Cientistas descobrem vasto “oceano” subterrâneo a 700 km sob a Terra

A descoberta de um vasto “oceano” subterrâneo localizado a aproximadamente 700 quilômetros abaixo da crosta terrestre transformou o entendimento dos cientistas sobre a quantidade de água presente em nosso planeta. Essa descoberta surpreendente revela que há enormes volumes de água armazenados em camadas profundas da Terra, presas em uma forma mineralizada chamada ringwoodita.

A pesquisa aponta que a quantidade de água pode ser maior do que todos os oceanos da superfície combinados, revelando um sistema geológico complexo e repleto de segredos. Este “oceano” oculto oferece novas perspectivas sobre a dinâmica do planeta e questiona teorias antigas sobre a formação e evolução da água em nosso mundo.

O que é o “oceano” subterrâneo?

Esse “oceano” não é como os mares e oceanos que conhecemos na superfície. A água não está presente em sua forma líquida tradicional, mas sim em uma forma mineralizada que faz parte de uma rocha conhecida como ringwoodita.

Essa rocha, que só existe em condições de alta pressão e temperatura, possui uma estrutura que permite armazenar moléculas de água em seu interior, formando uma espécie de “esponja” geológica. Estudos de sismologia e experimentos laboratoriais confirmaram a presença de água na ringwoodita em proporções surpreendentes, revelando a existência desse vasto reservatório de água que se estende por uma profundidade entre 410 e 660 quilômetros, na zona de transição do manto terrestre.

A descoberta dessa água armazenada em profundidades tão grandes muda a visão sobre o ciclo da água no planeta, ampliando nosso entendimento para além dos oceanos superficiais, das calotas polares e dos aquíferos. Este ciclo profundo sugere que há uma circulação de água entre as camadas da Terra, influenciando a atividade vulcânica, os terremotos e até a formação de continentes.

A descoberta desse “oceano” subterrâneo foi possível graças aos avanços em técnicas de sismologia, que permitem mapear o interior da Terra com mais precisão. Ao estudar as ondas sísmicas geradas por terremotos, cientistas podem observar como essas ondas se comportam ao atravessar diferentes camadas do planeta.

Em 2014, pesquisas apontaram que ondas sísmicas desaceleravam ao atravessar a zona de transição, sugerindo que havia algo nessa camada que alterava seu comportamento. Mais tarde, com o auxílio de experimentos laboratoriais e simulações, pesquisadores identificaram que essa mudança nas ondas estava associada à presença de água na ringwoodita.

Além das ondas sísmicas, amostras de ringwoodita encontradas em erupções vulcânicas, onde o material do manto é expelido à superfície, forneceram evidências diretas da água na composição da rocha. Essas amostras permitiram análises laboratoriais, onde os cientistas verificaram que a ringwoodita podia conter até 1,5% de seu peso em moléculas de água, um índice impressionante para uma rocha tão densa e profunda.

A ringwoodita é um dos principais minerais responsáveis por armazenar água nas profundezas da Terra. Descoberta pela primeira vez em laboratório, ela é um mineral raro que forma-se apenas em condições extremas, como as que existem na zona de transição do manto terrestre. A estrutura única da ringwoodita permite que ela aprisione moléculas de água em sua matriz cristalina, o que a torna um “reservatório” natural de água no interior do planeta.

A presença de água na ringwoodita implica que o ciclo hidrológico do planeta é muito mais complexo do que se imaginava. Até então, acreditava-se que a água na Terra estava praticamente limitada à superfície, e que o manto era praticamente seco. A ringwoodita, no entanto, muda esse conceito, sugerindo que a água do planeta é transportada entre a superfície e o interior, um processo que pode estar em andamento há bilhões de anos.

A descoberta desse reservatório subterrâneo de água traz novas explicações para fenômenos geológicos, como a atividade vulcânica e a movimentação das placas tectônicas. A água no manto terrestre pode influenciar a fusão de rochas, reduzindo a temperatura necessária para que elas entrem em fusão e originem o magma. Esse magma, por sua vez, alimenta erupções vulcânicas e contribui para a criação de novas formações geológicas na superfície.

Além disso, o acúmulo e a liberação de água nas profundezas da Terra podem impactar a pressão no manto, afetando o movimento das placas tectônicas e a formação de cadeias montanhosas e bacias oceânicas. Essa presença de água em camadas profundas ajuda a entender a relação entre a superfície e o interior do planeta e fornece insights valiosos sobre como os movimentos das placas tectônicas são desencadeados.

A existência de grandes quantidades de água nas profundezas da Terra traz novas perguntas sobre a origem dos oceanos e da água no planeta. Uma teoria antiga é que a água teria sido trazida para a Terra por cometas e meteoritos ricos em gelo que bombardearam o planeta em seus estágios iniciais. No entanto, a descoberta de água no manto sugere que uma parte significativa da água terrestre pode ter se originado internamente, sendo trazida à superfície ao longo de bilhões de anos por atividades vulcânicas e processos tectônicos.

Esse cenário implica que a Terra pode ter criado suas próprias reservas de água desde sua formação, e que a água superficial pode ser apenas a “ponta do iceberg” de um ciclo hidrológico muito maior e mais profundo. A descoberta de água na zona de transição também é um passo importante para estudos sobre outros planetas, pois sugere que corpos celestes com estrutura e composição semelhantes à Terra podem ter água em suas camadas internas, aumentando a possibilidade de ambientes propícios à vida.

A identificação de um “oceano” subterrâneo no manto terrestre não apenas revoluciona a geologia, mas também influencia a exploração espacial. Essa descoberta sugere que planetas rochosos similares à Terra podem ter sistemas de água em suas profundezas, aumentando as chances de que encontremos água em lugares além do nosso planeta. Estudos de exoplanetas, especialmente os que possuem características geológicas semelhantes à Terra, agora podem considerar a possibilidade de grandes volumes de água armazenados em profundidades consideráveis.

A busca por água em outros planetas é um dos pilares na procura de vida extraterrestre, e a ideia de que grandes quantidades de água possam estar aprisionadas sob a superfície de outros planetas ou luas do sistema solar, como Marte e a lua Europa, de Júpiter, traz novas possibilidades para futuras missões espaciais e pesquisas astrobiológicas.

A descoberta do “oceano” subterrâneo abre caminho para novas pesquisas geológicas e tecnológicas. Com o avanço das tecnologias de análise sísmica e simulações em laboratório, cientistas poderão explorar melhor a extensão e a dinâmica desse reservatório de água profunda. Entender a interação entre as camadas do manto e da superfície, o impacto da água na atividade tectônica e a influência desse ciclo na formação de novas terras são temas que prometem transformar nosso entendimento sobre a geodinâmica terrestre.

Além disso, o estudo da ringwoodita e de outras rochas presentes na zona de transição pode oferecer mais detalhes sobre as condições em que a água é armazenada e transportada no manto. Compreender como essa água chega à superfície e como afeta o ciclo hidrológico e o clima global é uma área que desperta o interesse tanto de geólogos quanto de cientistas ambientais.

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