11 fatos curiosos sobre Machado de Assis

Machado de Assis, um dos maiores nomes da literatura brasileira, é amplamente celebrado por sua obra rica e complexa. Suas contribuições para a língua portuguesa e para a cultura do Brasil são imensas, mas sua vida e carreira foram marcadas por uma série de acontecimentos e características que, muitas vezes, passam despercebidos.

1. Origem humilde

Nascido em 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, Machado de Assis veio de uma família humilde. Seu avô foi escravo, e o jovem Machado cresceu em um ambiente de extrema pobreza. Sua mãe, Maria Leopoldina Machado de Assis, morreu quando ele era ainda muito jovem, e ele foi criado por sua madrasta, Maria Inês, que era lavadeira. Apesar das dificuldades, foi nesse ambiente que Machado aprendeu a ler, e sua educação inicial foi proporcionada pela dona da casa onde ele morava, Maria José de Mendonça Barroso. Essas circunstâncias moldaram o caráter e a visão de mundo do futuro escritor, que sempre esteve consciente das questões sociais em suas obras.

2. Traduções literárias

Além de ser um exímio escritor, Machado de Assis também trabalhou como tradutor, trazendo para o público brasileiro obras importantes da literatura mundial. Entre suas traduções mais notáveis está o conto “O Corvo”, de Edgar Allan Poe, que foi uma das primeiras versões desse texto em português. Machado também traduziu “Os Trabalhadores do Mar”, de Victor Hugo. A fluência de Machado no francês, idioma que muitos acreditam que ele tenha aprendido com um padeiro, permitiu-lhe realizar essas traduções, que ajudaram a enriquecer o panorama literário brasileiro da época.

3. Fundador e primeiro presidente da academia brasileira de letras

Machado de Assis não foi apenas um gigante da literatura, mas também uma figura central na institucionalização da cultura literária no Brasil. Ele foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1897, uma instituição destinada a promover a língua e a literatura brasileiras. Machado ocupou a cadeira 23, cujo patrono é José de Alencar, e foi o primeiro presidente da ABL, cargo que exerceu até sua morte em 1908. Sob sua liderança, a Academia se consolidou como um dos pilares da cultura nacional, e seu legado continua vivo até hoje.

4. O “bruxo do cosme velho”

Machado de Assis morava na Rua Cosme Velho, no Rio de Janeiro, onde passou grande parte de sua vida adulta. Lá, ganhou o apelido de “Bruxo do Cosme Velho”, uma alcunha que misturava respeito e mistério. Reza a lenda que ele foi visto queimando cartas em um caldeirão, o que alimentou rumores entre os vizinhos de que ele praticava bruxaria. O apelido só se popularizou de fato quando o poeta Carlos Drummond de Andrade o utilizou no poema “A um bruxo, com amor”, que homenageia o escritor e sua obra. Essa aura de misticismo em torno de Machado contribuiu para a imagem enigmática que ele mantém até hoje.

5. Diagnóstico pioneiro

Em seu livro “Anjo Rafael”, Machado de Assis explorou uma condição mental que viria a ser reconhecida pela ciência décadas depois: a folie à deux, ou delírio a dois. Na história, uma filha é “contagiada” pela loucura do pai, acabando por enlouquecer também. Anos após a publicação do livro, essa condição foi oficialmente descrita por psiquiatras. Além de antecipar o reconhecimento da doença, Machado sugeriu uma cura para ela: separar a pessoa saudável daquela que sofre do distúrbio. Esse exemplo ilustra não apenas a profundidade psicológica dos personagens de Machado, mas também sua capacidade de observar e compreender a mente humana de maneira singular.

6. O enxadrista talentoso

Poucos sabem que Machado de Assis era também um entusiasta do xadrez, o jogo que exige estratégia e paciência, características que ele certamente aplicou em sua escrita. Machado participou do primeiro campeonato brasileiro de xadrez, onde conquistou o terceiro lugar, um feito notável para um amador. As peças utilizadas por ele durante o torneio estão preservadas na Academia Brasileira de Letras, onde podem ser vistas como um tributo a esse lado menos conhecido do autor. O xadrez, com suas complexas jogadas e necessidade de antecipação, reflete muito do estilo literário de Machado, onde cada palavra e cada silêncio são cuidadosamente calculados.

