Incêndios florestais no Brasil crescem 76% em 2024 e alertam para crise ambiental

O ano de 2024 trouxe um cenário alarmante para o meio ambiente no Brasil. Com mais de 2,3 mil focos de incêndio detectados em apenas 48 horas, o país já acumula um total de 226,6 mil registros de queimadas, um aumento de 76% em relação ao mesmo período de 2023.

Os dados, divulgados pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram uma crise ambiental que se agrava com a alta incidência de incêndios, especialmente na Amazônia, Cerrado e Pantanal. Essa situação crítica demanda uma mobilização intensa para controlar os danos e evitar maiores impactos nos ecossistemas brasileiros.

A Amazônia, que abriga a maior floresta tropical do mundo, é o bioma mais atingido pelas queimadas em 2024, com 49,4% do total de focos detectados em território brasileiro. O impacto devastador dos incêndios na Amazônia tem repercussões não apenas locais, mas globais, considerando o papel crucial da floresta na regulação do clima e na manutenção da biodiversidade.

Somente nas últimas 48 horas, o estado do Pará, na região Norte, registrou 466 focos de calor, um indicativo da intensidade das queimadas que têm assolado a área. Além disso, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) emitiu um alerta de chuvas intensas para a região, mas essa previsão de precipitação não deve ser suficiente para reverter o quadro de seca que predomina até dezembro, conforme a expectativa de chuvas abaixo da média histórica.

A combinação entre incêndios e baixa umidade do solo coloca a Amazônia em uma situação de vulnerabilidade, ameaçando a fauna, flora e as comunidades que dependem dos recursos naturais da floresta. A falta de umidade também dificulta os esforços de controle das queimadas, tornando a resposta emergencial ainda mais complexa.

O Cerrado, que é conhecido como a “caixa d’água do Brasil” devido ao grande número de nascentes que abriga, é o segundo bioma mais impactado pelas queimadas. Até outubro de 2024, o bioma acumulou 32,1% do total de focos de incêndio no Brasil, um número alarmante que coloca em risco a biodiversidade e os recursos hídricos da região.

Uma das áreas mais afetadas dentro do bioma Cerrado é a região do Matopiba, que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Nos últimos dois dias, essa região registrou 826 focos de calor. A baixa umidade e a extensa área de vegetação seca tornam a região suscetível a incêndios florestais de grandes proporções, especialmente no sul do Maranhão e no centro-norte da Bahia.

O Cerrado tem um papel vital no equilíbrio ecológico e é uma área de grande importância agrícola. No entanto, a crescente degradação do bioma devido às queimadas e ao desmatamento tem causado uma redução significativa da biodiversidade, impactando tanto o meio ambiente quanto as atividades econômicas.

Embora o Pantanal seja responsável por apenas 6% do total de focos de incêndio no Brasil em 2024, ele registrou o maior crescimento percentual em comparação com 2023, com um impressionante aumento de 1.240%. Este bioma, que já enfrentou incêndios severos em anos anteriores, está novamente sob intensa pressão, e o aumento drástico de queimadas coloca em risco sua biodiversidade única.

A seca extrema que afeta o Pantanal em 2024 é um dos principais fatores que têm impulsionado o aumento dos incêndios. A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) declarou situação de escassez hídrica na região hidrográfica do Paraguai, que abrange grande parte do bioma pantaneiro. Isso agravou a vulnerabilidade das áreas naturais, com rios em níveis historicamente baixos e comunidades inteiras isoladas pela falta de acesso às vias fluviais.

No dia 13 de outubro, o Rio Paraguai, em Mato Grosso do Sul, atingiu o menor nível já registrado na história, superando o recorde de 1964 na estação do município de Ladário. Essa situação não apenas favorece a propagação dos incêndios, mas também dificulta o acesso das equipes de combate ao fogo, já que muitos rios e canais que serviam como rotas de transporte agora estão secos ou intransitáveis.

Diante da crise ambiental, o governo federal mobilizou 3.732 profissionais para atuar no combate aos incêndios florestais na Amazônia, Cerrado e Pantanal. Além disso, foram disponibilizadas 28 aeronaves para auxiliar nas operações de controle e extinção das queimadas. Segundo o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, o governo está monitorando de perto a situação, buscando agir de forma rápida e eficiente.

O governo também mantém uma Sala de Situação para discutir medidas emergenciais relacionadas às mudanças climáticas e ao aumento dos incêndios. Esta estrutura permite que decisões coordenadas sejam tomadas, avaliando a necessidade de recursos adicionais e o reforço de equipes em áreas mais críticas.

No entanto, a magnitude do problema exige ações coordenadas não apenas do governo federal, mas também dos estados, organizações não governamentais e da sociedade em geral. A implementação de políticas públicas voltadas para a prevenção de queimadas, o controle do desmatamento e a conservação dos biomas afetados é essencial para enfrentar a crise de maneira sustentável.

O impacto das queimadas no Brasil vai além dos danos ambientais, afetando diretamente a saúde das populações locais. A inalação de fumaça proveniente dos incêndios florestais pode causar problemas respiratórios graves, especialmente entre grupos vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com condições respiratórias preexistentes.

Além disso, a destruição de áreas florestais e de vegetação nativa resulta em perda de habitat para diversas espécies, muitas das quais já estão ameaçadas de extinção. A destruição da fauna e flora compromete a biodiversidade e altera os ciclos naturais de regeneração dos ecossistemas.

As queimadas também têm um impacto significativo no agravamento das mudanças climáticas. A liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera contribui para o aumento do efeito estufa, intensificando o aquecimento global. A perda de áreas florestais, que atuam como sumidouros de carbono, reduz a capacidade do planeta de absorver esses gases, ampliando os efeitos negativos no clima.

Paralelamente ao aumento dos incêndios, o Brasil enfrenta uma severa crise hídrica. A Agência Nacional das Águas (ANA) declarou situação de escassez em vários rios importantes, como o Madeira, Purus, Tapajós e Xingú, todos localizados na Região Norte. A baixa dos níveis dos rios tem causado problemas de abastecimento para comunidades ribeirinhas, muitas das quais estão isoladas devido à falta de transporte fluvial.

A seca prolongada também agrava os incêndios florestais, já que a vegetação seca se torna altamente inflamável. Além disso, a falta de água dificulta os esforços de combate às chamas, reduzindo a disponibilidade de recursos hídricos para as operações de controle dos focos de incêndio.

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