SUS inclui medicamento de R$ 2 milhões para tratar câncer infantil

A luta contra o câncer infantil ganha um reforço importante com a recente decisão da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Nesta ultima quinta-feira, dia 5, a Conitec recomendou a incorporação do betadinutuximabe, um medicamento inovador e de alto custo, ao tratamento do neuroblastoma de alto risco.

Com um preço que pode ultrapassar os R$ 2 milhões, o remédio passa a ser disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), oferecendo esperança a muitas famílias que enfrentam a batalha contra esse tipo de câncer infantil.

O neuroblastoma é o terceiro câncer mais comum entre crianças, ficando atrás apenas da leucemia e dos tumores cerebrais. A inclusão desse tratamento no SUS é um marco para a saúde pública brasileira, possibilitando acesso a um medicamento que, até então, era inacessível para muitas famílias devido ao seu alto custo.

O neuroblastoma é um tipo de câncer que se desenvolve a partir de células nervosas imaturas presentes em várias áreas do corpo, mas que geralmente começa nas glândulas adrenais, situadas acima dos rins. Ele é mais comum em crianças pequenas, especialmente em bebês e crianças com menos de cinco anos de idade. Esse câncer pode se espalhar rapidamente para outras partes do corpo, tornando-se uma condição de alto risco.

De acordo com estatísticas, o neuroblastoma representa cerca de 7% dos casos de câncer infantil, mas é responsável por aproximadamente 15% das mortes relacionadas ao câncer em crianças. Esse dado reforça a urgência e a importância de tratamentos eficazes e acessíveis para essas famílias, e a decisão da Conitec de incorporar o betadinutuximabe ao SUS é uma resposta a essa necessidade.

O betadinutuximabe, comercializado pelo laboratório Recordati sob o nome de Qarziba, é um medicamento que tem se mostrado eficaz no tratamento do neuroblastoma de alto risco. Ele atua atacando as células cancerígenas e estimulando o sistema imunológico a combatê-las de forma mais eficiente. O tratamento é indicado para pacientes que já passaram por sessões de quimioterapia e alcançaram uma resposta parcial, além de serem submetidos à terapêutica mieloablativa e a um transplante de células-tronco.

Segundo o fabricante, o medicamento tem o potencial de melhorar significativamente a sobrevida dos pacientes, aumentando as chances de cura e reduzindo o risco de recorrência do câncer. Em mais de mil pacientes tratados em 18 países, o betadinutuximabe apresentou resultados promissores, trazendo esperança para crianças que enfrentam essa condição devastadora.

O processo de incorporação do betadinutuximabe ao SUS começou em janeiro deste ano, quando o laboratório Recordati submeteu o pedido à Conitec. A recomendação positiva anunciada em 5 de setembro é resultado de meses de análise técnica e discussões envolvendo especialistas em oncologia pediátrica e representantes da saúde pública. Essa decisão representa um avanço importante na luta pelo acesso a medicamentos de alto custo no Brasil.

Um dos fatores que trouxe maior visibilidade à causa foi a campanha de arrecadação de recursos para o tratamento de Pedro, filho do indigenista Bruno Pereira, assassinado em 2022 na Amazônia. Em janeiro deste ano, a família de Pedro lançou uma campanha para custear o tratamento com o betadinutuximabe, e a rápida mobilização da sociedade, que arrecadou o valor necessário em três dias, chamou a atenção para a urgência da incorporação do medicamento no SUS. Após o sucesso da campanha, a família de Pedro uniu-se a outras famílias que também enfrentam as dificuldades do acesso a tratamentos caros para o neuroblastoma, reforçando a pressão para que o remédio fosse disponibilizado pelo SUS.

A Conitec desempenha um papel fundamental no processo de avaliação e incorporação de novas tecnologias no SUS. Criada em 2011, a comissão é responsável por analisar a eficácia, segurança, custo-efetividade e impacto orçamentário de novos tratamentos, medicamentos e procedimentos médicos. O objetivo é garantir que o SUS ofereça as melhores opções de tratamento aos seus pacientes, de forma sustentável e acessível.

A incorporação de medicamentos de alto custo, como o betadinutuximabe, é um desafio constante para o sistema de saúde pública, especialmente em um país com as dimensões e desigualdades do Brasil. O processo envolve a análise de dados clínicos e científicos, além de debates sobre o impacto financeiro que essa incorporação terá no orçamento do SUS. Mesmo com esses desafios, a recomendação positiva da Conitec é um avanço significativo na democratização do acesso a tratamentos inovadores.

