Império perdido é descoberto e pode reescrever a história

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Uma descoberta arqueológica sem precedentes está trazendo novas luzes sobre a presença romana na Península Ibérica.

Pesquisadores da Universidade de Cádis, na Espanha, revelaram a existência de um “império perdido” formado por 57 assentamentos romanos interconectados, até então desconhecidos, próximos ao Rio Guadalete.

A escavação, iniciada em 2023, visava investigar pequenas influências romanas na área, mas acabou revelando uma vasta rede de assentamentos com significativas conexões comerciais e residenciais.

Utilizando tecnologia de ponta, como drones equipados com radares capazes de detectar estruturas subterrâneas, os arqueólogos identificaram muros, construções e divisões que indicam um planejamento urbano sofisticado. Essa descoberta pode reescrever a compreensão sobre como os romanos expandiram e consolidaram seu poder no sul da Espanha, destacando a importância da região nas rotas comerciais do antigo império.

Os vestígios arqueológicos dos assentamentos romanos encontrados perto do Rio Guadalete datam de antes da conquista formal da Espanha pelos romanos em 264 a.C. Até recentemente, acreditava-se que a presença romana na região era esporádica e limitada a pequenas colônias e postos militares. No entanto, a descoberta dos 57 assentamentos conectados revela uma rede que sugere uma ocupação muito mais integrada e estratégica.

Os arqueólogos encontraram esses locais distribuídos por três áreas principais ao longo do rio, alinhados com antigas rotas comerciais. A descoberta sugere que essas áreas serviram como hubs econômicos e sociais, conectando a Baía de Cádis a outras partes do império romano. Essa rede pode ter sido fundamental para a logística e movimentação de mercadorias e tropas, desempenhando um papel crucial na expansão do império na Península Ibérica.

A equipe de arqueólogos, liderada pela professora Macarena Lara, está utilizando técnicas avançadas de escavação e análise para estudar as estruturas encontradas e datar com precisão os assentamentos. Os pesquisadores acreditam que a organização desses assentamentos pode oferecer novas perspectivas sobre as interações culturais, econômicas e políticas dos romanos com os povos locais, ajudando a entender melhor o processo de romanização da região.

O avanço da tecnologia desempenhou um papel essencial na descoberta desse “império perdido”. Equipamentos de alta tecnologia, como drones com radares de penetração no solo, permitiram que os arqueólogos mapeassem estruturas enterradas que seriam invisíveis a olho nu. Essa abordagem revolucionária proporcionou uma visão sem precedentes das antigas paisagens romanas e revelou detalhes sobre a organização dos assentamentos que seriam impossíveis de detectar apenas com métodos tradicionais.

Essas tecnologias não só identificaram muros e fundações de edifícios, mas também permitiram que a equipe distinguísse diferentes zonas dentro dos assentamentos, como áreas residenciais, comerciais e espaços públicos. Com esses dados, os pesquisadores estão começando a mapear a vida cotidiana desses assentamentos romanos, descobrindo como esses espaços eram organizados e utilizados pela população da época.

A capacidade de explorar abaixo da superfície do solo sem escavações intrusivas oferece uma vantagem significativa, preservando o sítio arqueológico enquanto se obtêm informações valiosas. Além disso, essa abordagem permite uma análise mais rápida e abrangente das áreas estudadas, acelerando o processo de descoberta e documentação.

A localização dos assentamentos ao longo do Rio Guadalete aponta para uma importância estratégica que anteriormente não era compreendida pelos historiadores. O rio, que servia como uma rota comercial vital, facilitava o transporte de mercadorias e conectava o interior da Península Ibérica com o Mar Mediterrâneo. Isso permitia que o sul da Espanha desempenhasse um papel crucial na economia do império romano, funcionando como um centro de distribuição de produtos como azeite, vinho e metais preciosos.

Os assentamentos ao longo do rio estavam cuidadosamente posicionados para maximizar o controle sobre essas rotas comerciais. As evidências sugerem que os romanos construíram infraestruturas, como portos e armazéns, para apoiar suas atividades comerciais e militares. Essa rede de assentamentos interligados funcionava como um sistema integrado, facilitando a movimentação de mercadorias e pessoas e reforçando a presença romana na região.

A descoberta desses assentamentos altera a visão tradicional da romanização na Península Ibérica. Em vez de um domínio puramente militar e de ocupação esporádica, surge agora a imagem de um sistema bem organizado de assentamentos que não só demonstram controle, mas também integração cultural e econômica. A romanização não foi apenas uma imposição de poder, mas um processo complexo de adaptação e assimilação de culturas, refletido na arquitetura, organização social e modos de vida.

Os achados sugerem que os romanos não só estabeleceram controle político e militar, mas também criaram um sistema de assentamentos que promoveu a integração econômica e social da região com o restante do império. Essa nova compreensão desafia as narrativas tradicionais de que a romanização foi um processo unilateral e mostra uma relação mais dinâmica entre os romanos e as populações locais.

