Obras raras ganham espaço especial e revelam verdadeiros tesouros literários

Imagine descobrir uma obra com quase 500 anos de história ou encontrar um livro tão pequeno que cabe na palma da mão, mas que precisa de uma lupa para ser lido. Esses são apenas alguns dos tesouros guardados na Seção de Obras Raras da Biblioteca Pública do Paraná (BPP), em Curitiba.

Esse espaço especial, que não recebe visitas diárias, abriga um acervo fascinante com livros antigos, primeiras edições e exemplares que sobreviveram ao tempo e até à censura. São peças únicas, que preservam não só a literatura, mas também parte da memória cultural do Brasil e do mundo.

Com cuidados rigorosos e uma estrutura adequada, a BPP se tornou uma referência em preservação literária. No entanto, nem sempre foi assim. Durante anos, essas obras ficaram esquecidas no subsolo, em caixas sem catalogação.

Apenas em 2008, com a criação de uma divisão específica para essas coleções, o acervo começou a receber o tratamento que merece. Hoje, a biblioteca continua ampliando essa coleção, que é tão viva quanto a história que carrega.

Durante muito tempo, a Biblioteca Pública do Paraná não tinha a infraestrutura necessária para preservar suas obras raras. Os livros mais valiosos e antigos eram mantidos no subsolo, longe dos olhos do público e sem a devida catalogação. Esse cenário começou a mudar em 2008, quando a BPP criou a Divisão de Coleções Especiais. Esse foi o primeiro passo para organizar e preservar obras que estavam esquecidas e garantir que pudessem ser aproveitadas por pesquisadores no futuro.

Em 2017, durante uma reforma importante na biblioteca, as obras raras ganharam uma nova casa: uma sala anexa à Seção de Filosofia. As prateleiras de madeira foram trocadas por estantes de aço, para evitar cupins, e o espaço passou a ter controle de temperatura e luz para impedir a degradação dos materiais. O ambiente é mantido entre 20ºC e 22ºC, e a iluminação é cuidadosamente controlada para evitar o crescimento de fungos. Livros extremamente sensíveis ficam guardados em cofres e só podem ser manuseados com luvas, máscaras e, em alguns casos, aventais.

O acervo de obras raras da BPP é uma verdadeira viagem no tempo. Entre as joias mais preciosas está um exemplar de Orlando Furioso, escrito pelo italiano Ludovico Ariosto e publicado em 1584. Guardado com todo o cuidado em um cofre, esse poema épico é um dos itens mais antigos da coleção e um dos mais valiosos do acervo.

Além de livros históricos, a BPP abriga uma coleção de 2.500 ex-libris – rótulos que identificam os donos dos livros. Essa coleção, que pertenceu ao colecionador Ely de Azambuja Germano, reúne ex-libris de personalidades importantes da história brasileira e mostra a trajetória dos exemplares ao longo dos anos.

Entre as curiosidades mais impressionantes estão os minilivros, com apenas 4 cm por 6 cm, menores que a palma da mão. Um desses minúsculos exemplares é uma edição do clássico Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes. A leitura desses livrinhos é um desafio: as letras são tão pequenas que é preciso usar lupa para conseguir enxergar as palavras.

Como as obras raras chegam à biblioteca?

A coleção especial da BPP cresce semana após semana, graças a doações e descobertas internas. Muitas vezes, famílias de historiadores e colecionadores doam suas bibliotecas particulares após o falecimento de um ente querido. Outras vezes, instituições públicas que estão encerrando acervos encaminham seus livros para a biblioteca. Há ainda livros que, por serem muito antigos ou se tornarem raros ao longo do tempo, deixam de ser emprestados e passam a integrar a coleção especial.

“Alguns livros ficam tanto tempo na biblioteca que acabam se tornando parte da nossa história”, explica Lidiamara Gross, responsável pelo setor de Coleções Especiais. Cada novo livro que chega passa por uma avaliação criteriosa e, se necessário, por processos de restauração e higienização antes de ser incorporado ao acervo. Assim, a biblioteca garante que esses materiais se mantenham preservados por muitos anos.

Preservação cuidadosa para proteger memórias

Preservar obras tão delicadas é uma tarefa que exige atenção e paciência. A equipe da BPP segue padrões rigorosos de conservação, com base nas diretrizes da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. A temperatura e a umidade do ambiente são constantemente monitoradas para evitar danos, e a exposição à luz natural é reduzida ao mínimo. Além disso, muitos dos livros mais antigos e frágeis são manuseados apenas por pesquisadores, que precisam seguir todas as orientações de segurança.

Para garantir que as obras raras permaneçam em boas condições ao longo dos anos, cada item passa por um processo de higienização e envelopamento em poliéster. O acesso ao acervo é restrito e reservado a pesquisas acadêmicas, mas a biblioteca planeja, no futuro, digitalizar parte das obras para permitir que mais pessoas possam conhecer essas preciosidades.

Com um acervo de cerca de 750 mil itens, entre livros, revistas, mapas e outros materiais, a Biblioteca Pública do Paraná é muito mais do que um lugar para empréstimos. É um espaço de memória e cultura, que conecta gerações e oferece conhecimento a milhares de pessoas. A cada mês, mais de 16 mil visitantes passam pela BPP, e cerca de 500 empréstimos são realizados todos os dias.

A biblioteca promove eventos culturais, exposições, oficinas e atividades para todas as idades, consolidando seu papel como um dos principais centros culturais do Brasil. Mas é na Seção de Obras Raras que a BPP preserva parte da história literária e cultural do Paraná e do mundo, garantindo que essas memórias não se percam com o tempo.

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