Os segredos revelados do Evangelho de Tomé

O Evangelho de Tomé, também conhecido como Evangelho Copta de Tomé, é uma das descobertas mais intrigantes da literatura cristã antiga. Encontrado em 1945, perto de Nag Hammadi, Egito, este evangelho extra-canônico consiste em 114 ditos atribuídos a Jesus.

A natureza única e enigmática deste texto tem gerado intensos debates entre estudiosos e teólogos, tornando-o uma peça crucial para entender os primeiros anos do cristianismo e suas diversas correntes de pensamento.

Em 1945, um grupo de camponeses egípcios fez uma descoberta surpreendente: uma coleção de códices, agora conhecida como a Biblioteca de Nag Hammadi. Entre esses manuscritos estava o Evangelho de Tomé. Acredita-se que estes textos foram enterrados em resposta a um decreto do bispo Atanásio de Alexandria, que buscava estabelecer um cânone estrito das escrituras cristãs. A descoberta forneceu aos estudiosos uma visão inestimável das diversas tradições cristãs que floresceram nos primeiros séculos.

Diferente dos Evangelhos canônicos, o Evangelho de Tomé não narra a vida de Jesus de forma linear. Em vez disso, ele apresenta uma coleção de ditos (logia), muitos dos quais são semelhantes aos encontrados nos Evangelhos Sinóticos. Destes 114 ditos, quase dois terços possuem paralelos nos textos canônicos, enquanto os demais parecem ter origens na tradição gnóstica.

A introdução do Evangelho de Tomé afirma que os ditos foram escritos por Dídimo Judas Tomé, cujo nome significa “gêmeo” tanto em grego (Dídimo) quanto em aramaico (Tomé). Contudo, a maioria dos estudiosos concorda que o apóstolo Tomé não é o autor deste texto, e que sua verdadeira autoria permanece desconhecida. As datas propostas para a composição variam amplamente, de 60 d.C. a 250 d.C., refletindo as complexidades de determinar a origem de um texto tão antigo e fragmentado.

O Evangelho de Tomé se distingue dos Evangelhos canônicos em vários aspectos. Ele não menciona eventos cruciais como a crucificação, a ressurreição de Jesus ou o Juízo Final. Em vez disso, concentra-se em transmitir uma sabedoria secreta e espiritual, sugerindo que o Reino de Deus está presente dentro de cada indivíduo. Essa perspectiva introspectiva contrasta fortemente com a visão mais escatológica dos Evangelhos canônicos.

A descoberta do Evangelho de Tomé alimentou debates sobre a natureza e a diversidade do cristianismo primitivo. Alguns estudiosos veem o texto como um reflexo das tradições proto-gnósticas, enquanto outros questionam essa classificação devido à falta de elementos gnósticos clássicos, como o mito da Sophia caída ou um Demiurgo maligno.

Uma teoria popular entre os estudiosos é que o Evangelho de Tomé pode fornecer evidências de uma “fonte Q” — uma hipotética coleção de ditos de Jesus que teria influenciado os Evangelhos de Mateus e Lucas. A semelhança de muitos ditos em Tomé com os encontrados nos Evangelhos Sinóticos reforça essa teoria, sugerindo a existência de tradições orais ou escritas compartilhadas entre diferentes comunidades cristãs.

Após sua descoberta, o texto copta do Evangelho de Tomé foi publicado pela primeira vez em 1956, seguido pela primeira tradução completa em inglês em 1959. Desde então, o evangelho tem sido traduzido e estudado em todo o mundo, proporcionando uma janela única para os pensamentos e práticas dos primeiros cristãos.

Antes da descoberta em Nag Hammadi, fragmentos de papiro encontrados em Oxyrhynchus, Egito, já haviam oferecido pistas sobre a existência do Evangelho de Tomé. Esses fragmentos, datados entre 130 e 250 d.C., contêm ditos de Jesus que correspondem aos encontrados no texto copta, confirmando a antiguidade e a relevância deste evangelho.

O local de origem do Evangelho de Tomé é um tema de debate entre os estudiosos. Alguns sugerem a Síria, onde as tradições tomasinas eram fortes, enquanto outros apontam para Alexandria. Independentemente de sua origem exata, o evangelho reflete a diversidade e a riqueza das tradições cristãs em diferentes regiões do mundo antigo.

O Evangelho de Tomé continua a fascinar e desafiar estudiosos e leitores com seus ditos misteriosos e sua visão alternativa dos ensinamentos de Jesus. Sua descoberta em Nag Hammadi abriu novas perspectivas sobre o cristianismo primitivo e as complexas interações entre suas várias correntes de pensamento. Ao explorar este texto enigmático, somos convidados a reconsiderar as formas pelas quais os primeiros cristãos entendiam e transmitiam a mensagem de Jesus, enriquecendo nossa compreensão da história e da fé.

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