Adaga de 3.600 anos é encontrada em naufrágio

Uma descoberta arqueológica de grande importância foi feita recentemente na costa da Turquia: uma adaga datada de 3.600 anos foi encontrada no naufrágio de um navio que transportava lingotes de cobre. Esse artefato, que possivelmente pertence à civilização minoica, pode fornecer novas pistas sobre as rotas comerciais marítimas da Idade do Bronze e a relação entre diferentes culturas do Mediterrâneo.

O Mediterrâneo sempre foi uma rota de ligação entre civilizações, culturas e economias. Durante a Idade do Bronze, por volta de 1500 a.C., o mar desempenhava um papel crucial nas trocas comerciais entre regiões como o Egito, a Grécia e o Chipre. Agora, com a descoberta de uma adaga milenar em um naufrágio na costa da Turquia, arqueólogos subaquáticos têm uma nova oportunidade de estudar esses antigos contatos e compreender melhor como essas civilizações interagiam. A peça, composta de bronze e com pinos de prata, estava junto a uma carga de lingotes de cobre, o que sugere sua ligação direta com o comércio de metais, um dos recursos mais preciosos da época.

Como a adaga foi encontrada

O Ministério da Cultura e do Turismo da Turquia anunciou oficialmente a descoberta da adaga, que foi encontrada durante escavações subaquáticas realizadas por arqueólogos da Universidade Akdeniz, em colaboração com o Museu de Antalya. A adaga estava a cerca de 50 metros de profundidade, entre os destroços de um naufrágio próximo à costa de Kumluca, uma cidade localizada na província de Antalya.

O projeto de escavação começou em 2019, sob a liderança do arqueólogo Hakan Öniz. O trabalho envolveu o uso de tecnologia avançada, como sonar para localizar objetos submersos e a criação de um mapa 3D do naufrágio. Esses recursos permitiram que a equipe identificasse a adaga e os lingotes de cobre, que formam o núcleo da carga do navio. Essa tecnologia moderna foi essencial para a descoberta, oferecendo uma visão detalhada do local do naufrágio e das condições em que os artefatos foram encontrados.

A civilização minoica e as rotas comerciais

A adaga é atribuída à civilização minoica, um povo que floresceu na Ilha de Creta durante a Idade do Bronze. Os minoicos são conhecidos por sua habilidade em navegação e comércio marítimo, e suas rotas comerciais se estendiam por todo o Mediterrâneo, conectando regiões como o Egito, a Grécia, o Chipre e a Ásia Menor. Eles comercializavam uma variedade de bens, incluindo metais, cerâmica e produtos de luxo, como joias e tecidos.

A embarcação encontrada em Kumluca carregava lingotes de cobre que, segundo os pesquisadores, foram extraídos das minas da cordilheira de Troodos, no Chipre. Esses lingotes moldados, datados entre os séculos 15 e 16 a.C., eram destinados provavelmente à costa da Lícia, uma região da antiga Ásia Menor. A presença da adaga minoica nesse contexto reforça a ideia de que os minoicos desempenhavam um papel central nas rotas comerciais da época, servindo como intermediários entre diferentes culturas.

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Adaga
Foto: Mehmet Ersoy/Ministério da Cultura e Turismo da República da Turquia

A importância da descoberta para a arqueologia subaquática

A arqueologia subaquática tem revelado, nas últimas décadas, informações valiosas sobre o comércio e as interações entre as antigas civilizações do Mediterrâneo. Naufrágios, como o de Kumluca, oferecem uma janela para as rotas comerciais e para os bens que circulavam entre diferentes regiões. Com a descoberta desta adaga, somada aos lingotes de cobre, os pesquisadores podem aprofundar o entendimento sobre as redes comerciais minoicas e sua influência sobre outras civilizações da época.

Além disso, a descoberta de artefatos como a adaga de bronze ajuda a preencher lacunas sobre as habilidades metalúrgicas da época. Sabemos que o bronze era amplamente utilizado em armas, ferramentas e ornamentos, e essa adaga, com seus pinos de prata, representa a sofisticação e o cuidado com os detalhes no trabalho metalúrgico dos minoicos. Este nível de habilidade sugere não apenas o domínio tecnológico, mas também a valorização estética dos objetos produzidos.

O naufrágio de Kumluca

A carga principal do navio naufragado em Kumluca era composta por lingotes de cobre, um dos metais mais valiosos da Idade do Bronze. O cobre, junto com o estanho, era essencial para a produção de bronze, o material predominante na fabricação de armas e ferramentas. A origem dos lingotes, conforme apontado pelos estudos da equipe arqueológica, é a cordilheira de Troodos, no Chipre, que era uma importante fonte de cobre para as civilizações mediterrâneas.

A presença desses lingotes sugere que o navio estava envolvido em uma rota comercial estabelecida entre o Chipre e a Ásia Menor, provavelmente transportando cobre para ser trocado por outros bens. As escavações subaquáticas revelam, portanto, mais do que apenas artefatos isolados; elas ajudam a traçar o fluxo de materiais e as relações comerciais entre civilizações. Isso permite que os historiadores reconstruam, com mais precisão, as economias e os contatos culturais da Idade do Bronze.

Os avanços recentes em tecnologia subaquática têm sido cruciais para o sucesso de escavações como a do naufrágio de Kumluca. O uso de sonar, que permite a localização de objetos submersos com precisão, foi fundamental para identificar o local onde a adaga e os lingotes de cobre estavam. Além disso, a criação de mapas 3D do naufrágio permitiu que a equipe de arqueólogos obtivesse uma visão detalhada da disposição dos artefatos e das condições do local.

Essas ferramentas tecnológicas não apenas aceleram o processo de escavação, mas também minimizam o risco de danificar os artefatos, que muitas vezes estão extremamente frágeis após milhares de anos submersos. A capacidade de mapear o local e planejar as escavações com antecedência garante que os objetos sejam removidos com segurança e preservados para análise posterior.

A descoberta da adaga e dos lingotes de cobre tem implicações importantes para o estudo das civilizações marítimas da Idade do Bronze. Com base nesses achados, os arqueólogos podem aprofundar a compreensão sobre como funcionavam as rotas comerciais e quais eram os principais produtos trocados entre as culturas do Mediterrâneo. O fato de o navio estar carregando uma carga tão valiosa reforça a importância do comércio marítimo para o desenvolvimento econômico dessas civilizações.

Além disso, a presença de artefatos minoicos na costa da Turquia sugere que as relações comerciais entre Creta e a Ásia Menor eram mais extensas do que se pensava anteriormente. Isso abre novas possibilidades de pesquisa sobre as interações culturais entre essas regiões e como os minoicos influenciaram outras civilizações por meio do comércio.

Conclusão

A descoberta da adaga de bronze no naufrágio de Kumluca é uma das mais importantes da arqueologia subaquática nos últimos anos. Além de expandir o conhecimento sobre as rotas comerciais da Idade do Bronze, ela revela detalhes sobre as habilidades metalúrgicas e as interações culturais entre as civilizações mediterrâneas. A partir desse achado, pesquisadores poderão continuar investigando o papel dos minoicos e de outras culturas no comércio de metais e outros bens valiosos, proporcionando uma nova visão sobre como essas antigas sociedades se conectavam e prosperavam.

Fonte: Revista Galileu