A arqueologia tem feito descobertas revolucionárias, e entre as últimas grandes revelações, uma se destacou e causou repercussão mundo afora. Nas profundezas do mar da costa de Pozzuoli, na região metropolitana de Nápoles, um templo árabe de 2 mil anos foi encontrado, surpreendendo pesquisadores.
De acordo com os estudiosos, o templo foi construído por imigrantes do Reino Nabateu e ficou escondido sob as águas no antigo porto romano de Puteoli, um dos maiores centros comerciais do mundo antigo.
A descoberta não é apenas um achado arquitetônico, mas um elo crucial que demonstra a fusão entre as culturas romana e nabateia. Entre os objetos encontrados, altares brancos e placas de mármore com inscrições em latim indicam que o templo era consagrado a Dushara, o principal deus nabateu. Essa descoberta abre novos caminhos para explorar como diferentes culturas coexistiram e influenciaram umas às outras na antiguidade.
Os Nabateus, famosos por construções icônicas como o “Tesouro de Petra”, trouxeram sua herança religiosa e adaptaram elementos romanos ao seu estilo. Essa interação reflete a dinâmica complexa entre imigração, comércio e religião, revelando uma história rica de adaptação cultural e resistência em tempos de domínio romano.
O porto de Puteoli e sua importância histórica
O porto romano de Puteoli, onde o templo foi encontrado, era o segundo mais importante do mundo antigo. Situado estrategicamente na costa da Itália, ele servia como um elo vital entre o Império Romano e o Oriente Médio, facilitando o comércio de bens como especiarias, tecidos e pedras preciosas.
No entanto, o porto não resistiu às forças da natureza. Alterações na costa, causadas por atividades vulcânicas, levaram à submersão de grande parte de sua estrutura. Restam hoje apenas 1,9 quilômetros de ruínas, mas o fundo do mar guarda relíquias como o templo nabateu, que os arqueólogos começaram a explorar em 2023.
A descoberta foi possível graças a tecnologias avançadas de mapeamento subaquático, que revelaram duas salas com paredes em estilo romano. Essas salas, com 10 metros de altura e 6 metros de largura, abrigavam dois altares. As inscrições em latim, cuidadosamente esculpidas em placas de mármore, indicam que o templo era dedicado a práticas religiosas nabateias.
O Reino Nabateu e sua relação com Roma
O Reino Nabateu, fundado em 323 a.C., prosperou por séculos como uma potência comercial. Localizado na região onde hoje é a Jordânia, o reino controlava importantes rotas de comércio, o que atraiu a atenção de Roma. Em 106 d.C., o imperador Trajano anexou o reino ao Império Romano, criando a província da Arábia.
Essa anexação marcou o declínio da independência nabateia. As moedas cunhadas na época mostram reis nabateus em posições de submissão, um símbolo de humilhação para um povo outrora poderoso. Apesar disso, a cultura nabateia não desapareceu. Suas práticas religiosas e arquitetônicas, como as vistas no templo submerso, continuaram a influenciar as regiões dominadas.
A descoberta do templo revela como os nabateus mantiveram sua identidade cultural mesmo sob o domínio romano. A arquitetura, embora inspirada pelo estilo romano, reflete as crenças e tradições nabateias. Essa resistência cultural é um testemunho da resiliência de um povo que se adaptou às adversidades.
O significado religioso do templo
Os altares brancos e as inscrições em latim encontradas no templo indicam que ele era consagrado a Dushara, o principal deus nabateu. Dushara, frequentemente associado à fertilidade e à proteção, era uma figura central na religião nabateia. A escolha de inscrever textos em latim, a língua oficial de Roma, sugere uma tentativa de integrar as práticas religiosas ao contexto local sem perder a essência de suas crenças.
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Segundo o arqueólogo marítimo Michele Stefanile, a descoberta do templo é única porque combina elementos de duas culturas distintas. “Essa fusão cultural é rara e mostra como os nabateus eram capazes de preservar sua identidade enquanto interagiam com outras civilizações”, afirmou Stefanile.
Por que o templo foi abandonado?
Os arqueólogos acreditam que o templo foi propositalmente enterrado pelos nabateus durante o declínio do porto de Puteoli. A anexação ao Império Romano e as restrições ao comércio podem ter levado os nabateus a abandonar a região. Além disso, as alterações costeiras causadas por erupções vulcânicas podem ter tornado o porto inabitável.
Enterrar o templo pode ter sido uma maneira simbólica de proteger suas crenças e resistir à dominação cultural romana. Essa prática, comum em tempos de crise, reflete o desejo de preservar tradições em um contexto de mudanças políticas e econômicas.
O legado dos nabateus na história
A descoberta do templo submerso destaca a importância dos nabateus na história antiga. Conhecidos principalmente por Petra, uma das novas Sete Maravilhas do Mundo, os nabateus eram mestres na arquitetura e no comércio. Sua capacidade de adaptar-se às condições do deserto e de criar obras monumentais como o “Tesouro de Petra” é amplamente admirada.
O templo submerso, com sua combinação de estilos romanos e nabateus, é mais um exemplo da engenhosidade desse povo. Ele também serve como um lembrete da complexidade das interações culturais no mundo antigo. A descoberta reforça a ideia de que a história não é feita apenas de conquistas militares, mas também de trocas culturais e resistência.
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