Riscos do uso excessivo de telas em crianças e adolescentes

A revolução tecnológica trouxe avanços incontestáveis, mas, ao mesmo tempo, gerou uma preocupação crescente entre pais, educadores e profissionais de saúde: os efeitos nocivos do uso excessivo de telas por crianças e adolescentes. De problemas de visão e saúde mental a dificuldades de aprendizagem e suicídio, o impacto desse fenômeno tem sido comparado a uma verdadeira pandemia, atingindo proporções alarmantes.

A tecnologia transformou a forma como vivemos, aprendemos e nos conectamos. Contudo, a falta de controle sobre seu uso, especialmente entre os mais jovens, levanta sérias preocupações. Durante a audiência pública promovida pela deputada estadual Márcia Huçulak (PSD), especialistas de diversas áreas alertaram sobre as consequências do uso desenfreado de dispositivos digitais.

A médica Luci Yara Pfeiffer, presidente do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas da Sociedade Brasileira de Pediatria, foi enfática ao destacar o aumento dos casos de miopia, problemas auditivos, sedentarismo e, principalmente, distúrbios mentais, como ansiedade e depressão.

A previsão de que 50% da geração atual desenvolverá miopia em até 20 anos, com 10% desses casos levando à cegueira, é um dos dados mais alarmantes. Ainda mais preocupante é o fato de que, pela primeira vez, a ansiedade entre crianças e jovens superou a de adultos, conforme apontado pela Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS). Este fenômeno é diretamente ligado ao uso excessivo de telas, que afeta desde a capacidade de concentração até as interações sociais, gerando um ciclo de isolamento e dependência tecnológica.

A união entre família e escola é vista como essencial para enfrentar essa crise. Silmara Campese Cezário, gerente de Inovação Pedagógica da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba, ressaltou a importância de orientar pais e educadores sobre o tempo de uso de dispositivos eletrônicos. Segundo ela, é crucial que os adultos responsáveis sejam educados sobre os riscos do uso indiscriminado de tablets e celulares por crianças a partir dos quatro ou cinco anos.

A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças com menos de dois anos não utilizem telas e que, para aquelas entre três e cinco anos, o uso seja limitado a uma hora por dia. Para crianças e adolescentes entre seis e 18 anos, o tempo máximo recomendado é de duas horas diárias. No entanto, a realidade brasileira mostra que esses limites são frequentemente ultrapassados, expondo os jovens a riscos significativos. Cristiane Maria Leal Vardana Marangon, coordenadora da Linha de Cuidados da Saúde da Criança da Secretaria Municipal de Saúde, destacou que a conscientização e a sensibilização de pais e educadores são passos fundamentais para enfrentar essa questão.

O professor de tecnologia Everton Drohomeretski trouxe à tona um dos grandes desafios do nosso tempo: a rápida obsolescência do conhecimento humano frente ao avanço tecnológico. Segundo ele, até 2030, cerca de 800 milhões de empregos e atividades desaparecerão, e, até 2025, aproximadamente 80 milhões de postos de trabalho serão extintos. Isso significa que, em poucos anos, uma grande parte do conhecimento acumulado pelos adultos será inútil, substituído por automação e inteligência artificial.

Essa mudança rápida gera um impacto direto na forma como as crianças e adolescentes interagem com a tecnologia. A busca constante por estímulos nos dispositivos digitais tem levado a um aumento na dificuldade de concentração e na inabilidade para lidar com frustrações. Os algoritmos das redes sociais são especialmente desenhados para prender a atenção dos jovens, criando uma dependência quase automática.

A advogada Renata Kobus, membro da Comissão de Direito Digital da Ordem dos Advogados do Brasil, destacou as dificuldades legislativas em acompanhar o ritmo acelerado das mudanças tecnológicas. Apesar de existirem leis que tentam regular o uso da tecnologia, como aquelas voltadas para o combate ao cyberbullying e ao sexting, a realidade é que o sistema jurídico ainda está em processo de adaptação às novas realidades digitais.

A falta de uma regulamentação mais robusta deixa os jovens vulneráveis a uma série de riscos, desde a exposição a conteúdos inadequados até a participação em desafios perigosos que circulam nas redes sociais. A audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Paraná é um passo importante na busca por uma legislação mais eficaz, mas Renata Kobus alerta que mudanças culturais também são necessárias. A sociedade precisa entender que, na era digital, o uso responsável da tecnologia é tão importante quanto o seu desenvolvimento.

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