História original da Pequena Sereia

“A Pequena Sereia” é um conto imortalizado pela versão animada da Disney, lançada em 1989. A história da jovem sereia Ariel que se apaixona por um príncipe humano e enfrenta desafios para viver seu amor se tornou um clássico do cinema infantil. No entanto, poucos sabem que a versão da Disney é uma adaptação bastante suavizada de um conto muito mais sombrio, escrito pelo dinamarquês Hans Christian Andersen em 1837.

Quando a Disney adaptou “A Pequena Sereia”, trouxe uma narrativa acessível e encantadora, com músicas memoráveis e personagens carismáticos. A protagonista, Ariel, é uma sereia curiosa e determinada que sonha em viver no mundo humano. Sua jornada é marcada por uma série de desafios, incluindo enfrentar a bruxa do mar Ursula, que tenta sabotar seus planos. No fim, Ariel vence, conquista o coração do príncipe Eric e vive feliz para sempre.

Por outro lado, a versão original de Hans Christian Andersen está longe de ser uma história com final feliz. Nela, a pequena sereia passa por um sofrimento profundo e um destino trágico, o que a torna um conto muito mais sombrio e complexo. A transição de uma história de dor e sacrifício para uma fábula otimista é um reflexo claro das diferenças entre as culturas em que cada versão foi concebida e dos públicos para os quais foram feitas.

A versão da Disney

Na versão da Disney, Ariel é uma jovem sereia de 16 anos que vive no fundo do mar com seu pai, o rei Tritão, e suas irmãs. Ela é fascinada pelo mundo dos humanos, apesar das advertências de seu pai para que mantenha distância. Quando Ariel resgata o príncipe Eric após um naufrágio, ela se apaixona instantaneamente por ele. Determinada a estar com o príncipe, Ariel faz um acordo perigoso com Ursula, a bruxa do mar, trocando sua voz por um par de pernas. O acordo dá a Ariel três dias para conquistar o amor de Eric e receber um beijo verdadeiro, ou então ela voltará a ser uma sereia e pertencerá a Ursula para sempre.

A trama segue o formato típico das animações da Disney, com canções icônicas como “Parte do Seu Mundo” e “Under the Sea”, e inclui momentos cômicos com os amigos de Ariel, como o peixe Linguado e o caranguejo Sebastião. No entanto, a história toma um rumo sombrio quando Ursula se disfarça de humana para impedir que Ariel conquiste o coração de Eric. Felizmente, com a ajuda de seus amigos e do pai, Ariel consegue derrotar Ursula, e o rei Tritão concede à filha o desejo de ser humana para que ela possa se casar com Eric.

A versão da Disney transforma o conto em uma narrativa sobre coragem, amor e autodeterminação. Ariel não apenas luta por seu amor, mas também contra a opressão de seu pai e os obstáculos impostos pela vilã. No fim, ela é recompensada com o amor verdadeiro e uma vida feliz no mundo humano. Esta versão é um exemplo típico das narrativas de contos de fadas modernas, que enfatizam finais felizes e o triunfo do bem sobre o mal.

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A versão original de Hans Christian Andersen

A versão original de “A Pequena Sereia”, escrita por Hans Christian Andersen, é muito mais sombria e melancólica. Neste conto, a jovem sereia também se apaixona por um príncipe humano e deseja ardentemente viver no mundo terrestre. No entanto, as semelhanças com a versão da Disney terminam aí.

Ao invés de trocar sua voz com Ursula, na versão de Andersen, a sereia faz um pacto com uma feiticeira do mar, que corta sua língua, fazendo com que ela perca a capacidade de falar para sempre. Em troca, a sereia ganha um par de pernas, mas a cada passo que ela dá em terra firme, sente como se estivesse andando sobre cacos de vidro, uma dor insuportável que ela aceita suportar em nome do amor.

Outro aspecto trágico da versão original é que, se a sereia não conseguir que o príncipe se apaixone por ela e lhe dê um beijo verdadeiro, ela não apenas voltará a ser uma sereia, mas morrerá. A pequena sereia se esforça para conquistar o príncipe, mas ele se apaixona por outra mulher, acreditando que ela é quem o salvou no naufrágio. No final, o príncipe se casa com essa mulher, e a pequena sereia enfrenta uma escolha cruel: matar o príncipe para salvar a própria vida e voltar ao mar, ou aceitar seu destino trágico.

Incapaz de matar o homem que ama, a pequena sereia se sacrifica e se transforma em espuma do mar, sem nunca ter realizado seu desejo de viver como humana. Essa versão é uma alegoria do sacrifício, da renúncia e do destino inexorável, temas que permeiam várias histórias de Andersen.

Os temas de sacrifício e redenção

Enquanto a versão da Disney foca em amor, coragem e determinação, a história original de Andersen coloca grande ênfase no sacrifício e na dor. A sereia de Andersen está disposta a perder sua voz e suportar um sofrimento físico constante para ter a chance de estar com o príncipe. Ainda assim, sua devoção e sacrifício não são recompensados. Esse tema trágico, em que o protagonista se sacrifica sem ser recompensado, é um dos aspectos mais marcantes das histórias de Andersen, que frequentemente terminam de maneira melancólica.

Na versão original, há também um forte subtexto religioso. Quando a pequena sereia se transforma em espuma, ela não desaparece completamente, mas é transformada em um “espírito do ar”, que pode ganhar uma alma imortal através de boas ações. Esse final pode ser interpretado como uma metáfora da redenção espiritual, um elemento que a Disney removeu completamente de sua versão.

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Transformando tragédia em conto de fadas moderno

A transformação de um conto sombrio em uma história otimista reflete uma mudança nos valores culturais ao longo do tempo. Nos dias de Hans Christian Andersen, histórias de fadas frequentemente apresentavam finais trágicos ou moralmente complexos, e a ideia de sacrifício pessoal era um tema comum. No entanto, o público moderno, especialmente o público infantil, espera narrativas que terminem em esperança e felicidade. A Disney, ao adaptar “A Pequena Sereia”, seguiu essa tendência, criando um final feliz que garante a satisfação dos espectadores.

Essa mudança também reflete uma mudança nas representações femininas. A Ariel da Disney é uma personagem mais proativa e determinada do que a sereia passiva e sacrificada de Andersen. Enquanto a sereia original aceita seu destino sem lutar, Ariel busca ativamente mudar seu futuro e enfrenta desafios com coragem e determinação. Essa mudança reflete o desejo de ver protagonistas femininas mais independentes e empoderadas, uma característica que tem se tornado cada vez mais importante na narrativa contemporânea.

Conclusão

Comparar as duas versões de “A Pequena Sereia” nos mostra como uma mesma história pode ser adaptada para diferentes tempos e públicos. A versão de Hans Christian Andersen é sombria, trágica e cheia de sacrifício, refletindo uma visão mais melancólica da vida e do amor. Já a versão da Disney é otimista, com uma protagonista corajosa que consegue superar obstáculos e viver feliz para sempre com seu amado.

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