Fóssil pré-histórico é encontrado durante romaria em Santa Catarina

Uma caminhada religiosa pelo interior de Major Vieira, uma pequena cidade no Norte de Santa Catarina, resultou em uma descoberta impressionante: um fóssil de planta com 270 milhões de anos.

Este achado, identificado pela equipe do Centro de Pesquisa Paleontológica da Universidade do Contestado, revela um pouco mais sobre o antigo passado da região e sobre as plantas que habitaram o planeta muito antes da era dos dinossauros.

O fóssil, que pertence à espécie Krauselcladus canoinhensis, um parente das atuais araucárias, está ajudando a traçar um retrato mais completo da paleogeografia de Santa Catarina.

Durante uma caminhada espiritual pelas paisagens rurais de Major Vieira, um grupo de peregrinos fez uma descoberta que jamais esqueceriam. No meio do percurso, uma pedra chamou a atenção de um dos membros do grupo. Ao examiná-la mais de perto, eles perceberam que não se tratava de uma rocha comum.

Após registrar imagens e vídeos do objeto, o grupo enviou o material ao Centro de Pesquisa Paleontológica da Universidade do Contestado, que rapidamente identificou o fóssil como um exemplar da espécie Krauselcladus canoinhensis, uma planta que existiu há cerca de 270 milhões de anos.

Luiz Carlos Weinschütz, coordenador do Centro de Pesquisa Paleontológica, explicou que fósseis dessa espécie já são conhecidos na região, especialmente nas proximidades de Canoinhas e Três Barras. A espécie foi descrita pela primeira vez na década de 1970 e é bem documentada pela paleontologia brasileira.

O fóssil encontrado não estava fisicamente presente para análise detalhada no laboratório, mas as imagens enviadas foram suficientes para confirmar a identificação.

A Krauselcladus canoinhensis, embora não seja um ancestral direto das araucárias modernas, pertence ao grupo das coníferas, que dominou a flora terrestre durante o período Permiano. Esse era um tempo em que as plantas com flores e frutos, como as conhecemos hoje, ainda não haviam surgido. Em vez disso, o mundo era coberto por samambaias gigantes e coníferas, incluindo espécies semelhantes ao cedro e ao pinheiro.

Weinschütz destaca que, apesar de a Krauselcladus canoinhensis não ser uma araucária propriamente dita, suas características são bastante semelhantes.

“Ela tinha ramos e galhos que lembravam muito o sapê do pinheiro, uma planta comumente usada para lenha na região”, explicou.

Esta similaridade visual proporciona uma conexão interessante entre o passado distante e o presente, oferecendo uma janela única para o mundo antigo.

O achado desse fóssil é significativo não apenas por ser uma descoberta rara, mas também por contribuir para o conhecimento da paleogeografia de Santa Catarina. Weinschütz explica que cada novo ponto de ocorrência de um fóssil permite aos pesquisadores compreender melhor a distribuição geográfica e ambiental das espécies que viveram há milhões de anos.

“Quanto mais pontos de ocorrência a gente tem de determinado fóssil, é interessante porque a gente tem a possibilidade de entender um pouquinho a abrangência de onde ele ocorria”, ressaltou.

Descobertas como essa ajudam a preencher as lacunas na compreensão dos ambientes antigos e das condições climáticas e geológicas que existiram em eras passadas. Cada nova localização de fósseis adiciona uma peça ao quebra-cabeça da história da Terra, permitindo que cientistas reconstruam cenários ecológicos e evolutivos.

No período em que a Krauselcladus canoinhensis viveu, o que hoje conhecemos como Santa Catarina era muito diferente. Há 270 milhões de anos, o planeta estava no final do período Permiano, uma era marcada por grandes mudanças climáticas e geológicas. O supercontinente Pangeia dominava o cenário terrestre, e as condições climáticas eram mais áridas e instáveis do que as atuais.

Nessa época, as florestas eram dominadas por coníferas e samambaias gigantes, formando paisagens densas e misteriosas. A descoberta de fósseis como o Krauselcladus canoinhensis oferece insights valiosos sobre como era a vegetação e quais tipos de organismos coexistiam, tanto na flora quanto na fauna.

A paleontologia, ciência que estuda os fósseis, é fundamental para a compreensão da história da Terra e dos seres que a habitaram. Cada fóssil encontrado é uma testemunha silenciosa de um mundo que existia muito antes da humanidade surgir.

No caso do fóssil encontrado em Santa Catarina, ele ajuda a elucidar a evolução das plantas e o desenvolvimento das paisagens que, com o passar dos milênios, se transformaram na geografia que conhecemos hoje.