7. O grande amor de sua vida

O amor de Machado de Assis por sua esposa, Carolina, foi um dos pilares de sua vida. Eles foram casados por 35 anos, e Carolina era quatro anos mais velha que Machado. Embora o casal não tenha tido filhos, a relação dos dois era profunda e cheia de respeito mútuo. Carolina era extremamente inteligente e frequentemente revisava os textos do marido, contribuindo para o refinamento de suas obras. Quando ela faleceu em 1904, Machado entrou em uma profunda depressão, expressando sua dor em uma carta ao amigo Joaquim Nabuco: “Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo”. O impacto da perda de Carolina se refletiu na melancolia de suas últimas obras.

8. Uma gafe histórica

Mesmo os grandes gênios estão sujeitos a erros, e Machado de Assis não foi exceção. No prefácio da segunda edição de sua obra “Poesias Completas”, publicada em 1902, ocorreu uma troca de palavras que se tornou lendária. A palavra “cegara”, na expressão “lhe cegara o juízo”, foi substituída por “cagara”. Diz a lenda que o próprio Machado participou de um mutirão para corrigir os exemplares antes de chegarem ao público, mas alguns exemplares escaparam e foram distribuídos com o erro. Este incidente, embora embaraçoso, humaniza o autor e mostra que, mesmo em um tempo sem correções digitais, a busca pela perfeição literária era uma tarefa árdua.

9. Multitalentos

Machado de Assis foi um verdadeiro polímata, tendo se aventurado em diversas áreas ao longo de sua vida. Além de romancista e poeta, ele escreveu nove textos teatrais e foi um crítico de teatro respeitado desde os 21 anos. Também atuou como jornalista, começando a trabalhar na imprensa ainda jovem. Para ajudar sua família, ele vendia doces feitos por sua madrasta e engraxava sapatos. Alguns estudiosos sugerem que ele também foi coroinha em uma igreja, embora não haja confirmação. Essa multiplicidade de ofícios demonstra a versatilidade e a capacidade de adaptação de Machado, qualidades que ele trouxe para sua escrita.

10. Carreira pública

Machado de Assis não limitou sua influência ao campo literário; ele também ocupou importantes cargos públicos. Em 1888, foi condecorado por Dom Pedro II com a Ordem da Rosa, uma das mais altas honrarias do Império. Pouco tempo depois, foi indicado para um cargo na Secretaria da Agricultura, onde trabalhou na promoção do desenvolvimento rural do Brasil. Anos mais tarde, assumiu a posição de diretor-geral da Viação da Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas, onde desempenhou um papel crucial na modernização das infraestruturas do país. Esses cargos demonstram o reconhecimento que Machado recebeu em vida, tanto como literato quanto como servidor público.

11. Lutas pessoais

Apesar de seu enorme sucesso, a vida de Machado de Assis foi marcada por desafios pessoais. Ele sofria de epilepsia, uma condição pouco compreendida na época, e apresentava sinais de gagueira, o que contribuía para uma personalidade insegura e reclusa. Além disso, como mulato, Machado enfrentou preconceitos raciais ao longo de sua carreira. No entanto, ele superou todas essas barreiras para se tornar um dos mais importantes escritores da língua portuguesa. Sua história de vida é um testemunho de resiliência e perseverança, inspirando gerações de leitores e escritores.

Quem foi Machado de Assis?

Machado de Assis, nascido Joaquim Maria Machado de Assis em 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro, é amplamente considerado o maior escritor da literatura brasileira e um dos maiores nomes da literatura mundial. Sua vida e obra transcendem as barreiras do tempo e da geografia, tendo influenciado gerações de escritores e leitores no Brasil e além. Ao longo de sua carreira, ele trabalhou como poeta, romancista, contista, dramaturgo, ensaísta, crítico literário e jornalista, deixando um legado inestimável para a cultura brasileira.

Machado de Assis é conhecido por sua versatilidade e habilidade em diferentes gêneros literários. Entre suas obras mais famosas estão os romances “Dom Casmurro” (1899), “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881) e “Quincas Borba” (1891). Estes romances pertencem ao que se convencionou chamar de “segunda fase” da sua produção literária, marcada pelo pessimismo, pelo uso da ironia e pela crítica à sociedade brasileira do final do século XIX.

Conclusão

Machado de Assis é, sem dúvida, uma das figuras mais fascinantes da literatura brasileira. Suas obras são lidas e admiradas em todo o mundo, mas sua vida pessoal e profissional também merece destaque. As curiosidades que exploramos neste artigo revelam um homem multifacetado, cujas contribuições vão muito além de seus romances e contos. Seja como escritor, tradutor, crítico, ou servidor público, Machado de Assis deixou um legado inigualável que continua a influenciar e inspirar. Conhecer esses aspectos menos discutidos de sua vida nos aproxima ainda mais do gênio que ele foi, e nos ajuda a compreender a profundidade de sua obra.

Fonte: Revista Galileu


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