Túmulos de guerreiros vândalos na Polônia revelam rituais

Na pequena aldeia de Glinka, na região de Ostrowiec, na Polônia, arqueólogos fizeram uma descoberta que lança luz sobre os costumes funerários de um antigo povo guerreiro. Túmulos de guerreiros vândalos, datados da Idade do Ferro, revelam não apenas as práticas funerárias da cultura Przeworsk, mas também importantes artefatos históricos, como espadas, pontas de lança e escudos. A análise desses achados ajuda a entender melhor os rituais fúnebres e a hierarquia social desses guerreiros, que habitaram a região entre o século III a.C. e o século V d.C.

Essas novas descobertas reforçam a importância do local para o estudo arqueológico da Idade do Ferro na Europa Central e fornecem informações cruciais sobre os vândalos e sua cultura material.

Descobertas nos túmulos

Os túmulos encontrados em Ostrowiec fazem parte da cultura Przeworsk, conhecida por suas práticas funerárias elaboradas, especialmente no que diz respeito à cremação. Marek Florek, arqueólogo líder da escavação e membro do Escritório para a Proteção de Monumentos em Sandomierz, revelou que os guerreiros vândalos foram cremados junto com suas armas, conforme evidenciado pela “pátina de fogo” presente nos objetos de metal.

Entre os artefatos recuperados estavam espadas, pontas de lança, escudos e fragmentos de vasos de argila queimados, todos cuidadosamente colocados nas sepulturas junto às cinzas dos corpos cremados. Essas armas e ferramentas foram essenciais durante a vida dos guerreiros e, segundo as tradições da época, deveriam acompanhá-los na vida após a morte.

Uma prática notável e incomum encontrada nesses túmulos foi a presença de espadas dobradas. De acordo com Florek, esse gesto simbólico representava a “morte” das armas, permitindo que o guerreiro as levasse para a vida após a morte. Ao mesmo tempo, o ato de dobrar as espadas as tornava inutilizáveis para saqueadores, protegendo o repouso dos falecidos.

Cultura Przeworsk e rituais funerários

A cultura Przeworsk, que habitou as regiões central e meridional da atual Polônia durante a Idade do Ferro, é conhecida por seu profundo respeito pelos guerreiros e pela prática de cremação. Os objetos funerários encontrados em túmulos, como os de Ostrowiec, eram geralmente queimados junto com o corpo e depois cuidadosamente depositados na sepultura.

As armas dobradas, em especial, indicam o status elevado dos indivíduos enterrados. As espadas, pontas de lança e escudos reforçam a ideia de que esses homens eram guerreiros de alta posição, possivelmente líderes dentro de suas tribos. Os fragmentos de cerâmica queimados, também encontrados nos túmulos, sugerem a realização de rituais adicionais durante a cremação, como a queima de oferendas para os mortos.

Esses enterros mostram semelhanças com outros cemitérios romanos da mesma época, como o de Chmielów, que já revelou mais de 150 sepulturas. Esses túmulos oferecem uma visão única da vida e morte na Europa Central durante a transição da Idade do Ferro para a Idade Média.

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Foto: Escritório Provincial para a Proteção de Monumentos em Kielce Sucursal em Sandomierz

A importância das espadas dobradas nos rituais

Um dos elementos mais intrigantes da descoberta é a prática de dobrar as espadas antes de colocá-las nas sepulturas. Essa tradição era comum entre as tribos germânicas, incluindo os vândalos, e possuía um significado profundo. Dobrar a espada simbolizava a “morte” do objeto, assegurando que ele seria usado na vida após a morte, de maneira semelhante ao que havia ocorrido durante a vida terrena do guerreiro.

Além de seu valor simbólico, esse ato também tinha um propósito prático. Ao danificar a arma, os parentes do falecido desencorajavam eventuais saqueadores, que não encontrariam utilidade nas espadas danificadas. Essa prática reforça a ideia de que as armas não eram vistas apenas como objetos utilitários, mas como extensões da identidade e poder do guerreiro.

Análise e preservação dos artefatos

Os artefatos encontrados nos túmulos dos guerreiros vândalos, incluindo as espadas, lanças, escudos e fragmentos de cerâmica, serão submetidos a um processo de preservação e análise. As descobertas serão levadas para o Museu do Castelo na cidade de Sandomierz, onde serão examinadas por especialistas em conservação de objetos antigos.

O estudo detalhado desses objetos poderá fornecer ainda mais informações sobre a cultura Przeworsk, especialmente no que diz respeito às técnicas de fabricação de armas, cerâmica e outros materiais usados pela sociedade da época. Além disso, a análise dos padrões de cremação poderá ajudar os arqueólogos a entender melhor os rituais e práticas funerárias desse grupo.

Escavações futuras no cemitério de Ostrowiec

As escavações em Ostrowiec ainda não chegaram ao fim. Marek Florek e sua equipe planejam continuar as investigações no local, com escavações adicionais previstas para os próximos meses e para o ano de 2025. O objetivo é mapear toda a extensão do cemitério e identificar mais sepulturas que possam fornecer novos insights sobre a vida e os costumes dos vândalos.

Florek destacou que o cemitério pode ter uma importância ainda maior do que o esperado, potencialmente abrigando dezenas de túmulos que remontam a esse período. As próximas escavações podem revelar mais detalhes sobre o tamanho e a estrutura do cemitério, bem como sobre as práticas culturais da tribo vândala.

Conclusão

A descoberta dos túmulos dos guerreiros vândalos na Polônia é um marco importante para a arqueologia da Idade do Ferro. Esses sepultamentos revelam não apenas as práticas funerárias detalhadas da cultura Przeworsk, mas também proporcionam uma janela para a vida desses guerreiros e a maneira como eles honravam seus mortos.