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Pesquisadores descobrem restos mortais de humanos arcaicos com 850.000 anos

A Sierra de Atapuerca, localizada na província de Burgos, no norte da Espanha, é um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo para o estudo da evolução humana.

Recentemente, escavações no famoso sítio de Gran Dolina revelaram uma descoberta extraordinária: restos mortais de um indivíduo da espécie Homo antecessor, datados de aproximadamente 850.000 anos.

Durante a temporada de escavações de 2024, uma equipe de pesquisadores do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (IPHES) encontrou restos mortais de um Homo antecessor na unidade TD6 de Gran Dolina. Os achados incluíram vários fragmentos de crânio, dois fragmentos de mandíbula, vértebras, um osso do pulso e um incisivo. A análise dos restos indicou que pertenciam a uma fêmea de aproximadamente 25 anos que viveu há cerca de 850.000 anos, durante o Pleistoceno Inferior.

Essa descoberta é particularmente significativa, pois quase 90% da planta original da estrutura onde os restos foram encontrados permanece intacta. Isso permite aos cientistas estudar detalhadamente as condições ambientais e as práticas culturais dos hominídeos que ali viveram.

O Homo antecessor, cujo nome significa “homem pioneiro” em latim, é uma espécie de hominídeo que viveu na Terra entre 1,2 milhões e 800.000 anos atrás. Foi identificado como uma espécie distinta em 1997, após a descoberta inicial na Gran Dolina em 1994. Durante algum tempo, foi considerado o último ancestral comum dos humanos modernos e dos neandertais. No entanto, pesquisas mais recentes sugerem que o Homo antecessor foi um desdobramento da linha evolutiva humana moderna, desenvolvendo-se pouco antes da separação entre humanos modernos e neandertais.

As escavações em Atapuerca começaram no início dos anos 1990, lideradas pelos paleoantropólogos espanhóis Jose Maria Bermudez, Eudald Carbonell e Juan Luis Arsuaga. Em 1994, eles descobriram aproximadamente 170 peças esqueléticas de Homo antecessor, junto com ferramentas de pedra antigas. Descobertas subsequentes trouxeram à luz mais ferramentas e cerca de 70 peças esqueléticas adicionais, reforçando a importância do sítio de Gran Dolina para a compreensão da pré-história europeia.

As ferramentas de pedra encontradas junto com os fósseis de Homo antecessor correspondem a artefatos encontrados em vários outros sítios arqueológicos na Europa Ocidental. No entanto, a ausência de fósseis de hominídeos nesses locais torna difícil confirmar que as ferramentas foram feitas pelo Homo antecessor.

Em 2014, pegadas de aproximadamente um milhão de anos foram descobertas em Happisburgh, Inglaterra, e acredita-se que pertençam ao Homo antecessor, embora a ausência de fósseis concretos impeça uma confirmação definitiva.

A temporada de escavações de 2024 em Atapuerca foi intensiva, envolvendo mais de 300 pesquisadores de várias disciplinas de todo o mundo. Além de Gran Dolina, escavações foram realizadas em outros sítios como Sima del Elefante, Galeria, Cueva Fantasma e El Mirador, revelando uma rica coleção de artefatos e restos que abrangem diferentes períodos da pré-história.

Na Sima del Elefante, foram encontrados uma ferramenta de quartzo e um osso de costela de herbívoro com sinais de terem sido massacrados, datando de 1,2 a 1,4 milhões de anos. Na Galeria, aproximadamente 500 ossos de animais e 30 ferramentas de pedra antigas foram recuperados, datando de cerca de 300.000 anos.

Na Cueva Fantasma, sinais de ocupação neandertal foram descobertos, incluindo ferramentas de pedra e ossos de animais. Na caverna El Mirador, artefatos neolíticos e evidências de arte rupestre antiga, como um bloco de pedra coberto com pigmento vermelho e uma peça de cerâmica decorada com imagens do Sol, foram encontrados, sugerindo que comunidades agrícolas antigas estavam estabelecidas na região há cerca de 7.000 anos.

A descoberta do Homo antecessor em Gran Dolina é um marco na pesquisa sobre a evolução humana. Ela fornece evidências cruciais sobre a presença e as características dos primeiros hominídeos na Europa Ocidental, ajudando a traçar um quadro mais completo da migração e desenvolvimento das espécies humanas. As escavações em Atapuerca mostram que a região foi habitada por um longo período, tornando-se um microcosmo valioso para estudar a evolução física, social e cultural humana.

As descobertas em Atapuerca continuarão a ser objeto de intenso estudo e escrutínio. A riqueza de artefatos e fósseis encontrados até agora promete proporcionar mais insights sobre a vida dos primeiros hominídeos e suas interações com o meio ambiente.

A colaboração internacional de pesquisadores garante que novas técnicas e tecnologias sejam aplicadas na análise desses achados, expandindo nosso entendimento sobre a evolução humana.

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