Por que sabemos mais sobre o espaço do que sobre o fundo do mar

O que torna o fundo do mar mais desafiador e menos explorado que o espaço

O fascínio humano pelo desconhecido sempre nos motivou a explorar os limites de nosso planeta e além dele. Nos últimos 60 anos, a exploração espacial avançou em um ritmo acelerado, levando o homem à Lua, lançando sondas a Marte e construindo telescópios que observam as profundezas do universo.

No entanto, algo curioso ocorre em relação à exploração do fundo do mar, um ambiente inóspito e misterioso, ainda cheio de segredos e menos conhecido do que o espaço. Por que, então, investimos tanto em descobrir os mistérios do cosmos enquanto grande parte do oceano permanece um enigma?

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fundo do mar mais desafiador e menos explorado que o espaço

O espaço exerce um apelo enorme sobre a humanidade, tanto pela curiosidade científica quanto pela busca por respostas sobre a origem e o futuro da vida. Desde que o homem começou a observar o céu, sempre houve uma atração pelo desconhecido. Ir para o espaço também representa um grande marco para a ciência e o desenvolvimento humano, elevando o status dos países que lideram essas missões.

A corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética, por exemplo, foi um dos maiores motores do avanço tecnológico do século XX, resultado de um desejo tanto de exploração quanto de prestígio internacional.

O financiamento é outro fator determinante. Organizações como a NASA e, mais recentemente, empresas privadas como SpaceX e Blue Origin, recebem bilhões em investimentos para desenvolver tecnologias espaciais. Esse apoio financeiro é impulsionado, em parte, pela perspectiva de que a exploração do espaço pode oferecer respostas para problemas globais, como encontrar um novo habitat para a humanidade, acesso a recursos minerais de asteroides e novos avanços tecnológicos.

Com esses incentivos, as tecnologias para a exploração espacial se desenvolveram rapidamente, tornando possível o envio de sondas a distâncias inimagináveis e a coleta de informações sobre o universo.

Se a exploração do espaço tem seus desafios, a exploração submarina não fica atrás. O fundo do mar é uma das áreas mais hostis do planeta para a presença humana, e as tecnologias para explorá-lo são complexas e caras. Pressões intensas, falta de luz e temperaturas extremamente baixas tornam a exploração de grandes profundidades algo desafiador.

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Enquanto o espaço é um vácuo, os oceanos são repletos de água que exerce pressões crescentes à medida que se desce. Por exemplo, a pressão no fundo da Fossa das Marianas, o ponto mais profundo dos oceanos, é mais de mil vezes maior que a pressão atmosférica ao nível do mar.

Desenvolver equipamentos que suportem essas condições extremas é um dos maiores desafios da exploração submarina. Submarinos e drones submarinos, conhecidos como veículos operados remotamente (ROVs), são projetados para suportar pressões extremas, mas a profundidade e a dificuldade de comunicação tornam as missões subaquáticas extremamente complicadas e dispendiosas. Além disso, a visibilidade no fundo do mar é limitada, exigindo o uso de equipamentos avançados para capturar imagens e mapear a área.

A exploração espacial é amplamente financiada por governos e, mais recentemente, por empresas privadas, com um interesse crescente pelo potencial econômico e comercial que o espaço oferece. A exploração dos oceanos, por outro lado, raramente desperta o mesmo entusiasmo do público e das instituições financeiras. Parte disso se deve ao apelo emocional e à ideia de aventura associada ao espaço.

Além disso, há uma visão comum de que os oceanos não representam a mesma “novidade” que o espaço. Por serem parte do nosso planeta, o imaginário coletivo muitas vezes enxerga o fundo do mar como menos misterioso e atraente, mesmo que ele contenha espécies e ecossistemas ainda desconhecidos e surpreendentes. Esse desinteresse acaba resultando em menos recursos destinados à exploração oceânica, o que limita as pesquisas e o avanço de tecnologias subaquáticas.

Outro aspecto interessante é que a exploração do espaço parece ter mais relação com o futuro da humanidade, como a possibilidade de habitar outros planetas ou acessar recursos fora da Terra. Os oceanos, por outro lado, embora essenciais para a vida, não carregam o mesmo peso simbólico para o futuro da civilização. Esse contraste afeta diretamente o volume de investimentos e projetos de pesquisa dedicados a cada área.

Apesar da falta de interesse comparativo, o fundo do mar guarda mistérios fascinantes e ecossistemas únicos que podem contribuir muito para a ciência. Nas profundezas, existem seres que se adaptaram a condições extremas, como a ausência de luz e pressões altíssimas, e possuem características que ainda intrigam os cientistas. Espécies como os peixes abissais, que produzem luz própria para caçar, e os vermes tubulares gigantes, que vivem em simbiose com bactérias, mostram a diversidade e a resiliência da vida marinha.

Além disso, muitas descobertas no fundo do mar têm potencial para influenciar a biotecnologia, a medicina e até a conservação ambiental. Certas espécies marinhas produzem compostos bioativos que são estudados para o desenvolvimento de medicamentos e tratamentos para doenças. Esse potencial biotecnológico é um dos grandes argumentos a favor da exploração oceânica, e mesmo que os avanços sejam mais lentos, existem esforços para desenvolver tecnologias e aumentar o conhecimento sobre o fundo dos oceanos.

Nos últimos anos, houve avanços significativos na tecnologia de exploração submarina, impulsionados por inovações como drones subaquáticos, sensores e robótica avançada. Em 2012, por exemplo, o cineasta James Cameron realizou uma expedição solo até o fundo da Fossa das Marianas, o ponto mais profundo da Terra, utilizando um submarino especialmente projetado. Esses avanços possibilitam que cientistas alcancem novas profundidades e estudem áreas inexploradas dos oceanos.

Embora esses esforços representem um passo importante, a exploração oceânica ainda carece de investimento e desenvolvimento comparável à exploração espacial. Porém, com o aumento da conscientização sobre a importância dos oceanos para o clima e a biodiversidade global, cresce também o interesse em expandir o conhecimento sobre o fundo do mar. Iniciativas como o projeto Seabed 2030, que busca mapear o fundo dos oceanos até 2030, são exemplos de como a ciência começa a se mobilizar para preencher essa lacuna.

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Ao contrário do que muitos imaginam, explorar o fundo do mar pode ser mais caro do que explorar o espaço, especialmente por conta das pressões extremas e da densidade da água. Para enviar um robô a Marte, por exemplo, é necessário considerar a distância e a tecnologia necessária para um ambiente de baixa pressão. No caso do fundo do mar, as pressões extremas exigem materiais e equipamentos que aumentam os custos das missões.

Apesar disso, os oceanos oferecem um campo de exploração mais próximo e com possibilidades práticas de estudo em tempo real, algo que o espaço ainda não permite. Com o desenvolvimento de tecnologias acessíveis e parcerias entre governos e instituições privadas, é possível que a exploração oceânica se torne cada vez mais viável, democratizando o acesso a esse conhecimento.