Arqueólogos trabalham nas ruínas de um antigo reino bíblico

O reino de Moabe, localizado a leste do Mar Morto e frequentemente mencionado na Bíblia hebraica, permanece um enigma em muitos aspectos. Embora os textos bíblicos ofereçam algumas referências, a compreensão abrangente sobre a vida cotidiana no reino moabita depende fortemente das descobertas arqueológicas.

Um dos locais mais reveladores para a exploração desta antiga civilização é Khirbet Balu’a, um vasto sítio arqueológico situado cerca de 24 quilômetros a leste da parte sul do Mar Morto e aproximadamente 65 quilômetros a sudoeste de Amã, capital da Jordânia moderna.

A Estela de Mesha, descoberta em Dhiban (a antiga Dibon) no século XIX, é um dos artefatos mais importantes relacionados a Moabe. Esta estela oferece nomes de alguns reis, detalhes sobre a religião centrada no deus Camos, e alguns aspectos sobre os conflitos com Israel. No entanto, ela fornece poucas informações sobre a vida cotidiana no reino moabita. Para compreender melhor os assentamentos urbanos e rurais, a economia local, o comércio, a religião doméstica e os costumes funerários, a arqueologia torna-se essencial.

Khirbet Balu’a é o maior sítio da Idade do Ferro em Moabe, abrangendo quase 40 hectares. Escavações revelaram vestígios de diferentes períodos históricos, incluindo as idades do Ferro, Persa, Helenística, Nabateia e Islâmica Tardia. A localização estratégica do sítio, na borda norte do planalto de Kerak e próximo ao Wadi al-Balu’a, que deságua no Wadi Mujib (o bíblico Rio Arnon), sugere sua importância na história moabita.

Embora as informações geográficas fornecidas pelos textos bíblicos não sejam específicas o suficiente para identificar com precisão Khirbet Balu’a, os estudiosos propuseram várias possibilidades. Entre elas estão Ar ou Ar-Moab (Números 21:15; Deuteronômio 2:9), a “cidade no meio do uádi [Arnon]” (Deuteronômio 2:36; Josué 13:9, 16) e “Bela’, que é Zoar” (Gênesis 14:2, 8).

Uma descoberta significativa que motivou as escavações iniciais foi a Estela Balu’a, um monumento de basalto de 6 pés de altura, descoberto em 1930. Esta laje esculpida, provavelmente datada do Bronze Final ou do início da Idade do Ferro (c. 1300–1100 a.C.), exibe uma cena de investidura real em estilo egípcio. Embora a inscrição esteja desgastada demais para ser lida, a estela sugere a importância do local durante esses períodos.

As escavações em Khirbet Balu’a têm se concentrado em três áreas principais, revelando a organização e a vida cotidiana no sítio durante a Idade do Ferro.

O Qasr, que significa “fortaleza” em árabe, é um grande edifício monumental com cerca de 140 por 115 pés, e paredes de 6 pés de espessura que ainda se erguem a uma altura de mais de 20 pés. Embora a função exata do edifício permaneça desconhecida, sua localização no ponto mais alto do assentamento sugere que ele era de grande importância. As escavações revelaram duas fases de construção: um edifício com pilares do início da Idade do Ferro IIB (séculos IX-VIII a.C.) e uma estrutura tardia da Idade do Ferro (c. século VI) com grandes jarros de armazenamento embutidos no chão.

A “Casa” é uma estrutura doméstica localizada na parte residencial do sítio. Embora sua fase mais antiga date da Idade do Ferro I (séculos XI-X a.C.), a maior parte da arquitetura pertence à Idade do Ferro IIB (séculos IX-VIII a.C.). As escavações revelaram três portas internas com lintéis intactos e evidências de danos substanciais causados por terremotos, onde algumas das paredes desabaram.

As escavações no “Muro” expuseram a enorme fortificação da Idade do Ferro do local. Inicialmente construído como um único muro datado do século XI a.C., já no século X, um muro paralelo e paredes de tocos interiores foram adicionados para criar um sistema de casamata. As câmaras criadas por essas adições foram preenchidas com bens domésticos, como pesos de tear e pedras de moer, sugerindo que eram usadas como casas ou depósitos. A última fase da construção, nos séculos VI-V a.C., incluiu torres construídas sobre o sistema de casamata; nesta época, o assentamento havia se expandido para o leste além do muro, servindo para separar as partes mais antigas e mais novas do local.

As escavações em Khirbet Balu’a fornecem um vislumbre detalhado da vida cotidiana no reino de Moabe. A descoberta de utensílios domésticos, ferramentas e cerâmicas indica uma comunidade organizada e autossuficiente. A presença de grandes jarros de armazenamento sugere uma economia agrícola robusta, com produção e armazenamento de alimentos em larga escala.

