Descoberta revela capacete e escudos de 2.700 anos

A história da humanidade continua revelando seus mistérios através de descobertas arqueológicas fascinantes, e uma das mais recentes foi anunciada pela Turquia: a escavação de um capacete e três escudos de bronze, datados de 2.700 anos. Esses artefatos, dedicados a Haldi, o deus da guerra da civilização urartiana, foram encontrados nas profundezas do Castelo de Ayanis, localizado na província de Van, no leste da Turquia. Essa descoberta não só lança luz sobre a civilização Urartu, que existiu entre os anos 900 e 600 a.C., como também evidencia a rica tradição militar e religiosa do reino.

A descoberta arqueológica no Castelo de Ayanis

As escavações no Castelo de Ayanis, que ocorrem desde 1989, trouxeram à tona muitos artefatos ao longo dos anos, mas a recente descoberta de escudos e capacetes de bronze marca um novo e importante capítulo para os arqueólogos. Mehmet Nuri Ersoy, Ministro da Cultura e do Turismo da Turquia, anunciou a descoberta através das redes sociais, destacando que as escavações em curso revelam artefatos raros constantemente. O Castelo de Ayanis, um dos locais mais emblemáticos do Reino Urartu, tem sido palco de importantes descobertas que ajudam a entender a vida religiosa e militar dessa civilização antiga.

Os itens estavam enterrados 6 a 7 metros abaixo do solo, protegidos pelas paredes de tijolos de barro do castelo, o que ajudou a mantê-los preservados por quase três milênios. Esses objetos foram dedicados ao deus Haldi, uma figura central no panteão urartiano, considerado o deus supremo e da guerra.

O significado dos escudos e capacetes

Os escudos e capacetes descobertos são mais do que simples artefatos militares; eles representam a devoção do povo urartiano ao seu deus da guerra e a importância da religião em sua estrutura social. De acordo com o arqueólogo Mehmet Işıklı, que lidera as escavações no local, os objetos estão em excelente estado de conservação, apesar de pequenos danos causados pelos terremotos que atingiram o castelo ao longo dos séculos. Esses terremotos foram responsáveis pela queda de parte das fortificações, o que acabou contribuindo para a proteção dos artefatos sob as ruínas.

Segundo Işıklı, a qualidade e o estado de preservação desses itens são uma evidência do avançado conhecimento em metalurgia que o Reino Urartu possuía. Além de sua função cerimonial, os escudos e capacetes podem ter sido utilizados em eventos religiosos ou militares, mostrando a forte conexão entre a guerra e a religião na cultura urartiana.

LEIA MAIS:

A importância de Haldi no Reino Urartu

O deus Haldi era uma das principais divindades adoradas pelo povo urartiano. Ele ocupava uma posição de destaque no panteão religioso, sendo visto como o protetor do reino e o responsável pela vitória nas batalhas. Sua importância era tamanha que vários templos e castelos, como o Castelo de Ayanis, foram dedicados a ele.

O culto a Haldi estava intimamente ligado à política e à estratégia militar do reino. Acreditava-se que o poder do deus poderia influenciar o resultado de batalhas e proteger a nação de seus inimigos. Por isso, a fabricação e dedicação de escudos e capacetes em sua homenagem reforçam a devoção dos urartianos e sua crença na intervenção divina nos conflitos militares.

A escavação

As escavações no Castelo de Ayanis têm sido desafiadoras devido à sua localização e às condições naturais da região. O castelo, que foi construído no século VII a.C. pelo último rei urartiano, Rusa II, está situado em uma área propensa a terremotos. As atividades sísmicas na região, registradas historicamente, foram responsáveis pelo colapso de parte da estrutura, enterrando os artefatos sob camadas de entulho.

No entanto, esse mesmo colapso acabou por preservar muitos dos artefatos encontrados, protegendo-os da erosão e da ação do tempo. Segundo os arqueólogos, a profundidade em que os itens foram encontrados, cerca de 6 a 7 metros abaixo do solo, ajudou a mantê-los em excelente estado de conservação, apesar de pequenas fraturas causadas pela pressão das camadas de detritos sobre eles.

capacete

A importância da metalurgia urartiana

O Reino Urartu é amplamente reconhecido por seu domínio da metalurgia, especialmente na fabricação de armas e utensílios de bronze. Os artefatos encontrados nas escavações do Castelo de Ayanis, incluindo os recentes escudos e capacetes, são uma prova das habilidades dos artesãos urartianos. O uso do bronze na fabricação desses itens mostra não apenas o desenvolvimento tecnológico do reino, mas também a importância do material para a cultura militar e religiosa da época.

Segundo Işıklı, as decorações presentes no capacete indicam que ele pode ter sido utilizado em cerimônias ou rituais religiosos, mais do que em batalhas. Essa combinação de estética e funcionalidade reflete a forma como os urartianos integravam a arte e a guerra, e como a religião desempenhava um papel central em ambos os aspectos.

O Reino Urartu

O Reino Urartu floresceu entre os séculos IX e VI a.C., ocupando o que hoje corresponde à região da Anatólia Oriental, abrangendo partes da Turquia, Armênia e Irã. O reino era conhecido por sua poderosa infraestrutura militar, construindo fortalezas e castelos em locais estratégicos e de difícil acesso, como o Castelo de Ayanis. Essas fortificações não apenas protegiam a população, mas também serviam como centros de culto religioso, onde deuses como Haldi eram adorados.

A civilização urartiana também tinha fortes laços comerciais e militares com outras civilizações antigas, como os assírios, com quem travavam guerras pelo controle de rotas comerciais e recursos. Apesar dos conflitos, os urartianos absorveram várias influências culturais dos assírios, incluindo a adoção da escrita cuneiforme para registrar suas atividades.

capacete

O Castelo de Ayanis

O Castelo de Ayanis é um exemplo impressionante da arquitetura militar urartiana. Construído durante o reinado de Rusa II, o castelo foi projetado para ser uma fortaleza impenetrável, localizada em um terreno elevado, o que dificultava o acesso a invasores. Além de sua função militar, o castelo também abrigava templos dedicados a divindades como Haldi, reforçando a relação simbiótica entre religião e guerra no Reino Urartu.

As escavações realizadas no local têm revelado, ao longo das últimas décadas, uma riqueza de artefatos, incluindo armas, escudos, joias e inscrições em cuneiforme. Esses achados ajudam a reconstruir a vida no castelo e a entender melhor a estrutura social e política do reino.

Conclusão

A descoberta de escudos e capacetes de bronze de 2.700 anos nas escavações do Castelo de Ayanis não é apenas um triunfo para a arqueologia, mas também um lembrete da rica e complexa história do Reino Urartu. Esses artefatos, dedicados ao deus da guerra Haldi, oferecem uma visão fascinante sobre a cultura militar e religiosa de uma das civilizações mais poderosas da Anatólia.

Fonte: Revista Galileu