contrasta com o crescimento observado nos anos anteriores, quando o setor registrou avanços consecutivos, especialmente em 2021, com um aumento de 31,6%.
Entre os produtos extraídos, os madeireiros ainda dominam, representando 64,2% do valor total da produção de extração vegetal. No entanto, os produtos alimentícios, como o açaí e a erva-mate, também se destacam, contribuindo com 29,9% do valor da produção. Esses produtos são especialmente relevantes para a economia de regiões como o Norte e o Sul do país, onde o extrativismo vegetal desempenha um papel importante na geração de renda e empregos.
A produção florestal no Brasil está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, que juntas foram responsáveis por 69,1% do valor total gerado pelo setor em 2023. Quando se trata especificamente da silvicultura, essa concentração é ainda maior, com 79,7% do valor da produção proveniente dessas duas regiões. Minas Gerais é o estado líder em produção silvicultural, com R$ 8,3 bilhões, representando 26% do total nacional. O Paraná vem em segundo lugar, com R$ 5,1 bilhões, ou 16% do total.
A área plantada com florestas comerciais no Brasil totalizou 9,7 milhões de hectares em 2023. Dessas áreas, 7,6 milhões de hectares são de eucalipto, uma espécie amplamente utilizada pela indústria de papel e celulose. O eucalipto predomina na Região Sudeste, especialmente em Minas Gerais, que concentra 44,7% das áreas plantadas com essa espécie. No Sul, por outro lado, as plantações de pinus dominam, correspondendo a 85,5% das áreas florestais plantadas na região.
O Norte e o Nordeste do país também desempenham papéis importantes na produção florestal, especialmente na extração vegetal. O açaí, por exemplo, é um dos produtos mais valiosos extraídos na Região Norte, gerando R$ 853,1 milhões em 2023. No Nordeste, o extrativismo madeireiro e a produção de produtos alimentícios, como o pequi e a castanha-do-pará, são destaques.
Embora a silvicultura seja o principal motor da produção florestal no Brasil, a diversificação do setor é um fator essencial para garantir sua sustentabilidade a longo prazo. A extração de produtos não madeireiros, como alimentos e oleaginosas, é uma atividade econômica vital em várias regiões do país, especialmente para pequenas comunidades que dependem do extrativismo para sua subsistência.
Em 2023, o açaí e a erva-mate foram os produtos extrativos não madeireiros mais valiosos, gerando R$ 853,1 milhões e R$ 589,6 milhões, respectivamente. Esses produtos são fundamentais para as economias locais e para a preservação da biodiversidade nas regiões em que são extraídos. Além disso, a produção de ceras, como a cera de carnaúba, e de oleaginosas, como a castanha-do-pará, também contribuem para a diversidade do setor extrativista.
Embora o setor florestal brasileiro tenha apresentado crescimento sólido em 2023, há desafios significativos a serem enfrentados nos próximos anos. Um deles é a necessidade de equilibrar a expansão da silvicultura com a preservação ambiental. O aumento das áreas plantadas, especialmente com espécies exóticas como o eucalipto e o pinus, pode gerar impactos ambientais, como a redução da biodiversidade e a diminuição da disponibilidade de água em algumas regiões.
Outro desafio importante é a valorização da extração vegetal. Embora o setor extrativista tenha um papel fundamental na preservação das florestas naturais e na geração de renda para comunidades tradicionais, seu crescimento tem sido limitado nos últimos anos. Incentivar práticas sustentáveis de extrativismo e melhorar a infraestrutura para a comercialização de produtos extrativos são medidas essenciais para garantir a viabilidade desse setor a longo prazo.