Moabe estava estrategicamente localizado em rotas comerciais importantes, facilitando o comércio com outros reinos da região. A cerâmica encontrada em Khirbet Balu’a mostra influências de diferentes culturas, indicando uma rede de comércio ativa. Os produtos agrícolas, junto com a cerâmica e outros bens manufaturados, eram provavelmente trocados com vizinhos, contribuindo para a prosperidade econômica do reino.

Embora a Estela de Mesha forneça alguns detalhes sobre a religião oficial centrada no deus Camos, as escavações revelaram aspectos da religião doméstica. Pequeninas inscrições alfabéticas e artefatos religiosos encontrados em Khirbet Balu’a sugerem práticas religiosas cotidianas e devoção a divindades locais.

Leia mais:

Arqueólogos identificam a Piscina de Siloé onde Jesus curou o cego

A Terra Santa está repleta de locais que ecoam histórias de fé, milagres e momentos decisivos na história religiosa. Entre esses locais, a Piscina de Siloé ocupa um lugar especial, especialmente para os cristãos. Citada no Evangelho de João como o local onde Jesus curou um cego (João 9:1–11), a Piscina de Siloé é um sítio de profunda importância espiritual.

Em junho de 2004, durante obras para consertar um grande cano de água ao sul do Monte do Templo de Jerusalém, arqueólogos Ronny Reich e Eli Shukron fizeram uma descoberta notável: dois degraus de pedra antigos. Escavações posteriores revelaram que esses degraus faziam parte de uma piscina monumental do período do Segundo Templo, o período em que Jesus viveu. A estrutura descoberta tinha 225 pés de comprimento, com cantos ligeiramente maiores que 90 graus, indicando um formato trapezoidal, com a extremidade alargada orientada para o vale de Tiropeão.

A piscina era alimentada por águas da Fonte de Giom, localizada no Vale do Cedrom, o que qualificava a piscina para uso como um mikveh para banho ritual, uma prática judaica de purificação. Além disso, poderia ter servido como uma importante fonte de água doce para os habitantes daquela parte da cidade. Alguns estudiosos sugerem que a piscina também poderia ter sido uma piscina de estilo romano, destacando sua multifuncionalidade e importância para a vida cotidiana de Jerusalém durante o período do Segundo Templo.

A redescoberta da Piscina de Siloé é um marco decisivo na arqueologia bíblica. A piscina onde Jesus curou o cego é mencionada no Evangelho de João, e sua identificação não só confirma relatos bíblicos, mas também aprofunda nossa compreensão sobre a vida e os costumes na Jerusalém do século I. A piscina servia tanto para rituais religiosos quanto para necessidades práticas, destacando a intersecção entre o sagrado e o cotidiano.

A história da Piscina de Siloé remonta a um período ainda mais antigo, pelo menos sete séculos antes da época de Jesus. Durante o reinado do rei Ezequias de Judá, no final do século VIII a.C., Jerusalém enfrentava a ameaça de um cerco pelo monarca assírio Senaqueribe. Para proteger o suprimento de água da cidade, Ezequias ordenou a construção de um túnel de 1.750 pés sob a Cidade de Davi para trazer água da Fonte de Giom, que ficava fora do muro da cidade, para dentro da cidade. Este impressionante feito de engenharia resultou no “Túnel de Ezequias”, que continuou a levar água doce para Jerusalém durante séculos.

A construção do Túnel de Ezequias é um testemunho da engenhosidade e determinação dos antigos habitantes de Jerusalém. Este túnel garantiu um suprimento contínuo de água para a cidade, permitindo que seus habitantes resistissem a cercos prolongados. O túnel ainda pode ser visitado hoje, proporcionando uma conexão tangível com a história antiga e a luta pela sobrevivência e proteção da cidade.

A descoberta da piscina do Segundo Templo em 2004 trouxe uma nova onda de interesse e pesquisa arqueológica para a área da Cidade de Davi. Escavações continuaram a revelar mais sobre a estrutura e o uso da piscina ao longo dos séculos. Objetos como cerâmica, moedas e outros artefatos foram encontrados, oferecendo uma visão mais ampla da vida na antiga Jerusalém. Essas descobertas não apenas confirmam relatos históricos e bíblicos, mas também enriquecem nosso entendimento sobre as práticas culturais e religiosas da época.

A redescoberta da Piscina de Siloé tem um impacto significativo tanto para a arqueologia quanto para a fé. Para os arqueólogos, a piscina oferece uma oportunidade única de estudar uma estrutura importante do período do Segundo Templo e entender melhor a vida em Jerusalém durante esse tempo. Para os cristãos, a piscina é um lugar de profunda reverência, onde um dos milagres de Jesus ocorreu, fortalecendo a fé e a conexão espiritual com a história bíblica.