Arqueólogos trabalham nas ruínas de um antigo reino bíblico

O reino de Moabe, localizado a leste do Mar Morto e frequentemente mencionado na Bíblia hebraica, permanece um enigma em muitos aspectos. Embora os textos bíblicos ofereçam algumas referências, a compreensão abrangente sobre a vida cotidiana no reino moabita depende fortemente das descobertas arqueológicas.

Um dos locais mais reveladores para a exploração desta antiga civilização é Khirbet Balu’a, um vasto sítio arqueológico situado cerca de 24 quilômetros a leste da parte sul do Mar Morto e aproximadamente 65 quilômetros a sudoeste de Amã, capital da Jordânia moderna.

A Estela de Mesha, descoberta em Dhiban (a antiga Dibon) no século XIX, é um dos artefatos mais importantes relacionados a Moabe. Esta estela oferece nomes de alguns reis, detalhes sobre a religião centrada no deus Camos, e alguns aspectos sobre os conflitos com Israel. No entanto, ela fornece poucas informações sobre a vida cotidiana no reino moabita. Para compreender melhor os assentamentos urbanos e rurais, a economia local, o comércio, a religião doméstica e os costumes funerários, a arqueologia torna-se essencial.

Khirbet Balu’a é o maior sítio da Idade do Ferro em Moabe, abrangendo quase 40 hectares. Escavações revelaram vestígios de diferentes períodos históricos, incluindo as idades do Ferro, Persa, Helenística, Nabateia e Islâmica Tardia. A localização estratégica do sítio, na borda norte do planalto de Kerak e próximo ao Wadi al-Balu’a, que deságua no Wadi Mujib (o bíblico Rio Arnon), sugere sua importância na história moabita.

Embora as informações geográficas fornecidas pelos textos bíblicos não sejam específicas o suficiente para identificar com precisão Khirbet Balu’a, os estudiosos propuseram várias possibilidades. Entre elas estão Ar ou Ar-Moab (Números 21:15; Deuteronômio 2:9), a “cidade no meio do uádi [Arnon]” (Deuteronômio 2:36; Josué 13:9, 16) e “Bela’, que é Zoar” (Gênesis 14:2, 8).

Uma descoberta significativa que motivou as escavações iniciais foi a Estela Balu’a, um monumento de basalto de 6 pés de altura, descoberto em 1930. Esta laje esculpida, provavelmente datada do Bronze Final ou do início da Idade do Ferro (c. 1300–1100 a.C.), exibe uma cena de investidura real em estilo egípcio. Embora a inscrição esteja desgastada demais para ser lida, a estela sugere a importância do local durante esses períodos.

As escavações em Khirbet Balu’a têm se concentrado em três áreas principais, revelando a organização e a vida cotidiana no sítio durante a Idade do Ferro.

O Qasr, que significa “fortaleza” em árabe, é um grande edifício monumental com cerca de 140 por 115 pés, e paredes de 6 pés de espessura que ainda se erguem a uma altura de mais de 20 pés. Embora a função exata do edifício permaneça desconhecida, sua localização no ponto mais alto do assentamento sugere que ele era de grande importância. As escavações revelaram duas fases de construção: um edifício com pilares do início da Idade do Ferro IIB (séculos IX-VIII a.C.) e uma estrutura tardia da Idade do Ferro (c. século VI) com grandes jarros de armazenamento embutidos no chão.

A “Casa” é uma estrutura doméstica localizada na parte residencial do sítio. Embora sua fase mais antiga date da Idade do Ferro I (séculos XI-X a.C.), a maior parte da arquitetura pertence à Idade do Ferro IIB (séculos IX-VIII a.C.). As escavações revelaram três portas internas com lintéis intactos e evidências de danos substanciais causados por terremotos, onde algumas das paredes desabaram.

As escavações no “Muro” expuseram a enorme fortificação da Idade do Ferro do local. Inicialmente construído como um único muro datado do século XI a.C., já no século X, um muro paralelo e paredes de tocos interiores foram adicionados para criar um sistema de casamata. As câmaras criadas por essas adições foram preenchidas com bens domésticos, como pesos de tear e pedras de moer, sugerindo que eram usadas como casas ou depósitos. A última fase da construção, nos séculos VI-V a.C., incluiu torres construídas sobre o sistema de casamata; nesta época, o assentamento havia se expandido para o leste além do muro, servindo para separar as partes mais antigas e mais novas do local.

As escavações em Khirbet Balu’a fornecem um vislumbre detalhado da vida cotidiana no reino de Moabe. A descoberta de utensílios domésticos, ferramentas e cerâmicas indica uma comunidade organizada e autossuficiente. A presença de grandes jarros de armazenamento sugere uma economia agrícola robusta, com produção e armazenamento de alimentos em larga escala.

Moabe estava estrategicamente localizado em rotas comerciais importantes, facilitando o comércio com outros reinos da região. A cerâmica encontrada em Khirbet Balu’a mostra influências de diferentes culturas, indicando uma rede de comércio ativa. Os produtos agrícolas, junto com a cerâmica e outros bens manufaturados, eram provavelmente trocados com vizinhos, contribuindo para a prosperidade econômica do reino.

Embora a Estela de Mesha forneça alguns detalhes sobre a religião oficial centrada no deus Camos, as escavações revelaram aspectos da religião doméstica. Pequeninas inscrições alfabéticas e artefatos religiosos encontrados em Khirbet Balu’a sugerem práticas religiosas cotidianas e devoção a divindades locais.

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