A história dos vikings sempre foi cercada por mistério e fascínio, principalmente por suas explorações e conquistas pelo norte da Europa e além. Entre os muitos tesouros descobertos que contam essa saga, o tesouro de Galloway, encontrado na Escócia, destaca-se como uma das mais impressionantes relíquias do período. Contudo, uma nova revelação surpreendeu os especialistas e trouxe uma reviravolta inesperada à compreensão das relações comerciais e culturais desses navegadores nórdicos: um vaso milenar, inicialmente atribuído à cultura viking, foi identificado como originário da Ásia Ocidental, especificamente do Império Sassânida, que ocupou a região entre os séculos III e VII d.C.
Esta descoberta lança luz sobre as vastas rotas comerciais e as interações culturais complexas entre civilizações aparentemente distantes. A jornada desse vaso de prata, que viajou do Irã até o sudoeste da Escócia, é uma história fascinante que redefine o entendimento das conexões globais na era viking.
O tesouro de Galloway e o achado surpreendente
O tesouro de Galloway, descoberto em 2014 por um detector de metais em um campo na Escócia, é considerado um dos mais importantes conjuntos arqueológicos associados à era viking. Composto por mais de 100 itens, incluindo ouro, prata, broches, pulseiras e joias, o tesouro ofereceu uma visão rica sobre as posses dos vikings na região. Entre os objetos mais notáveis estava um vaso de prata, incrustado em tecidos, que, graças a sua excelente preservação, intrigou pesquisadores desde o primeiro momento.
Inicialmente, acreditava-se que o vaso, datado entre os séculos IX e X, fosse uma criação viking ou, pelo menos, uma peça europeia da mesma época. Porém, antes da primeira exposição pública do tesouro, uma série de análises mais detalhadas, incluindo exames de raios-X e limpeza a laser, revelou uma história muito mais complexa.
Os símbolos e padrões gravados na superfície do vaso – coroas, altares de fogo, leopardos e tigres – não eram características da iconografia viking ou de qualquer outra cultura europeia da época. Em vez disso, tais detalhes são diretamente relacionados ao zoroastrismo, a religião predominante do Império Sassânida, que dominava a Ásia Ocidental entre os anos de 224 e 651 d.C. A descoberta mudou drasticamente a perspectiva dos arqueólogos, que agora sabem que o vaso tem uma origem asiática, tornando-se um achado único no contexto europeu.
A análise que revelou o segredo
A revelação da verdadeira origem do vaso foi feita graças a uma combinação de técnicas arqueológicas modernas. A equipe de pesquisa do Museu Nacional da Escócia, liderada por Martin Goldberg, realizou uma série de exames com raios-X, que permitiram identificar detalhes ocultos sob a corrosão acumulada ao longo dos séculos. A limpeza a laser ajudou a desobstruir essas camadas, revelando os ricos padrões decorativos que adornam o vaso.
Além dos símbolos associados ao zoroastrismo, as características físicas do vaso, como a composição de sua liga metálica, forneceram mais evidências de sua origem asiática. Feito de uma combinação de prata e cobre de alta pureza, o vaso apresenta características típicas da prata extraída de minas sassânidas, como a mina de Nakhlak, localizada no centro do Irã.
A pesquisa também comparou o vaso com moedas e outros objetos sassânidas conhecidos, confirmando ainda mais sua origem. Esta análise detalhada foi um marco no estudo dos intercâmbios culturais entre os vikings e as civilizações asiáticas, sugerindo que o vaso pode ter chegado à Escócia por meio de uma rede complexa de rotas comerciais que se estendiam pela Europa, Oriente Médio e Ásia Central.
O caminho do vaso: como um artefato asiático chegou à Escócia?
A jornada do vaso do Império Sassânida até a Escócia viking é uma história intrigante, que oferece novas perspectivas sobre as conexões globais da época. Embora os vikings sejam conhecidos principalmente por suas incursões e explorações na Europa, seus contatos com o Oriente Médio e a Ásia são menos conhecidos, mas não menos significativos.
Os vikings eram hábeis comerciantes, e suas viagens não se limitavam às costas da Europa. Eles estabeleceram rotas comerciais que iam da Escandinávia até Bizâncio e o Império Islâmico. Cidades como Bagdá e Constantinopla eram centros comerciais vitais, onde mercadorias exóticas como tecidos, especiarias e metais preciosos eram trocados. É possível que o vaso tenha feito parte dessas trocas, viajando pelas mãos de comerciantes até alcançar as ilhas britânicas.
A teoria mais provável é que o vaso tenha sido adquirido pelos vikings em algum ponto dessas rotas comerciais, possivelmente como parte de um saque ou como item de luxo adquirido por uma família poderosa. O fato de o vaso ter sido encontrado entre outros itens valiosos no tesouro de Galloway sugere que ele era altamente valorizado e pode ter sido um símbolo de prestígio dentro da sociedade viking.
A importância simbólica do vaso no contexto viking
Embora o vaso tenha origem no Império Sassânida, sua presença no tesouro de Galloway levanta questões sobre o seu significado no contexto viking. Os vikings eram conhecidos por valorizar objetos exóticos e de alta qualidade, muitas vezes incorporando-os em suas práticas culturais e rituais.
A análise do tesouro de Galloway sugere que o vaso pode ter sido um item cerimonial, usado em eventos ou rituais importantes. A própria prática de enterrar objetos valiosos, como parte de um tesouro, era comum entre os vikings, que acreditavam que esses itens acompanhariam os mortos na vida após a morte. Assim, o vaso sassânida pode ter adquirido um novo significado dentro da cultura viking, transcendendo sua origem original para se tornar um símbolo de poder e riqueza no mundo nórdico.
Outras descobertas intrigantes do tesouro de Galloway
Além do vaso sassânida, o tesouro de Galloway contém outros itens que intrigam os arqueólogos e oferecem mais pistas sobre as interações culturais e religiosas dos vikings. Entre os objetos mais notáveis está uma gravação rúnica em um bracelete de prata, com o nome ‘Egbert’, um nome de origem anglo-saxã. Este item sugere uma conexão com a Inglaterra medieval, reforçando a ideia de que os vikings mantinham relações comerciais e culturais com diversos povos.
Outro item que despertou grande interesse é um jarro de cristal de rocha com a inscrição ‘O bispo Hyguald me fez’. Esse tipo de objeto, associado à Igreja Cristã, oferece uma perspectiva sobre a influência do cristianismo nas terras vikings, mesmo que muitas das práticas pagãs ainda estivessem em vigor.
Conclusão
A descoberta de que o vaso viking milenar encontrado na Escócia tem origem no Império Sassânida é uma prova fascinante da complexidade das interações culturais na era viking. Longe de serem apenas saqueadores, os vikings eram comerciantes hábeis, capazes de estabelecer conexões com povos de todo o mundo, incluindo aqueles da Ásia Ocidental.
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