Autor: Dartagnan da Silva Zanela
Hannah Arendt nos ensina que a educação é o alicerce de uma república. É através de uma formação sólida que se edificam as bases sobre as quais os cidadãos poderão construir as suas vidas e desenvolver de forma plena a sua participação na sociedade. Por essa razão, não se deve brincar com a educação, nem agir de forma leviana em relação a ela, porque é através dela, da forma como ela é constituída, que se desenha o futuro e se edifica a personalidade dos indivíduos.
Sobre esse ponto, José Ortega y Gasset nos chama a atenção para um fato que, muitas e muitas vezes é esquecido por nós: se almejamos saber como será a sociedade em que vivemos daqui a uns trinta anos, basta que voltemos os nossos olhos para aquilo que é vivenciado hoje nas salas de aula. Não tem erro, nem “lero-lero”; ali encontra-se o germe do futuro que nos aguarda.
E tendo essa preocupação em mente, preocupação essa que há muito fora manifestada pelos dois filósofos acima citados, é que a professora Inger Enkvist faz uma dura advertência a todos aqueles que tiverem ouvidos para ouvir: um governo que não trata com a devida seriedade a educação das nossas crianças e jovens está agindo de forma frívola com relação ao futuro da nossa sociedade. Quando os governantes atuam de forma negligente com relação à educação das tenras gerações, eles estão agindo de forma irresponsável com relação à continuidade da existência da própria sociedade.
Uma das colunas fundamentais para se preparar as bases do futuro é criar os meios para transmitir o patrimônio cultural, a herança intelectual que nos foi legada pela humanidade, para as gerações mais jovens, para que, deste modo, elas possam ter uma visão mais ampla da realidade e das possibilidades humanas, como bem nos lembra o professor Gregório Luri.
Agora, se nós não conseguimos fazer isso, transmitir essa herança para as tenras gerações, a sociedade tal qual nós a conhecemos, em um curto espaço de tempo, sofrerá uma profunda transubstanciação.
Ora, quando vemos inúmeras pessoas imersas nas sombras do analfabetismo funcional, quando nos deparamos com incontáveis indivíduos presos num círculo vicioso onde o narcisismo, as compulsões, o egocentrismo e a adolescência sem fim predominam, constatamos que a forma leviana como a educação vem sendo tratada nas últimas décadas já está dando os seus frutos e que o futuro já está apresentando os seus primeiros traços. Traços esses que, em alguma medida, estão estampados nos rostos de todos nós.
(*) professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.
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