A descoberta lâminas de pedra com 500 mil anos revela método de caça dos primeiros humanos

A descoberta de que os primeiros humanos usavam ferramentas de pedra para processar carcaças de elefantes há cerca de 500 mil anos abre uma nova janela para a compreensão de como nossos ancestrais lidavam com a alimentação e a sobrevivência.

Essa evidência foi encontrada em 2015, quando uma equipe de arqueólogos liderada por Ran Barkai, da Universidade de Tel Aviv, estudou ferramentas de pedra achadas no sítio arqueológico de Revadim, em Israel. Esse local, pertencente ao Paleolítico Inferior, revelou tanto ossos de elefantes com marcas de corte quanto ferramentas de pedra com resíduos de gordura animal, sugerindo que os humanos da época processavam carcaças de grandes animais, como os elefantes, para obter alimento.

Essa descoberta é significativa porque, embora já houvesse evidências indiretas de que os humanos antigos caçavam e processavam animais de grande porte, a prova direta e científica de como essas atividades eram realizadas permanecia um mistério. O estudo de Revadim, que encontrou vestígios de gordura preservada em ferramentas de pedra e marcas de corte em ossos, traz pela primeira vez uma confirmação direta desse comportamento no Paleolítico.

Ferramentas de pedra e o processamento de carcaças de elefantes

A evidência do uso de ferramentas de pedra para processar carcaças de elefantes no sítio de Revadim lança luz sobre o que provavelmente era uma prática comum entre os primeiros humanos. Entre os itens analisados estavam machados de mão e raspadores feitos de sílex, todos pertencentes à cultura acheuliana, que floresceu durante o Paleolítico Inferior. Esses instrumentos, marcados pelo desgaste causado pelo uso e com resíduos de gordura animal ainda presentes, indicam claramente que os primeiros humanos utilizavam essas ferramentas para processar grandes quantidades de carne, especialmente de elefantes.

A análise das ferramentas incluiu métodos avançados, como o uso da espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), que permitiu identificar assinaturas orgânicas nos resíduos das ferramentas. Através dessa análise, os cientistas conseguiram determinar que as ferramentas foram usadas para cortar e processar carcaças, abrindo uma nova compreensão sobre o comportamento alimentar dos humanos pré-históricos.

O papel dos elefantes na alimentação dos primeiros humanos

A descoberta em Revadim também coloca em foco a importância dos elefantes na dieta dos primeiros humanos. Durante o Paleolítico Inferior, os elefantes eram uma fonte valiosa de carne, gordura e outros recursos. O registro arqueológico indica que esses animais desempenhavam um papel significativo na sobrevivência de grandes grupos humanos, fornecendo uma quantidade substancial de calorias em um único abate.

A caça de grandes animais, como os elefantes, não era apenas uma demonstração de habilidade técnica, mas também de cooperação social. A quantidade de carne e gordura que um elefante podia fornecer era suficiente para alimentar uma comunidade por longos períodos, e o uso de ferramentas de pedra tornou esse processo mais eficiente. O achado de resíduos de gordura preservados nas ferramentas de Revadim fornece a primeira prova direta de que os humanos de 500 mil anos atrás estavam explorando esses animais para alimentação.

Marcas de corte em ossos de elefantes

Uma das evidências mais claras da interação entre humanos e elefantes no sítio de Revadim é a presença de marcas de corte em ossos de elefantes encontrados no local. Essas marcas, identificadas em uma costela de elefante, foram feitas por ferramentas de pedra, indicando que os humanos da época estavam abatendo esses animais e processando suas carcaças de maneira meticulosa.

As marcas de corte são uma assinatura clara da atividade humana, e a associação com ferramentas de pedra acheulianas reforça a ideia de que esses primeiros humanos eram caçadores habilidosos, capazes de abater animais de grande porte e utilizar todas as partes da carcaça, incluindo carne, gordura e ossos. Essas descobertas indicam que o abate de elefantes e o uso de suas carcaças para alimentação foram uma prática intencional e organizada.

A evolução tecnológica no uso de ferramentas

A descoberta de que os primeiros humanos usavam ferramentas de pedra para processar carcaças de elefantes também nos diz muito sobre a evolução tecnológica durante o Paleolítico Inferior. A habilidade de criar e utilizar ferramentas complexas, como machados de mão e raspadores, foi um avanço significativo na história humana. Essas ferramentas não apenas facilitavam o abate e o processamento de grandes animais, mas também eram fundamentais para a sobrevivência e expansão das populações humanas.

Segundo o arqueólogo Ran Barkai, a criação de ferramentas de pedra foi um marco biológico e cultural na evolução humana. A tecnologia de fraturar pedras para produzir ferramentas afiadas representava um avanço na capacidade de adaptação dos primeiros humanos ao seu ambiente. A caça de grandes animais, como os elefantes, exigia não apenas habilidade física, mas também inovação tecnológica. As ferramentas de pedra permitiam que esses humanos processassem a carne e as peles dos animais de forma eficiente, garantindo a sobrevivência em ambientes desafiadores.

Implicações para a compreensão da evolução humana

A descoberta em Revadim tem implicações significativas para o estudo da evolução humana, especialmente em relação à dieta e ao comportamento social dos primeiros humanos. A caça de grandes animais e o uso de ferramentas para processar suas carcaças indicam uma mudança importante no padrão de alimentação, que incluiu um aumento no consumo de carne e gordura.

A capacidade de desenvolver e usar ferramentas para abater grandes presas pode ter sido um fator crucial na expansão do cérebro humano. Há uma ligação direta entre a ingestão de proteínas e gorduras de origem animal e o desenvolvimento cognitivo dos primeiros hominídeos. Além disso, a cooperação necessária para caçar e abater um animal de grande porte como o elefante sugere que esses humanos já possuíam estruturas sociais complexas.

O significado da descoberta de resíduos de gordura

A descoberta de resíduos de gordura preservados em ferramentas de pedra é um dos aspectos mais impressionantes dessa pesquisa. Embora os arqueólogos há muito tempo suspeitassem que os primeiros humanos usavam essas ferramentas para processar carne, essa é a primeira vez que essa atividade é confirmada de maneira tão direta. Os resíduos de gordura encontrados nas ferramentas de Revadim são uma evidência tangível de que os humanos estavam não apenas caçando, mas também utilizando eficientemente os recursos dos animais abatidos.

A análise de resíduos de gordura em ferramentas de pedra é uma técnica relativamente nova na arqueologia, e sua aplicação no estudo de Revadim abriu novas possibilidades para entender o comportamento dos humanos pré-históricos. Esses vestígios oferecem um vislumbre de como essas populações utilizavam as carcaças de grandes animais para obter alimentos e outros recursos essenciais para sua sobrevivência.