O betadinutuximabe é um exemplo claro de como os avanços da medicina podem ser inacessíveis para a maioria da população devido ao seu custo elevado. O preço de R$ 2 milhões por paciente coloca o tratamento fora do alcance de famílias que dependem do SUS para garantir o atendimento de saúde. Antes da sua incorporação ao sistema público, a única opção para muitas dessas famílias era buscar campanhas de arrecadação de fundos ou tentar apelar para a judicialização do tratamento, na tentativa de garantir o acesso ao medicamento por meio de liminares.

A decisão de incorporar o betadinutuximabe ao SUS é um marco importante, pois garante que o tratamento esteja disponível para todas as crianças que dele precisem, independentemente de sua condição financeira. Ao mesmo tempo, essa decisão também levanta questões sobre o financiamento da saúde pública e o impacto que esses tratamentos de alto custo terão sobre o orçamento do SUS a longo prazo.

Na mesma reunião da Conitec em que foi aprovada a incorporação do betadinutuximabe, também foram aprovados novos medicamentos para o tratamento de doenças crônicas, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Essa condição, que afeta milhões de brasileiros, causa dificuldades respiratórias graves e pode reduzir drasticamente a qualidade de vida dos pacientes. A inclusão desses novos tratamentos no SUS é mais um exemplo do compromisso da Conitec e do governo federal em oferecer soluções de saúde acessíveis e eficazes para a população.

Assim como no caso do neuroblastoma, a decisão de incluir novos medicamentos para o tratamento da DPOC segue critérios rigorosos de análise de custo-efetividade e impacto orçamentário. Esses tratamentos, embora menos caros que o betadinutuximabe, também representam um investimento significativo por parte do SUS, mas são essenciais para melhorar a vida de milhões de brasileiros.

A incorporação do betadinutuximabe ao SUS representa um passo importante no tratamento do neuroblastoma e abre as portas para novos avanços na oncologia pediátrica no Brasil. O acesso a medicamentos inovadores é fundamental para garantir que as crianças com câncer tenham as melhores chances de cura, e a decisão da Conitec reflete o compromisso do país em avançar nesse campo.

No entanto, ainda há muitos desafios a serem enfrentados. O financiamento da saúde pública e a inclusão de novas tecnologias no SUS dependem de uma gestão eficiente e de políticas públicas que garantam a sustentabilidade do sistema a longo prazo. Ao mesmo tempo, é essencial que o Brasil continue investindo em pesquisas científicas e na formação de profissionais especializados, para que o país possa desenvolver suas próprias soluções para o tratamento de doenças complexas como o câncer infantil.

Crescimento do câncer infantil preocupa

O câncer infantil é uma das maiores preocupações das organizações de saúde em todo o mundo. De acordo com o Childhood Cancer International (CCI), cerca de 400.000 crianças e adolescentes com menos de 20 anos são diagnosticados com câncer anualmente. Este aumento constante no número de casos de câncer infantil destaca a necessidade urgente de maior conscientização, prevenção e acesso a tratamentos adequados.

O câncer infantil é um problema global que afeta milhares de famílias a cada ano. Embora os avanços na medicina tenham melhorado significativamente as taxas de sobrevivência em muitos tipos de câncer, o aumento constante nos casos de câncer infantil continua a ser um grande desafio. A cada ano, 400.000 novos casos são diagnosticados, com uma incidência maior em países de baixa e média renda. Este crescimento pode ser atribuído a diversos fatores, incluindo exposição a agentes cancerígenos, predisposição genética e, em alguns casos, infecções virais.

Além disso, a falta de acesso a cuidados de saúde de qualidade em muitas partes do mundo agrava a situação, resultando em diagnósticos tardios e, consequentemente, piores prognósticos para as crianças afetadas. É fundamental que os esforços globais sejam redobrados para melhorar o diagnóstico precoce, aumentar a conscientização sobre os sintomas e garantir que todas as crianças tenham acesso ao tratamento necessário.

Tipos mais comuns de câncer infantil

Os tipos de câncer que mais frequentemente acometem crianças e adolescentes diferem daqueles que afetam os adultos. Entender os tipos mais comuns de câncer infantil é crucial para o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz. A seguir, detalhamos os tipos mais frequentes e suas características:

1. Leucemia

A leucemia é o tipo mais comum de câncer em crianças, representando cerca de 30% dos casos. Esta doença afeta o sangue e a medula óssea, onde são produzidas as células sanguíneas. Os tipos mais comuns de leucemia em crianças são a leucemia linfoblástica aguda (LLA) e a leucemia mieloide aguda (LMA).

