Observatório de 2,5 mil anos no Egito revela práticas astronômicas

Os antigos egípcios foram pioneiros no estudo dos astros, e suas contribuições para a astronomia, como o primeiro calendário solar e a divisão do dia em 24 horas, são reconhecidas até hoje. Recentemente, uma descoberta arqueológica revelou o maior observatório astronômico já conhecido no Egito, com mais de 2,5 mil anos, datando do século 6. Localizado na antiga cidade de Buto, no Templo dos Faraós, o observatório não só confirma o profundo conhecimento astronômico dos egípcios, mas também revela como essas práticas eram fundamentais para o controle do tempo, da agricultura e dos rituais religiosos.

A descoberta do observatório de 2,5 mil anos

Em agosto de 2023, o Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito anunciou a descoberta do maior observatório astronômico do Egito Antigo. Localizado na cidade de Buto, a estrutura tinha 850 m² e sua entrada principal estava estrategicamente orientada para o leste, local de nascimento do Sol, refletindo a importância dos movimentos solares para os egípcios. A orientação do prédio reforça a ideia de que os antigos astrônomos egípcios não apenas observavam os fenômenos celestes, mas também os utilizavam para organizar sua vida cotidiana e suas práticas religiosas.

O observatório fazia parte do complexo do Templo dos Faraós, e sua localização central sugere que as observações astronômicas estavam intrinsecamente ligadas às atividades religiosas e políticas da época. A capacidade de prever a inundação do Nilo e as mudanças sazonais era essencial para a agricultura, e o calendário solar criado pelos egípcios, que dividia o ano em 365 dias e o dia em 24 horas, surgiu como uma forma de controlar esses fenômenos naturais.

Artefatos encontrados no observatório

Os artefatos descobertos dentro do observatório são um testemunho impressionante do conhecimento técnico e científico dos egípcios antigos. Um dos achados mais significativos foi um relógio de sombra, similar a um relógio de sol, feito com lajes de calcário que mediam 4,8 metros. Esse instrumento usava o movimento das sombras para determinar a hora do dia, uma ferramenta fundamental para acompanhar a passagem do tempo.

Além disso, o observatório continha cinco salas usadas provavelmente para armazenar equipamentos astronômicos e quatro outras salas menores feitas de tijolos de barro e pedra, que teriam servido como torres de observação. Esses ambientes foram projetados para fornecer uma visão clara do céu, onde os egípcios observavam o movimento das estrelas, do Sol e da Lua.

No centro do observatório, um salão com murais pintados e uma plataforma de pedra exibia cenas que retratavam o nascer e o pôr do sol. Essas ilustrações ajudavam os astrônomos a rastrear as três estações observadas pelos antigos egípcios: inundação (ou cheia), plantio e colheita. Cada uma dessas estações estava diretamente relacionada às cheias anuais do Nilo, fenômeno crucial para a fertilização das terras e para a sobrevivência do Egito Antigo.

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A importância do tempo para os egípcios

A precisão na marcação do tempo era uma habilidade essencial para os egípcios, especialmente porque suas vidas dependiam fortemente das cheias do Nilo, que garantiam a fertilidade da terra para o plantio. O estudo dos astros, portanto, não era apenas uma curiosidade científica, mas uma necessidade prática para a sobrevivência.

Os astrônomos do Egito Antigo observavam o céu para prever quando as cheias do Nilo ocorreriam e quando iniciar os períodos de plantio e colheita. Além disso, o controle do tempo era vital para as cerimônias religiosas e os eventos políticos, sendo o calendário solar utilizado para organizar festivais e rituais importantes. Esse conhecimento conferia aos sacerdotes e faraós um grande poder, pois eles eram vistos como aqueles que controlavam o tempo e o ciclo das estações.

Observatório

Artefatos religiosos e culturais no observatório

Entre os objetos encontrados no observatório, os arqueólogos descobriram estátuas de figuras religiosas importantes, como Osíris, o deus do julgamento, e Bes, o deus do parto, sugerindo que o estudo do céu estava intimamente ligado às crenças espirituais egípcias. Uma estátua de granito da 26ª Dinastia também foi desenterrada, reforçando a presença de figuras divinas associadas ao controle do tempo e da natureza.

Ferramentas de medição, objetos de cerâmica e mesas de oferenda também foram encontrados no local, indicando que o observatório não apenas servia para fins científicos, mas também era um centro religioso e cultural onde rituais e oferendas eram realizados. A conexão entre a ciência e a religião no Egito Antigo era forte, e essa descoberta é uma prova clara de como o conhecimento astronômico era aplicado no cotidiano e na espiritualidade do povo egípcio.

A relação entre astronomia e religião no Egito Antigo

Para os egípcios, o céu era mais do que uma fonte de estudos científicos — ele era visto como um reflexo do mundo espiritual. Os astros tinham um papel central nas crenças religiosas, com o Sol, em especial, sendo venerado como o deus Rá, o criador e mantenedor da vida. Observar os céus e entender o movimento dos corpos celestes permitia aos egípcios alinhar suas ações com os desígnios dos deuses.

A descoberta de artefatos religiosos, como estátuas e mesas de oferenda, no observatório astronômico reforça essa conexão espiritual. O local era, portanto, um espaço onde ciência e religião coexistiam, sendo utilizado tanto para observar os astros quanto para realizar rituais que garantissem a harmonia entre os deuses e o povo.

Conclusão

A descoberta do observatório astronômico de 2,5 mil anos na antiga cidade de Buto é um marco significativo na arqueologia egípcia, revelando como os primeiros astrônomos do Egito utilizavam seu vasto conhecimento sobre o céu para controlar o tempo e influenciar suas atividades cotidianas. Com artefatos que vão desde instrumentos de medição até estátuas religiosas, essa descoberta ressalta a importância da astronomia no Egito Antigo, tanto no campo científico quanto no religioso.

Fonte: Revista Galileu