O mercado de câmbio no Brasil tem se mostrado sensível às variações internacionais, especialmente no que diz respeito ao comportamento do dólar. Nesta quinta-feira (26), a moeda norte-americana encerrou o dia em queda firme, acompanhando o movimento global e refletindo uma série de decisões econômicas internacionais, como a postura do Federal Reserve (Fed) e a confirmação de novos estímulos econômicos na China.
No mercado interno, o impacto também foi sentido com a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central, que trouxe atualizações importantes sobre as projeções de inflação no país.
A cotação do dólar terminou o dia com uma queda de 0,57%, sendo negociado a R$ 5,4447. A desvalorização acumulada na semana chegou a 1,38%, e no mês de setembro, o dólar já acumula perdas de 3,38% em relação ao real. Esse movimento reforça a tendência de enfraquecimento do dólar observada globalmente e também no mercado doméstico, que segue atento aos ajustes de política monetária e às expectativas de crescimento econômico em economias-chave, como a norte-americana e a chinesa.
A trajetória de queda do dólar no Brasil nesta quinta-feira foi impulsionada principalmente pelo cenário econômico externo. Desde a abertura do mercado, a moeda norte-americana esboçou movimento de desvalorização, chegando a operar abaixo de R$ 5,40 em determinados momentos. A mínima do dia foi registrada em R$ 5,4051, e a máxima em R$ 5,4542, demonstrando a volatilidade característica do câmbio em um período de incertezas econômicas.
O principal fator que influenciou esse comportamento foi a especulação sobre as próximas decisões do Federal Reserve (Fed), que é o banco central dos Estados Unidos. Após uma sequência de aumentos na taxa de juros para conter a inflação norte-americana, o mercado passou a precificar a possibilidade de novos cortes nos juros, que poderiam ocorrer em novembro. Entretanto, a alta nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano (Treasuries), principalmente dos prazos mais curtos, trouxe incertezas sobre a real disposição do Fed em continuar com a flexibilização monetária.
Além disso, dados econômicos dos EUA divulgados durante a manhã sugeriram uma economia mais resiliente do que o esperado, o que reduziu as apostas de um corte agressivo nos juros. Esse fator fez com que o dólar moderasse suas perdas ao longo do dia, mas não impediu a queda significativa no fechamento.
Outro elemento que contribuiu para a desvalorização do dólar frente ao real e outras moedas emergentes foi o compromisso assumido pelas principais lideranças da China em adotar novos estímulos econômicos para impulsionar o crescimento. O anúncio gerou um efeito positivo nos preços das commodities metálicas, como cobre e minério de ferro, que tiveram forte valorização. Como resultado, moedas de países exportadores de produtos básicos, como o peso chileno e o dólar australiano, também registraram ganhos.
A valorização das commodities tende a favorecer as moedas de países emergentes, incluindo o real, já que as exportações brasileiras são fortemente baseadas em produtos como soja, petróleo e minério de ferro. A sinalização de um ambiente econômico mais favorável na China reacendeu o apetite por risco e levou a uma valorização generalizada dos ativos desses países.
No mercado doméstico, as atenções dos investidores se voltaram para o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado pelo Banco Central. O documento trouxe revisões para cima das expectativas de inflação, estendendo o “horizonte relevante” da política monetária até 2026. A projeção da inflação para 2027 também se manteve acima da meta de 3%, o que indica a possibilidade de uma taxa Selic mais elevada por um período mais prolongado.
Em termos práticos, uma Selic mais alta tende a ser positiva para o real, pois aumenta o diferencial de juros entre o Brasil e outros países, atraindo investidores em busca de retornos mais altos. A combinação de uma política monetária mais rígida no Brasil com a possibilidade de cortes nos juros nos EUA cria um ambiente favorável para o fortalecimento do real frente ao dólar. Contudo, essa relação é complexa e depende de uma série de fatores externos e internos que afetam as expectativas dos agentes de mercado.
As perspectivas para a cotação do dólar nos próximos meses continuam incertas e dependem de uma série de variáveis. Entre elas, destacam-se a evolução da política monetária nos EUA, o desempenho econômico das principais economias globais e as expectativas em relação à economia brasileira. Com o Fed ainda mantendo um discurso de cautela e avaliando o comportamento da inflação e do mercado de trabalho, os próximos passos do banco central americano serão decisivos para a trajetória do câmbio.
A possibilidade de novos cortes de juros nos EUA, caso se concretize, tende a beneficiar o real, pois reduziria o diferencial de juros entre as duas economias, tornando o Brasil mais atrativo para investidores internacionais. Por outro lado, se o Fed adotar uma postura mais conservadora e mantiver os juros elevados por mais tempo, o dólar pode voltar a se valorizar globalmente, impactando a cotação no Brasil.
Além disso, a política econômica da China e a evolução do setor de commodities também desempenham um papel importante. Se os estímulos econômicos chineses se mostrarem eficazes para impulsionar a demanda por produtos básicos, isso pode favorecer a moeda brasileira. Entretanto, qualquer sinal de desaceleração econômica mais forte na China pode ter o efeito oposto, pressionando o real.