A renda habitual média dos trabalhadores brasileiros registrou um crescimento interanual de 5,8% no segundo trimestre de 2024, de acordo com estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta sexta-feira, 6 de setembro.
Os dados, extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que os rendimentos do trabalho seguem em trajetória de elevação, embora com algumas flutuações mensais. Após alcançar o pico de R$ 3.255 em abril, o rendimento habitual médio real caiu para R$ 3.187 em julho, uma redução de 2,1%.
Este artigo analisa as nuances do crescimento da renda no Brasil, detalhando como diferentes categorias de trabalhadores, setores econômicos e regiões do país experimentaram variações em seus rendimentos, e o impacto desse cenário no poder de compra dos brasileiros.
Os dados do segundo trimestre de 2024 indicam um aumento interanual considerável na renda habitual média dos trabalhadores brasileiros. O avanço de 5,8% é uma boa notícia em um momento em que a recuperação econômica do Brasil pós-pandemia segue desafiadora. No entanto, o estudo aponta também para uma retração de 2,1% na renda em julho, após o pico de abril, o que reflete a volatilidade que ainda afeta a economia.
Essa oscilação demonstra que, apesar do crescimento generalizado, fatores como inflação, políticas salariais e a flutuação econômica em determinados setores ainda impactam o poder de compra dos trabalhadores. O recuo observado entre abril e julho deve ser observado com cautela, pois revela um possível enfraquecimento temporário da capacidade de consumo, que pode afetar outros indicadores econômicos.
Um dos pontos mais relevantes do estudo é a diferença no crescimento dos rendimentos entre as diversas categorias de trabalhadores. De forma geral, os trabalhadores por conta própria, empregados sem carteira assinada e funcionários do setor público experimentaram um crescimento acima da média, com variações de 7%, 7,9% e 7,4%, respectivamente.
Por outro lado, os trabalhadores privados com carteira assinada apresentaram um crescimento mais modesto, de 4,4%, o que revela uma diferença significativa no ritmo de recuperação desses grupos. Desde o início de 2023, essa categoria tem registrado um crescimento mais lento em comparação com outros tipos de vínculo empregatício. Isso pode ser explicado pela rigidez dos contratos de trabalho formais e pelo impacto da inflação nas negociações salariais do setor privado.
A diferença de crescimento entre as categorias de trabalhadores destaca um ponto importante: a flexibilização no mercado de trabalho, especialmente para trabalhadores autônomos e do setor público, pode ter contribuído para uma recuperação mais ágil desses grupos, enquanto o setor privado formal ainda enfrenta desafios para reajustar salários em um ritmo competitivo.
Além das diferenças por categoria de trabalhadores, o estudo revela variações regionais e por nível de escolaridade. A Região Nordeste foi destaque no aumento da renda, com um crescimento de 8,5%, enquanto a Região Centro-Oeste apresentou o menor aumento, com 3,3%. Esse crescimento desigual pode ser atribuído a fatores locais, como políticas públicas regionais, investimento em infraestrutura e o impacto de indústrias locais no mercado de trabalho.
No que diz respeito à escolaridade, os trabalhadores com ensino superior obtiveram um crescimento de 5,7% em seus rendimentos, enquanto aqueles com ensino fundamental incompleto ou escolaridade inferior registraram um crescimento fraco de 1,1%. Esse dado ressalta a importância da educação como fator determinante para melhores oportunidades de trabalho e aumentos salariais no Brasil.
Outro ponto interessante é o crescimento de 8,8% na renda entre os trabalhadores com mais de 60 anos. Esse aumento pode ser reflexo do envelhecimento da população brasileira e do maior número de idosos ativos no mercado de trabalho, especialmente em atividades que não demandam grande esforço físico ou que permitem o trabalho remoto.
Os rendimentos dos trabalhadores também variaram significativamente entre os setores da economia. O desempenho mais fraco foi observado nos setores de construção, agricultura e serviços profissionais, com quedas ou crescimentos modestos:
- Construção: queda de 1%;
- Agricultura: aumento de apenas 0,5%;
- Serviços profissionais: aumento de 2,1%.
Esses números indicam que, apesar do crescimento generalizado da renda, alguns setores ainda enfrentam desafios para se recuperar completamente. A construção, em particular, vem sofrendo com a desaceleração de projetos de infraestrutura e o aumento dos custos de insumos, enquanto a agricultura sente os impactos de crises climáticas e a instabilidade no preço de commodities.
Por outro lado, os trabalhadores da indústria e da administração pública tiveram um desempenho acima da média, com aumentos superiores a 8%. A administração pública, em especial, tem se beneficiado de reajustes salariais recentes e da estabilidade de seus empregos, enquanto a indústria, com o aumento da demanda por produtos manufaturados e a retomada de atividades pós-pandemia, apresentou uma recuperação mais robusta.
O estudo também destaca a diferença de crescimento dos rendimentos entre homens e mulheres. Embora, ao longo de 2023, a renda habitual das mulheres tenha crescido em um ritmo superior ao dos homens (com variação de 4,2% contra 2,5% no quarto trimestre), no segundo trimestre de 2024 o cenário se inverteu. O crescimento da renda dos homens foi de 6,2%, enquanto o das mulheres ficou em 5,2%.
Essa diferença de crescimento pode ser explicada por diversos fatores, incluindo as disparidades salariais históricas entre os gêneros e as variações no tipo de ocupação que homens e mulheres desempenham no mercado de trabalho. No entanto, o fato de a renda das mulheres ter superado a dos homens em certos períodos é um sinal de que, embora persistam as desigualdades, há uma tendência de avanço em direção à equiparação salarial.
O crescimento de 5,8% na renda habitual média dos trabalhadores brasileiros no segundo trimestre de 2024 representa um avanço importante em um contexto econômico ainda desafiador. No entanto, as flutuações mensais e as diferenças no desempenho entre categorias, regiões e setores indicam que ainda há muito trabalho a ser feito para garantir um crescimento sustentável e equitativo.
Para os próximos meses, será fundamental acompanhar de perto a evolução da economia brasileira, especialmente em relação à inflação, à recuperação do poder de compra e à criação de empregos formais. Setores como a construção e a agricultura precisarão de políticas específicas para superar seus desafios, enquanto o setor de serviços e o comércio poderão continuar a desempenhar papéis importantes na geração de renda.