Âmbar esquecido em museu revela nova espécie de mosquito de 40 milhões de anos

Imagine um tesouro escondido à vista de todos por décadas, guardando segredos de um passado longínquo. Foi exatamente isso que aconteceu com um pedaço de âmbar de 40 milhões de anos, esquecido no acervo do Museu de História da Dinamarca. Este âmbar, contendo um mosquito incrivelmente preservado, foi redescoberto por cientistas e revelou uma nova espécie de inseto, que nunca havia sido descrita antes pela ciência. A fascinante descoberta foi detalhada recentemente em um estudo publicado na revista Scientific Reports.

O encontro inesperado: uma nova espécie emerge do passado

Na década de 1960, um colecionador dinamarquês chamado C.V. Henningsen encontrou um raro pedaço de âmbar na costa de Jutland, uma cidade da Dinamarca banhada pelo Mar do Norte. O que Henningsen não sabia é que o âmbar, que ele gentilmente doou ao Museu de História da Dinamarca, continha um inseto fossilizado que mudaria a compreensão dos cientistas sobre a distribuição geográfica e evolução dos mosquitos.

Por décadas, o âmbar permaneceu esquecido em meio a uma vasta coleção de 70 mil peças de resina fóssil no museu. Foi somente quando um grupo de entomólogos da Universidade de Copenhague decidiu revisar o acervo que a descoberta foi feita. Eles identificaram uma espécie de mosquito completamente nova, que viveu há cerca de 40 milhões de anos, na época do Eoceno, e a nomearam Robsonomyia henningseni, em homenagem ao colecionador que encontrou o âmbar.

O que é o âmbar e por que é tão importante?

O âmbar é uma resina fóssil que se forma a partir da secreção de árvores. Originalmente, as árvores produzem resina como um mecanismo de defesa contra insetos e fungos. Quando essa resina é expelida e endurece, ela pode aprisionar pequenas criaturas, folhas e outros materiais, preservando-os por milhões de anos. Essas “cápsulas do tempo” naturais permitem que cientistas estudem organismos que viveram em um passado distante com detalhes impressionantes.

No caso do Robsonomyia henningseni, o âmbar preservou não apenas a forma externa do mosquito, mas também detalhes anatômicos cruciais, permitindo uma análise minuciosa que levou à identificação de uma nova espécie. Sem essa preservação, o mosquito teria se decomposto há muito tempo, e essa descoberta importante nunca teria sido feita.

Âmbar

A redescoberta e a análise científica

A redescoberta do âmbar contendo o Robsonomyia henningseni levou a uma série de análises detalhadas por parte dos pesquisadores. Para começar, os cientistas poliram o âmbar até que ele ficasse lustroso e transparente, permitindo uma observação clara do inseto em seu interior. Em seguida, utilizaram uma câmera de alta resolução e um espectrômetro, um instrumento que mede a interação da luz com a matéria, para obter uma “impressão digital” da composição química do âmbar.

A análise confirmou que o âmbar era do tipo encontrado na região do Báltico, datando de cerca de 40 milhões de anos atrás. Com essa informação, os cientistas puderam situar o contexto ambiental e geográfico em que o mosquito viveu. A equipe então examinou o fóssil do inseto, focando em detalhes específicos da sua morfologia para determinar sua espécie. Como o mosquito encontrado era um macho, os pesquisadores analisaram a genitália, especialmente as pinças usadas durante o acasalamento, para identificar características únicas que diferenciavam essa espécie de outras conhecidas.

Uma nova peça no quebra-cabeça da evolução dos insetos

A descoberta do Robsonomyia henningseni não é apenas fascinante por ser uma nova espécie, mas também porque ajuda a preencher lacunas na compreensão da distribuição dos mosquitos ao longo da história geológica. Espécies do gênero Robsonomyia existem atualmente, mas são encontradas apenas em regiões tão distantes quanto Hokkaido, no Japão, e a Califórnia, nos Estados Unidos. A presença de um ancestral do gênero na Europa sugere que esses mosquitos tinham uma distribuição muito mais ampla no passado do que se pensava.

De acordo com a pesquisadora Alicja Pełczyńska, da Universidade de Copenhague, “esta é a primeira vez que alguém encontra um fóssil de mosquito desse gênero fora do Japão e da América do Norte. A descoberta demonstra que este tipo de mosquito também foi difundido na Europa, o que nos dá novas pistas sobre a distribuição do mosquito na Terra”.

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Âmbar

Como o mosquito chegou lá?

A presença do Robsonomyia henningseni na Europa levanta questões interessantes sobre como essa espécie de mosquito se espalhou pelo mundo. Os pesquisadores acreditam que a espécie de mosquito encontrada no âmbar pode ser um “elo perdido” entre as populações atuais do Japão e dos Estados Unidos. A descoberta de que esses mosquitos também existiam na Europa há 40 milhões de anos sugere que o gênero Robsonomyia teve uma distribuição geográfica muito mais ampla durante o Eoceno.

“Até agora, a distribuição deste gênero de mosquito era um tanto estranha, já que muitos milhares de quilômetros separam as espécies conhecidas. Portanto, faz sentido tê-lo encontrado na Europa, que fica aproximadamente a meio caminho entre o Japão e a América do Norte”, completa Pełczyńska.

A impossibilidade de “reviver” o passado

Embora a ideia de reviver uma espécie pré-histórica, como em filmes de ficção científica, possa ser atraente, a realidade é muito diferente. No caso do mosquito Robsonomyia henningseni, praticamente todo o material orgânico já se decompôs. O inseto encontrado no âmbar é, na verdade, uma casca oca, sem nenhum material genético utilizável.

O professor Lars Vilhelmsen, curador do Museu de História Natural da Dinamarca, explica que, se alguém tentasse remover o mosquito do âmbar, ele se desintegraria completamente. “A melhor coisa que podemos fazer é estudá-lo dentro do âmbar. Os insetos presos no âmbar podem ser estudados de forma quase tão precisa quanto seus parentes vivos, usando técnicas avançadas como microtomografias”, diz Vilhelmsen.

A importância da preservação de coleções científicas

A descoberta do Robsonomyia henningseni também destaca a importância de preservar e revisitar coleções científicas antigas. Museus e instituições de pesquisa ao redor do mundo armazenam milhões de espécimes, muitos dos quais ainda não foram completamente estudados. Como demonstra o caso do âmbar esquecido no Museu de História da Dinamarca, esses acervos podem conter descobertas científicas importantes que ainda aguardam ser feitas.

Revisitar e reexaminar esses espécimes com novas tecnologias e métodos de análise pode levar a descobertas surpreendentes e ampliar nossa compreensão da biodiversidade e da história da vida na Terra.

Conclusão

A redescoberta de um âmbar esquecido e a identificação de uma nova espécie de mosquito, Robsonomyia henningseni, demonstram como o passado pode guardar segredos que estão apenas esperando para ser revelados. Essa descoberta não apenas nos dá uma nova perspectiva sobre a distribuição dos mosquitos, mas também ressalta a importância de preservar e estudar coleções científicas.

Fonte: Revista Galileu