Mulher enterrada há 100 anos revela raro caso de “vesícula de porcelana”

Os ossos estão em azul e a vesícula biliar de porcelana preservada pode ser vista no lado direito do tronco da mulher — Foto: Asylum Hill Project, UMMC; Kyle Winters

No mundo da arqueologia, cada descoberta é uma janela aberta para o passado, uma narrativa silenciosa que se desenrola diante dos olhos dos pesquisadores. Recentemente, uma equipe de arqueólogos liderada pela bioarqueóloga Jennifer Mack, da Universidade do Mississippi, mergulhou nas profundezas históricas do antigo Asilo Estadual de Lunáticos do Mississippi, nos Estados Unidos. Entre os túmulos silenciosos, encontraram não apenas ossos, mas também um enigma médico intrigante: a vesícula biliar de porcelana.

Vesícula de porcelana

O órgão bem preservado pertencia a uma mulher, cuja identidade se perdeu nos anais do tempo, enterrada há cerca de um século nas sombras do asilo. A descoberta, além de ser o primeiro relato desse fenômeno em um esqueleto arqueológico, desafia as fronteiras entre a história e a medicina, revelando segredos enterrados e mistérios ainda não decifrados.

A vesícula biliar, comumente sujeita à decomposição após a morte, surpreendeu os pesquisadores ao permanecer calcificada e endurecida ao longo dos anos. A condição, conhecida como “vesícula biliar de porcelana”, é um fenômeno raro na literatura médica. Sua preservação ao longo do tempo se deve ao acúmulo de cálcio na parede muscular do órgão, um processo que desafia as expectativas da ciência e da arqueologia.

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Uma imagem microCT que mostra a estrutura da vesícula biliar de porcelana preservada e o cálculo biliar dentro dela — Foto: Departamento de Ciência de Materiais Biomédicos, UMMC

Nos exames realizados pela equipe de Mack, utilizando técnicas como raios-X e microtomografia, uma única grande pedra foi encontrada na vesícula biliar. Embora outros cinco casos de pedra na vesícula tenham sido identificados entre os esqueletos do local, os pesquisadores enfatizam que não há associação entre essa condição e as doenças mentais tratadas no asilo. Essa descoberta levanta novas questões sobre a saúde dos antigos pacientes e possíveis práticas médicas da época.

Conclusão

O Asilo Estadual de Lunáticos do Mississippi, que funcionou desde 1855 até 1935, testemunhou décadas de história e tratamento de dezenas de milhares de pacientes. Enterrados em caixões simples de pinho com marcadores de madeira, muitos desses pacientes foram esquecidos pela sociedade, mas suas histórias ressurgem agora das sombras do passado, trazendo consigo segredos há muito enterrados.

À medida que os pesquisadores continuam sua investigação, o enigma da vesícula biliar de porcelana lança luz sobre os mistérios da medicina do passado. Em um mundo onde o tempo tenta apagar as pegadas da história, cada descoberta arqueológica é uma oportunidade para desvendar os segredos do passado e compreender melhor o presente. A jornada para desvendar o mistério da vesícula biliar de porcelana está apenas começando, e seu eco ressoa através das eras, conectando-nos com os antigos pacientes do asilo e sua herança médica ainda não compreendida.