A Piscina de Siloé é mais do que apenas um sítio arqueológico; é um símbolo de fé, história e engenhosidade humana. Desde os tempos do rei Ezequias até o período de Jesus, a piscina serviu como um ponto crucial para rituais religiosos, abastecimento de água e, mais tarde, como um local de milagres.

A redescoberta da piscina em 2004 não apenas confirma relatos históricos e bíblicos, mas também oferece uma nova oportunidade para explorar e entender melhor a rica tapeçaria da história de Jerusalém.

Veja só, outras matérias impressionantes:

– O mistério das ruas antigas com mais de 2 mil anos que se iluminam por conta própria

– As evidências surpreendentes de civilizações antigas nas selvas brasileiras

– Mapeados 2 mil sítios arqueológicos indígenas no Estado de São Paulo

– Os três grandes impérios pré-colombianos: Incas, Maias e Astecas

– Palácio submerso da Roma Antiga é descoberto pelos arqueólogos

A descoberta arqueológica de Stephen Compton e suas implicações bíblicas

A antiga cidade de Jerusalém – Domínio Público/Coleção da Biblioteca do Congresso

A recente descoberta do arqueólogo Stephen Compton, ao identificar um local mencionado em uma passagem bíblica, trouxe à tona importantes bases militares assírias datadas de 700 a.C. Utilizando mapas antigos e uma gravura achada em uma parede de pedra, Compton conseguiu localizar os acampamentos militares associados ao cerco do rei Senaqueribe a Jerusalém, conforme descrito na Bíblia. Essa descoberta não apenas corrobora passagens bíblicas, mas também abre novas perspectivas para a arqueologia bíblica.

A descoberta de Stephen Compton

A pesquisa de Stephen Compton foi publicada na revista Near Eastern Archaeology e detalha a sua notável descoberta de bases militares assírias. Ao utilizar mapas antigos e comparar uma gravura encontrada em uma parede de pedra com a paisagem atual, Compton conseguiu identificar o acampamento assírio descrito na Bíblia. A referência bíblica em 2 Reis 19:35 menciona um anjo que matou 185.000 soldados assírios para salvar Jerusalém, um evento que agora possui uma base arqueológica concreta.

Compton encontrou uma escultura em um palácio de Senaqueribe que retrata a conquista de Laquis. A comparação dessa gravura com a paisagem real permitiu a identificação precisa do acampamento. Os acampamentos descobertos, incluindo as ruínas na Colina da Munição, apresentavam uma forma oval característica dos acampamentos assírios e mostraram semelhanças notáveis com os acampamentos de Laquis.

Técnicas de Compton

As técnicas inovadoras de Stephen Compton envolvem a análise detalhada de gravuras antigas e a comparação com a paisagem moderna. Essa abordagem permitiu a identificação de acampamentos militares e pode ser aplicada para descobrir outros locais mencionados na Bíblia. A combinação de estudos de campo com análise de artefatos históricos oferece uma metodologia robusta para a arqueologia bíblica.

O Império Assírio e suas influências

O Império Assírio, famoso por seu desejo de controlar as rotas pelo deserto sírio até o Mediterrâneo, inspirou o desenvolvimento de outros grandes impérios, como o persa, o grego e o romano. As descobertas de Compton sobre os acampamentos assírios fornecem insights valiosos sobre as estratégias militares e a extensão do poder assírio na antiguidade.

A Colina da Munição, local da recente descoberta, possui uma história rica e tumultuada. Originalmente utilizada como depósito de munição pelos britânicos na década de 1930, a área foi controlada pela Legião Árabe da Jordânia em 1948. Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, a colina foi palco de uma batalha significativa. Hoje, o local serve como um memorial e museu, preservando sua história complexa e honrando aqueles que lutaram por ela.

As técnicas desenvolvidas por Stephen Compton não apenas validam passagens bíblicas, mas também oferecem um novo paradigma para a arqueologia bíblica. A capacidade de correlacionar gravuras antigas com paisagens atuais abre caminho para novas descobertas, permitindo que arqueólogos identifiquem evidências históricas de textos antigos com maior precisão.

Conclusão

A descoberta de Stephen Compton ao localizar um acampamento militar assírio mencionado na Bíblia representa um marco significativo na arqueologia bíblica. Utilizando uma combinação de mapas antigos, gravuras e análise de paisagens, Compton não apenas corroborou uma passagem bíblica, mas também estabeleceu novas técnicas para futuras pesquisas arqueológicas. Essa descoberta destaca a importância contínua da arqueologia para entender e validar registros históricos, oferecendo novas perspectivas sobre o passado e inspirando futuras gerações de arqueólogos.

Sair da versão mobile