Furacão Milton e Greening afetam produção de laranjas nos EUA e Brasil

O furacão Milton, que devastou partes dos Estados Unidos em outubro, trouxe consequências severas para a produção de frutas cítricas na Flórida, um dos principais polos citrícolas do país. Paralelamente, a doença Greening segue avançando e ameaçando as safras de laranja nos Estados Unidos e no Brasil, gerando um cenário de escassez na oferta global.

A previsão do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) para a safra 2024/2025 é de uma produção de 2,62 milhões de toneladas de laranja, uma queda de 5% em comparação com o ciclo anterior. Já no Brasil, a redução esperada é ainda mais expressiva: 215,78 milhões de caixas de 40,8 kg, uma perda de 16,6 milhões de caixas em relação ao último período.A passagem do furacão Milton agravou uma situação que já era delicada para a produção de laranjas nos Estados Unidos.

A Flórida, tradicionalmente uma das maiores regiões produtoras de cítricos, foi particularmente afetada pelas chuvas intensas e ventos fortes, comprometendo não apenas a colheita imediata, mas também a saúde das plantações a longo prazo. A doença Greening, que há anos desafia os produtores de citros, continua se alastrando, causando uma redução significativa na produtividade.

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No Brasil, embora não tenha sido afetado por furacões, o Cinturão Citrícola de São Paulo e do Triângulo Mineiro também enfrenta dificuldades devido ao clima severo. As temperaturas elevadas e a falta de chuvas afetam diretamente a produtividade das lavouras, que também sofrem com a intensificação do Greening.

De acordo com a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), a doença teve um aumento alarmante de 44,35% na incidência em 2024, impactando fortemente a produção.Para Antônio Carlos Simonetti, vice-presidente da Associação Brasileira dos Citros de Mesa (ABCM) e presidente da Câmara Setorial da Citricultura de São Paulo, o momento é de grandes desafios para o setor.

Ele destaca que as condições climáticas adversas, combinadas com a escassez de água, têm prejudicado tanto a produção brasileira quanto a americana. Além disso, ele ressalta que o Greening é atualmente a maior ameaça para a citricultura mundial, exigindo ações coordenadas para conter seu avanço.

No Brasil, a busca por soluções para minimizar os impactos da doença inclui a migração para áreas mais altas e isoladas, o que pode reduzir a propagação do Greening. No entanto, Simonetti alerta que a citricultura enfrenta um obstáculo adicional: a dificuldade em garantir a sucessão familiar nas propriedades rurais, uma vez que as novas gerações frequentemente escolhem seguir carreiras fora do setor agrícola.

Apesar das dificuldades, o Brasil mantém seu protagonismo no mercado internacional de suco de laranja. Dados do Comex Stat mostram que, entre julho e setembro de 2024, a receita com exportações de suco de laranja concentrado alcançou US$ 905,3 milhões, um aumento de 42,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Contudo, o volume exportado caiu 27%, totalizando 207.500 toneladas até setembro.

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A queda no volume exportado reflete a escassez de frutas disponível para processamento, resultado das condições climáticas desfavoráveis e da intensificação da doença Greening. Mesmo assim, o aumento na receita demonstra que a demanda global pelo suco brasileiro continua alta, compensando parcialmente a menor oferta.

Nos Estados Unidos, a capacidade de expandir a produção citrícola é limitada devido à competição com o setor imobiliário. Enquanto o Brasil ainda tem áreas disponíveis para cultivo, permitindo a busca por novas regiões mais propícias ao plantio, os produtores americanos enfrentam dificuldades para ampliar suas operações. Isso representa uma vantagem competitiva para o Brasil, que pode diversificar suas áreas de cultivo e implementar novas tecnologias para aumentar a produtividade.

Entretanto, a necessidade de modernização e adaptação às novas condições climáticas exige investimentos em sistemas de irrigação e manejo sustentável, o que aumenta os custos de produção. Além disso, o setor enfrenta o desafio de atrair jovens para a citricultura, garantindo a continuidade das operações nas próximas gerações.

Para garantir a sustentabilidade do setor, tanto o Brasil quanto os Estados Unidos estão investindo em pesquisas para combater o Greening e adaptar as plantações às novas condições climáticas. Instituições de pesquisa trabalham no desenvolvimento de variedades mais resistentes e em soluções biotecnológicas para conter a doença.

A colaboração internacional entre produtores e cientistas é fundamental para enfrentar os desafios que ameaçam a citricultura mundial. A inovação tecnológica, aliada à adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis, será essencial para assegurar a continuidade da produção e atender à crescente demanda global por suco e frutas cítricas.