Tábua de 1,3 mil anos descoberta no Japão revela surpreendente tabela de multiplicação

Uma descoberta surpreendente e reveladora foi feita no Japão, quando uma tábua de madeira, escavada há mais de duas décadas, mostrou-se ser um instrumento de cálculo matemático utilizado há 1,3 mil anos. O artefato, encontrado na antiga capital imperial de Fujiwara-kyo, revela que funcionários administrativos daquela época usavam uma tabela de multiplicação para auxiliar em seus cálculos. Essa revelação foi feita recentemente, graças ao uso de tecnologia de imagens de infravermelho, que permitiu decifrar o verdadeiro propósito do objeto. O achado, que data do final do século 7 e início do século 8, abre uma nova perspectiva sobre a prática da matemática no Japão antigo, destacando o desenvolvimento precoce de métodos administrativos e educacionais.

Uma descoberta inesperada

A tábua de madeira foi desenterrada em 2001 durante uma escavação na cidade de Fujiwara-kyo, a antiga capital imperial do Japão entre os anos 694 d.C. e 710 d.C. No entanto, a real função do artefato só foi descoberta recentemente, quando arqueólogos usaram tecnologia de infravermelho para analisar o objeto. A tábua, inicialmente considerada uma ferramenta de escritório comum, revelou conter equações matemáticas escritas em kanji, o sistema de escrita herdado da China.

A descoberta trouxe à tona um aspecto intrigante da vida administrativa e educacional da época. Funcionários administrativos utilizavam a tábua para realizar contas de multiplicação, sugerindo que a matemática fazia parte do cotidiano das operações governamentais. A relevância dessa tábua vai além de sua simples função prática; ela revela a sofisticação do pensamento administrativo no Japão antigo e mostra que, mesmo séculos atrás, a precisão nos cálculos era uma habilidade valorizada entre os burocratas.

O uso de tecnologia de infravermelho na descoberta

A utilização de imagens de infravermelho foi fundamental para que os pesquisadores pudessem identificar as equações gravadas na tábua de madeira. Embora o objeto tenha sido escavado há mais de 20 anos, as inscrições haviam se deteriorado ao ponto de serem invisíveis a olho nu. Foi através da tecnologia de infravermelho que as linhas e os números ocultos na superfície da madeira foram revelados.

Entre as equações descobertas estavam multiplicações simples, como “9 x 9 = 81”, “4 x 9 = 36” e “6 x 8 = 48”, todas escritas em cinco linhas. A disposição dessas equações segue o padrão de escrita da época, com os textos sendo organizados da direita para a esquerda e de cima para baixo, em uma técnica herdada das dinastias chinesas Qin e Han.

Essa aplicação de tecnologias modernas em investigações arqueológicas permitiu uma visão mais detalhada das práticas culturais e administrativas do passado, possibilitando interpretações mais precisas sobre como as sociedades antigas organizavam suas atividades cotidianas.

A relevância da descoberta para a história do Japão

A tábua escavada tem uma importância histórica significativa, não apenas pela sua função prática, mas também pelo que representa sobre o desenvolvimento intelectual e cultural da antiga sociedade japonesa. Fujiwara-kyo foi a primeira capital planejada do Japão, um centro de poder onde as atividades administrativas eram meticulosamente organizadas. A presença de uma tábua de multiplicação em um ambiente administrativo sugere que os funcionários do governo eram treinados em matemática básica, algo que pode ter sido crucial para a eficiência na gestão de impostos, recursos e outras tarefas administrativas.

Além disso, essa descoberta ajuda a compor um panorama mais claro sobre o intercâmbio cultural entre o Japão e a China. O uso de kanji para escrever as equações matemáticas demonstra a influência chinesa sobre o Japão durante aquele período, especialmente em termos de conhecimento técnico e administrativo.

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Tábua

Tamanho e estrutura da tábua

Embora apenas parte da tábua tenha sido encontrada, os arqueólogos conseguiram determinar suas dimensões originais com base nos fragmentos disponíveis. A peça escavada possui 16,2 centímetros de comprimento e 1,2 centímetros de largura, mas os pesquisadores acreditam que, se estivesse completa, a tábua teria aproximadamente 33 centímetros de comprimento, com várias outras equações dispostas ao longo de sua superfície.

Essa suposição é corroborada pelo fato de que outras tábuas semelhantes já foram encontradas no Japão, embora estas contivessem apenas duas ou três linhas de equações, enquanto a tábua de Fujiwara-kyo apresenta cinco linhas completas. A forma de organização das equações, bem como a precisão das contas, sugere que o objeto era parte de uma tabela maior, usada para ensinar ou auxiliar os funcionários administrativos em suas tarefas diárias.

O papel da matemática na antiga sociedade japonesa

A descoberta da tábua de multiplicação é um testemunho do papel da matemática na sociedade japonesa antiga, especialmente no contexto administrativo. Embora possa parecer uma ferramenta rudimentar à luz dos avanços tecnológicos modernos, o uso de uma tabela de multiplicação há mais de mil anos destaca o nível de organização e a necessidade de cálculos precisos nas operações governamentais.

Além disso, a educação matemática era claramente uma habilidade valorizada entre os funcionários do governo, que provavelmente usavam esse conhecimento para tarefas como a coleta de impostos, a distribuição de recursos e o gerenciamento de registros. A presença de uma tabela de multiplicação também sugere que o ensino da matemática era uma prática comum em ambientes governamentais, o que contribui para uma compreensão mais ampla de como o conhecimento técnico era transmitido e aplicado na antiga sociedade japonesa.

Conclusão

A descoberta da tábua de multiplicação de 1,3 mil anos no Japão não é apenas uma revelação sobre as práticas matemáticas da época, mas também uma janela para o desenvolvimento intelectual e administrativo da antiga sociedade japonesa. O uso de uma tabela de cálculos em um ambiente governamental demonstra a importância da precisão matemática nas operações diárias do governo e reflete o intercâmbio cultural entre o Japão e a China, que influenciou a escrita e o ensino técnico da época.

Fonte: Revista Galileu