A escassez de cacau pode mudar o Halloween em 2024

Este Halloween pode trazer uma surpresa inesperada para aqueles que esperam encher suas sacolas de chocolates. Em 2024, a alta expressiva no preço do cacau está pressionando a produção e encarecendo as barras e bombons nas prateleiras. Desde o início do ano, o preço do cacau mais que dobrou, impactando diretamente o mercado global de confeitos.

Isso obrigou grandes empresas a adotar estratégias criativas para contornar a escassez e a alta dos custos, incluindo reduzir o tamanho dos produtos e aumentar a oferta de doces sem chocolate.

Enquanto os consumidores se preparam para o Halloween, confeiteiros e empresas lutam para equilibrar preços e manter a atratividade de seus produtos. Com a escassez de cacau se estendendo pelo menos até 2025, as mudanças podem se tornar a nova realidade para os amantes de doces.

David Branch, gerente do Agri-Food Institute do Wells Fargo, explica que o cacau não é uma cultura que pode ser cultivada em qualquer lugar. Ele requer condições muito específicas de solo e temperatura para prosperar. A África Ocidental é responsável por mais de 70% do fornecimento global, mas a região vem enfrentando uma série de eventos climáticos adversos que prejudicaram gravemente a produção nos últimos anos.

Nos últimos três anos, o fenômeno climático El Niño elevou as temperaturas e trouxe períodos de seca, prejudicando o desenvolvimento das plantações de cacau. Além disso, chuvas intensas propagaram a “podridão parda”, um fungo que atinge as árvores e reduz drasticamente a produtividade. Essas condições climáticas extremas provocaram uma queda de 14,2% na produção global de cacau, segundo a Organização Internacional do Cacau.

Com o custo da matéria-prima em alta, empresas como a Hershey tiveram que rever suas estratégias para manter a rentabilidade. Em agosto, a empresa relatou uma queda de 48,7% no lucro operacional em comparação com o ano anterior, atingindo US$ 287,8 milhões. A presidente da Hershey, Michele Buck, admitiu que os preços do cacau “não são sustentáveis” e alertou para a necessidade de ajustes nos próximos meses.

Outras empresas do setor estão adotando medidas similares, como reduzir o tamanho das embalagens sem alterar o preço — uma prática conhecida como “reduflação”. Isso significa que, embora os consumidores continuem pagando o mesmo valor, receberão menos produto. Em sacolas de doces variados, por exemplo, a quantidade total pode ser menor, mas com o preço mantido.

Apesar das dificuldades, o chocolate não deve desaparecer do Halloween. A Mars, uma das gigantes do setor, afirma que o chocolate ainda é a preferência dos consumidores, mas admite que precisará diversificar sua oferta para manter a atratividade dos produtos. Além da redução de tamanhos, algumas empresas estão explorando novos sabores e substituições.

“Uma alternativa é trocar parte do chocolate por recheios como biscoito ou nozes, reduzindo a necessidade de cacau”, explica Sally Lyons Wyatt, consultora-chefe de bens de consumo na Circana. Essa abordagem permite que as empresas ofereçam produtos atrativos com menor dependência do cacau, ao mesmo tempo em que testam a receptividade dos consumidores a novos perfis de sabor.

Além disso, dados do Relatório do Estado do Tratamento de 2024 da National Confectioners’ Association (NCA) indicam que os doces sem cacau têm ganhado espaço. As vendas em dólar de produtos sem chocolate cresceram 12,1% no último ano, superando o aumento de 5,8% nas vendas de chocolates.

Embora a situação atual seja preocupante, analistas veem uma luz no fim do túnel. Com a expectativa de um clima mais favorável para a próxima safra, a oferta de cacau deve aumentar nos próximos meses. David Branch acredita que essa melhoria pode começar a reduzir os preços no mercado global. “Estamos observando condições climáticas mais favoráveis para a safra deste ano, o que deve ajudar a normalizar a oferta e aliviar a pressão nos preços”, explica.

No entanto, especialistas alertam que os preços do cacau devem permanecer altos até pelo menos setembro de 2025, o que significa que o mercado de confeitos precisará continuar inovando para lidar com o cenário.

Embora o cacau continue sendo um ingrediente essencial, o Halloween deste ano pode ter um perfil um pouco diferente. Além das barras de chocolate tradicionais, os consumidores encontrarão mais opções de guloseimas sem chocolate, como balas, pirulitos e doces com recheios alternativos. Para muitas empresas, essa é uma oportunidade de testar novos produtos e entender melhor as preferências dos consumidores em tempos de escassez.

Sally Lyons Wyatt ressalta que, embora as pessoas possam comprar menos chocolate do que nos anos anteriores, ele ainda será um dos protagonistas da temporada. “O chocolate continua sendo a categoria de maior venda no setor de confeitos, e o Halloween ainda terá muito dele nas sacolas das crianças”, afirma.

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