Congresso debate futuro do leite com foco em inovação

De 24 a 27 de setembro, Florianópolis será o ponto de encontro para mais de mil especialistas, pesquisadores e profissionais do setor de lácteos, que se reunirão para o 10° Congresso Brasileiro de Qualidade do Leite. O evento, organizado pelo Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite (CBQL), com o apoio da Epagri e da Udesc, será realizado no Centro de Eventos Governador Luiz Henrique da Silveira, localizado na região norte da capital catarinense.

O tema central deste ano, “Qualidade do leite: um olhar para o futuro, inovação e sustentabilidade”, promete trazer reflexões profundas e debates sobre os rumos da produção de leite no Brasil.

A qualidade do leite é um tema crucial para a saúde pública e a segurança alimentar, além de representar um importante pilar no desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva. O evento proporcionará uma série de minicursos, palestras e discussões que abordarão as mais recentes inovações tecnológicas e práticas sustentáveis aplicadas à produção láctea. Neste cenário, o congresso desponta como uma oportunidade única para compartilhar conhecimentos e alinhar o setor às novas demandas de mercado e da sociedade.

O leite é um dos alimentos mais consumidos no Brasil e no mundo, e a qualidade desse produto tem impacto direto na saúde pública. Segundo o presidente do congresso, Vagner Miranda Portes, que também é pesquisador da Epagri e gerente do Centro de Pesquisa para a Agricultura Familiar em Chapecó (Epagri/Cepaf), o debate sobre a qualidade do leite transcende questões técnicas, abrangendo também a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável. Para ele, o congresso será uma oportunidade para discutir os avanços científicos e tecnológicos que estão moldando o futuro da produção de leite no Brasil.

O setor leiteiro brasileiro enfrenta uma série de desafios, desde a produção em pequena escala até a gestão de grandes indústrias. Com a crescente demanda por produtos mais seguros e de melhor qualidade, a inovação tecnológica e as práticas sustentáveis ganham destaque como soluções para aumentar a produtividade, melhorar a qualidade do leite e garantir a sustentabilidade de toda a cadeia produtiva.

Um dos principais temas do 10° Congresso Brasileiro de Qualidade do Leite é a integração entre inovação tecnológica e sustentabilidade. A produção de leite é uma atividade que demanda grandes quantidades de recursos naturais, como água e pastagem, além de gerar emissões de gases de efeito estufa. Nesse contexto, o evento terá como foco as práticas sustentáveis que podem ser adotadas pelos produtores para reduzir o impacto ambiental da atividade leiteira.

Entre as inovações tecnológicas que serão debatidas estão novos métodos de ordenha, tecnologias para monitoramento da saúde animal e melhorias na gestão de resíduos. Além disso, serão discutidas estratégias para diminuir a pegada de carbono da produção leiteira, garantindo que o setor avance em direção a uma economia de baixo carbono.

Minicursos e palestras abordarão tópicos como a contagem de células somáticas, que é um indicador da qualidade do leite, e o dimensionamento de equipamentos de ordenha, que é crucial para garantir a eficiência na produção. Esses temas são de extrema importância para os produtores que buscam aumentar a produtividade sem comprometer a qualidade do leite ou o bem-estar dos animais.

Santa Catarina é um dos estados mais importantes do Brasil na produção de leite, com uma participação significativa no Valor da Produção Agropecuária (VPA). De acordo com dados do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), a produção de leite ocupa o terceiro lugar na formação do VPA do estado, gerando R$ 7,9 bilhões em receitas em 2023.

A maior parte dessa receita vem de cerca de 22,3 mil produtores comerciais de leite, que estão distribuídos por 255 dos 295 municípios catarinenses. Esse número reflete a importância do setor para a economia local, especialmente para as regiões rurais, onde a produção de leite sustenta milhares de famílias. Além disso, o leite catarinense tem se destacado por sua alta qualidade, o que o torna competitivo no mercado nacional e internacional.

Segundo o Observatório Agro Catarinense, nos últimos anos a produção de leite no estado cresceu significativamente, impulsionada principalmente pelo aumento da produtividade dos rebanhos. De 2013 a 2022, a produção catarinense de leite cresceu 8,1%, um avanço bem superior à média nacional, que foi de apenas 1% no mesmo período. Isso demonstra a capacidade de inovação e adaptação dos produtores catarinenses, que têm conseguido aumentar a produção mesmo com uma redução no número de vacas ordenhadas.

Apesar dos avanços tecnológicos e do crescimento da produtividade, o setor leiteiro ainda enfrenta grandes desafios. Um dos principais problemas discutidos no congresso será a elevada Contagem de Células Somáticas (CCS), um fator que impacta diretamente a qualidade do leite. A CCS é um indicativo da saúde do rebanho e está associada à presença de mastite nas vacas, uma doença que pode reduzir a produção e comprometer a qualidade do leite.

Outro tema relevante será a biosseguridade nas fazendas leiteiras, que visa prevenir doenças e garantir a saúde do rebanho. Com a crescente demanda por produtos lácteos de alta qualidade, as certificações também ganham destaque. As certificações são importantes para garantir que os produtos atendam a padrões de qualidade e segurança, tanto para o mercado interno quanto para exportação.

A inovação na gestão e a aplicação de tecnologias avançadas também serão abordadas no evento, com o objetivo de otimizar os processos de produção, reduzir desperdícios e melhorar a eficiência das fazendas leiteiras. O uso de tecnologias de monitoramento remoto, por exemplo, permite que os produtores acompanhem a saúde dos animais em tempo real, identificando problemas antes que eles se tornem graves.

Santa Catarina tem se destacado no cenário nacional pela qualidade do leite produzido e pela capacidade de suas indústrias de processar grandes volumes de leite cru. Em 2023, as indústrias catarinenses adquiriram 3,2 bilhões de litros de leite cru, o que representa 13% do total adquirido no Brasil, colocando o estado na terceira posição entre os maiores produtores do país, atrás apenas de Minas Gerais e Paraná.

Pela primeira vez, as indústrias de Santa Catarina superaram as do Rio Grande do Sul na aquisição de leite, um feito significativo que reforça a importância do estado no setor leiteiro nacional. Nos primeiros seis meses de 2024, esse cenário se repetiu, com as indústrias catarinenses registrando um aumento de 3,5% na aquisição de leite cru em comparação com o mesmo período de 2023.

Esse crescimento reflete o comprometimento dos produtores e das indústrias em melhorar continuamente a qualidade do leite e a eficiência dos processos de produção. Além disso, a posição geográfica de Santa Catarina, próxima a importantes centros de consumo e exportação, oferece uma vantagem competitiva para o estado, que tem se consolidado como um dos principais polos de produção de leite no Brasil.

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