Famílias no Pará lideram restauração da Amazônia

No coração da Amazônia, um movimento transformador está ganhando força. Em municípios como Belterra, Itaituba, Mojuí dos Campos e Trairão, no Oeste do Pará, famílias estão revolucionando o ambiente ao seu redor. Com a implementação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), essas comunidades não apenas recuperam a vegetação nativa, mas também produzem alimentos, cultivam novas mudas e sementes, e criam novas fontes de renda.

Neste Dia da Amazônia, mergulhe na história inspiradora dessas famílias que estão fazendo a diferença na maior floresta tropical do mundo.

Rosângela Silva Pereira, conhecida como Sanda, é uma das protagonistas dessa iniciativa. Residente em Trairão, Sanda plantou cerca de 200 mudas em sua propriedade, misturando espécies frutíferas e florestais com cultivos de curto ciclo, como melancia e macaxeira. O impulso para essa ação veio de dois grandes projetos: a criação de um viveiro coletivo na comunidade e a capacitação das famílias em práticas de cultivo sustentável.

“Aqui, a devastação era muito grande,” explica Sanda. “Recebemos algumas mudas e coletamos outras sementes por aqui. Cada SAF plantou entre 180 a 200 mudas consorciadas, incluindo frutíferas e madeira florestal.”

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A estruturação dos SAFs faz parte do Projeto de Restauração da Floresta Amazônica no Tapajós, que busca criar uma rede sustentável de bancos de sementes e viveiros florestais. A iniciativa é promovida pela Conservação Internacional (CI-Brasil) e conta com a assistência técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). As mudas de espécies nativas como açaí, cupuaçu, cacau, andiroba e ipê são usadas tanto para recuperação ambiental quanto para geração de renda.

Em Mojuí dos Campos, Suelen Costa Feitosa optou por plantar mais de 500 mudas em sua propriedade, priorizando o cupuaçu para fortalecer a produção de chocolate. “Já trabalhávamos com quintais produtivos, mas agora, com os SAFs, nosso objetivo maior é restaurar o meio ambiente,” afirma Suelen. “Escolhemos plantar produtos que também nos tragam renda.”

O projeto de restauração passou por três fases principais: capacitação, criação e melhoria dos bancos de sementes e viveiros, e recuperação de áreas desmatadas. Durante a capacitação, os agricultores aprenderam sobre espécies nativas, beneficiamento da produção, secagem, armazenamento, aspectos legais e uso de ferramentas tecnológicas, como GPS para georreferenciamento de árvores matrizes.

A coordenadora de projetos da CI Brasil, Maria Farias, destaca que o Restaura Tapajós tem como meta a sustentabilidade socioambiental. “Isso revitaliza toda a biodiversidade, promove solos mais saudáveis e aumenta o sequestro de carbono, o que pode gerar novas fontes de renda para as comunidades.”

Apesar dos progressos, o projeto enfrentou desafios significativos. A seca intensa de 2023 resultou em perdas consideráveis de mudas, mas a assistência técnica contínua permitiu a adaptação e a persistência das famílias no projeto. “Os técnicos que vieram nos dar assistência continuam nos ajudando voluntariamente,” relata Suelen. “Eles estudam nossos casos e nos orientam através de vídeos e fotos.”

A recuperação florestal é crucial para a preservação do bioma amazônico e para o combate às mudanças climáticas. Mesmo com a redução no desmatamento nos últimos anos, a Amazônia ainda perde vastas áreas de floresta a cada dia. Segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), entre agosto de 2023 e julho de 2024, a região perdeu o equivalente a mil campos de futebol por dia.

Maria Farias reforça a necessidade de avançar na recuperação dos biomas nativos e na integração de tecnologias que permitam a adaptação às mudanças climáticas. “Sabemos que é preciso reflorestar para garantir um clima de qualidade. A demanda por sementes é gigantesca, e consolidar a rede de sementes do Tapajós é um passo essencial.”