A preservação e o estudo de fósseis são essenciais não apenas para entender o passado, mas também para lançar luz sobre o futuro. As mudanças climáticas, a evolução das espécies e os processos geológicos que moldam nosso planeta são compreendidos em grande parte através dos registros fósseis.

Encontrados fósseis de cobras que explicam evolução das jiboias

A descoberta de fósseis de cobras enterradas juntas na Formação White River em Wyoming, EUA, está revolucionando nossa compreensão da evolução das jiboias e pítons. Estes espécimes, pertencentes a uma espécie totalmente nova chamada Hibernophis breithaupti, viveram na América do Norte há cerca de 38 milhões de anos.

Os fósseis de Hibernophis breithaupti foram encontrados por uma equipe de paleontólogos na Formação White River. Os quatro indivíduos descobertos estão quase completos e articulados, o que significa que os ossos foram preservados na ordem correta. Este nível de preservação é extremamente raro, pois a maioria das cobras fósseis dessa época é conhecida apenas por vértebras isoladas. Esta descoberta é, portanto, um achado significativo para os pesquisadores que estudam a evolução das cobras.

Entre os quatro fósseis, um se destaca por ser o dobro do tamanho dos outros, permitindo aos pesquisadores estudar os diferentes estágios de vida desta espécie antiga. Acredita-se que a maior cobra seja adulta, enquanto a menor mais bem preservada é considerada juvenil. Um terceiro espécime está parcialmente escondido sob o corpo de outro fóssil, mas está entre os dois em comprimento.

A nova espécie foi nomeada Hibernophis breithaupti, com “Hibernophis” derivado do latim “hibernate”, que significa passar o inverno, refletindo a hipótese de que as cobras estavam abrigadas juntas durante um período frio. Este comportamento, conhecido como hibernáculo, pode ser a primeira evidência de comportamento social de cobras preservada no registro fóssil.

A equipe de pesquisa acredita que Hibernophis breithaupti pode pertencer à família Boidae, que inclui as jiboias e pítons modernas. A evolução das jibóias não é bem compreendida, e esses novos fósseis podem oferecer pistas valiosas sobre como essas cobras evoluíram. Especula-se que Hibernophis breithaupti fazia parte de um grupo chamado jibóias de borracha, pequenas cobras escavadoras.

A descoberta dos fósseis de Hibernophis breithaupti é significativa por várias razões. Em primeiro lugar, os fósseis articulados fornecem uma visão rara da morfologia completa dessas cobras antigas. Além disso, a descoberta pode oferecer insights sobre o comportamento social das cobras, algo que raramente é preservado no registro fóssil.

O aglomerado de cobras sugere que elas estavam se abrigando juntas em um hibernáculo, um comportamento que é observado em algumas espécies de cobras modernas, como as cobras-liga. “As cobras-liga modernas são famosas por se reunirem aos milhares para hibernar juntas em tocas e buracos”, disse Michael Caldwell, paleontólogo e colíder da pesquisa. “É fascinante ver possíveis evidências de tal comportamento social ou hibernação datando de 34 milhões de anos.”

Os novos fósseis também lançam luz sobre a evolução dos Boidae, sugerindo que esses ancestrais das jiboias e pítons começaram como cobras de corpo relativamente pequeno. “Aprendemos muito mais sobre a evolução dos Boidae em sentido amplo”, disse Caldwell. “Parece que eles provavelmente começaram como cobras de corpo relativamente pequeno, o que é interessante.”

A Formação White River, onde os fósseis foram encontrados, é uma área rica em descobertas paleontológicas, fornecendo um contexto geológico que permite aos cientistas datar os fósseis com precisão. A equipe de pesquisa acredita que as cobras foram preservadas durante um pequeno episódio de inundação, o que ajudou a manter os fósseis em um estado tão bem preservado.

A qualidade da preservação dos fósseis é um testemunho das condições geológicas da Formação White River. A deposição rápida de sedimentos durante a inundação provavelmente ajudou a proteger os corpos das cobras da decomposição e de predadores, permitindo que os ossos se mantivessem articulados e quase completos.

A descoberta de Hibernophis breithaupti abre novas possibilidades para pesquisas futuras. Os paleontólogos estão interessados em estudar mais detalhadamente a anatomia dos fósseis e comparar com outras espécies de Boidae para entender melhor a evolução e a diversidade desse grupo de cobras. Além disso, a evidência de comportamento social em cobras antigas pode levar a novas teorias sobre a ecologia e os hábitos de vida dessas espécies.

A equipe de pesquisa planeja continuar explorando a Formação White River em busca de mais fósseis que possam fornecer informações adicionais sobre a fauna antiga da região.

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