Custos e desafios para clubes de futebol se tornarem SAF

A transformação de clubes de futebol em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) vem ganhando força no Brasil, com estados como São Paulo liderando o número de adesões a esse modelo. Grandes clubes, como Cruzeiro, Vasco, Botafogo e Bahia, têm apostado nessa mudança para atrair investimentos e melhorar a gestão financeira.

No entanto, o processo de transição envolve custos significativos e mudanças estruturais profundas. Entenda mais sobre o impacto e os desafios dessa transformação para os clubes brasileiros.

Nos últimos anos, a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) tem se mostrado uma solução inovadora para os clubes brasileiros que enfrentam crises financeiras e buscam profissionalizar sua gestão. O modelo, que já foi adotado por tradicionais clubes como Cruzeiro, Vasco da Gama e Botafogo, oferece a possibilidade de atrair investidores e reestruturar as dívidas, promovendo um novo ciclo de sustentabilidade econômica.

No entanto, a transição para o modelo de clube-empresa exige mais do que a simples decisão de mudança. Além das alterações jurídicas e administrativas, há custos elevados para que um clube se transforme em SAF.

O advogado especialista em direito desportivo, Cláudio Klement, comenta sobre o cenário e os desafios que os clubes enfrentam ao fazer essa transição. Neste artigo, vamos explorar os detalhes do processo, os custos envolvidos e as mudanças no cenário esportivo com a adoção do modelo SAF.

A Sociedade Anônima do Futebol (SAF) foi criada em 2021 pelo Congresso Nacional como uma alternativa ao modelo tradicional de gestão dos clubes brasileiros, que em sua maioria são associações civis sem fins lucrativos. A principal diferença da SAF é que ela transforma o clube em uma empresa com ações negociáveis no mercado, permitindo que investidores adquiram participações e façam aportes financeiros.

O modelo surgiu como resposta a uma crise financeira crônica no futebol brasileiro, com muitos clubes endividados e sem condições de manter competitividade. A SAF trouxe a possibilidade de injeção de capital privado, ajudando os clubes a pagar suas dívidas e a investir em infraestrutura, equipes e gestão profissional. Além disso, ela facilita a obtenção de receitas por meio de novos patrocinadores, direitos de transmissão e outras fontes de renda.

Segundo o especialista Cláudio Klement, a transição para SAF é vista como um passo necessário para modernizar o futebol brasileiro. “A crise financeira que os clubes enfrentavam, principalmente no início do século XXI, exigiu uma nova forma de pensar a gestão do esporte. A SAF emergiu como a solução para atrair investimentos privados e colocar o futebol brasileiro de volta nos trilhos”, afirma Klement.

O impacto da SAF no futebol brasileiro vai além da resolução das dívidas. O modelo traz consigo uma nova mentalidade de gestão, que se aproxima das práticas de mercado, com foco na maximização de receitas e na eficiência operacional. Cláudio Klement, que também atua no setor de startups de Fintechs e Law Techs, destaca como essa mudança trouxe uma profissionalização significativa para a administração dos clubes.

“A SAF permite que os clubes busquem novas formas de gerar receita, como a venda de direitos de transmissão, acordos comerciais e a exploração mais eficiente de suas marcas. Isso contribui para um ambiente mais competitivo e saudável financeiramente”, explica Klement. Ele também aponta que o sucesso de clubes como Cruzeiro e Botafogo, que já se beneficiaram do modelo, serve de inspiração para outras agremiações que ainda estão avaliando a mudança.

Além disso, a SAF facilita a estruturação de acordos com investidores internacionais, atraindo recursos que antes não estavam disponíveis para os clubes. Para muitos, essa abertura de capital é vista como a única saída para reestruturar dívidas históricas e recuperar a competitividade.

Apesar dos benefícios, a transição para SAF envolve custos significativos, que variam de estado para estado. Cláudio Klement explica que, no Rio de Janeiro, os valores cobrados pela entidade gestora do futebol estadual podem chegar a R$ 500 mil para clubes da Série A1 que desejam realizar a transição para o modelo SAF. Já para clubes das Séries A2 e A3 do Campeonato Estadual, os custos são menores, variando entre R$ 200 mil e R$ 300 mil.

“Esses valores são apenas uma parte dos custos envolvidos na transformação de um clube em SAF”, destaca Klement. “Além das taxas, os clubes precisam arcar com despesas jurídicas, administrativas e operacionais para ajustar sua estrutura à nova realidade de clube-empresa. Isso inclui a criação de uma nova governança, revisão de contratos e o planejamento financeiro de longo prazo”.

No entanto, os valores de transição não são um impeditivo para a maioria dos clubes que estão determinados a adotar o modelo SAF. Os custos iniciais são vistos como um investimento necessário para garantir a viabilidade e o sucesso futuro da organização.

São Paulo se destaca como um dos estados que mais adotaram o modelo SAF até o momento. A Federação Paulista de Futebol (FPF) tem incentivado os clubes a aderirem ao modelo, promovendo um ambiente regulatório favorável e facilitando o processo de transição. O estado abriga algumas das maiores e mais tradicionais equipes do futebol brasileiro, o que torna sua adesão ao modelo especialmente relevante.

Segundo Klement, São Paulo tem sido um exemplo de como a SAF pode trazer resultados positivos. “A estrutura esportiva e empresarial de São Paulo favorece a adoção do modelo SAF. O estado tem um mercado forte e competitivo, o que facilita a atração de investidores e patrocinadores”, comenta o especialista.

Além disso, a adoção do modelo SAF em São Paulo tem servido de exemplo para outros estados, que começam a seguir os mesmos passos. Clubes menores, que tradicionalmente enfrentam mais dificuldades financeiras, também estão vendo na SAF uma oportunidade de crescimento e estabilização.

A transição para SAF traz vantagens significativas para os clubes, como a atração de investimentos privados, o pagamento de dívidas e a reestruturação interna. No entanto, há desafios que precisam ser enfrentados. Um dos principais obstáculos é a adaptação à nova realidade de clube-empresa, que exige uma governança mais rigorosa e uma gestão financeira eficiente.

Para clubes que sempre operaram como associações civis, a mudança para SAF pode representar uma ruptura com antigas práticas e a necessidade de uma nova mentalidade de gestão. Isso inclui a profissionalização de áreas como marketing, finanças e jurídico, que precisam operar de forma mais próxima ao modelo de negócios empresarial.

Outro desafio é garantir que os novos investidores compartilhem da mesma visão de longo prazo para o clube, evitando conflitos de interesse e mantendo a integridade esportiva. Klement aponta que “a escolha dos investidores certos é fundamental para garantir que o clube mantenha sua identidade e tradição, ao mesmo tempo em que cresce financeiramente”.

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