Sintomas: Os sintomas incluem fadiga, palidez, febre, sangramentos ou hematomas inexplicáveis, dores ósseas e articulares, infecções frequentes e perda de peso.
Tratamento: O tratamento geralmente envolve quimioterapia, que pode ser combinada com radioterapia e, em alguns casos, transplante de medula óssea.

2. Tumores do Sistema Nervoso Central (SNC)

Os tumores do sistema nervoso central, incluindo o cérebro e a medula espinhal, são o segundo tipo mais comum de câncer infantil. Eles podem variar muito em tipo e localização, afetando o prognóstico e o tratamento.

Sintomas: Os sintomas dependem da localização do tumor, mas podem incluir dores de cabeça, vômitos, problemas de equilíbrio, visão turva, convulsões e mudanças de comportamento.
Tratamento: O tratamento pode envolver cirurgia para remoção do tumor, seguida por radioterapia e/ou quimioterapia, dependendo da natureza e localização do tumor.

3. Linfomas

Linfomas são cânceres que começam nos linfócitos, um tipo de célula do sistema imunológico. Existem dois tipos principais de linfomas em crianças: o linfoma de Hodgkin e o linfoma não-Hodgkin.

Sintomas: Os sintomas incluem linfonodos inchados, febre persistente, suores noturnos, perda de peso e fadiga.
Tratamento: O tratamento geralmente consiste em quimioterapia e, em alguns casos, radioterapia. A imunoterapia também pode ser utilizada para fortalecer o sistema imunológico da criança contra as células cancerígenas.

4. Neuroblastoma

O neuroblastoma é um câncer que se desenvolve a partir de células nervosas imaturas encontradas no sistema nervoso simpático. Este tipo de câncer geralmente afeta crianças com menos de 5 anos de idade.

Sintomas: Os sintomas podem incluir uma massa abdominal visível, dor óssea, febre e irritabilidade.
Tratamento: O tratamento pode envolver cirurgia, quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e, em alguns casos, terapia com MIBG (uma forma de radioterapia específica para neuroblastoma).

5. Tumor de Wilms

O tumor de Wilms é um tipo de câncer renal que afeta principalmente crianças com menos de 5 anos. Embora raro, é o tipo mais comum de câncer de rim em crianças.

Sintomas: Os sintomas incluem inchaço ou uma massa no abdômen, dor abdominal, febre, sangue na urina e hipertensão.
Tratamento: O tratamento geralmente envolve cirurgia para remover o rim afetado, seguida por quimioterapia e, em alguns casos, radioterapia.

O diagnóstico precoce é essencial para aumentar as chances de cura e sobrevivência das crianças com câncer. No entanto, muitos tipos de câncer infantil apresentam sintomas inespecíficos que podem ser facilmente confundidos com outras doenças comuns da infância. É fundamental que pais, cuidadores e profissionais de saúde estejam atentos aos sinais e sintomas do câncer infantil para garantir um diagnóstico rápido e preciso.

A maioria dos cânceres infantis é diagnosticada através de uma combinação de exames físicos, históricos médicos, exames de sangue, exames de imagem (como raios-X, tomografias e ressonâncias magnéticas) e biópsias. Em alguns casos, testes genéticos também podem ser recomendados para identificar mutações que possam predispor ao desenvolvimento do câncer.

O tratamento do câncer infantil é frequentemente personalizado, dependendo do tipo de câncer, estágio da doença, idade da criança e outros fatores individuais. Os principais métodos de tratamento incluem:

  • Quimioterapia: Uso de medicamentos para matar ou impedir o crescimento de células cancerígenas.
  • Radioterapia: Uso de radiação para destruir células cancerígenas ou impedir que elas cresçam.
  • Cirurgia: Remoção física do tumor.
  • Transplante de Medula Óssea: Substituição da medula óssea doente por células-tronco saudáveis.
  • Imunoterapia: Fortalecimento do sistema imunológico para combater o câncer.

Recentemente, avanços na medicina de precisão e na imunoterapia têm melhorado significativamente as taxas de sobrevivência e a qualidade de vida das crianças diagnosticadas com câncer. Esses avanços permitem tratamentos mais direcionados, com menos efeitos colaterais e melhores resultados a longo prazo.

Além do tratamento médico, o apoio psicológico e social é essencial para ajudar as crianças e suas famílias a lidarem com o diagnóstico de câncer. O câncer infantil pode ser uma experiência traumática, e o suporte emocional pode ajudar as crianças a enfrentarem o tratamento com mais coragem e resiliência. As famílias também precisam de apoio para lidar com o impacto emocional e financeiro do tratamento, e muitos hospitais oferecem serviços de apoio psicológico e social para ajudar nessas áreas.

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