A arqueobotânica tem transformado nosso entendimento sobre as origens da agricultura, e as descobertas no sítio de Ohalo II, em Israel, são um exemplo marcante dessa evolução. Longe de serem meros coletores, os habitantes de Ohalo II já praticavam formas primárias de cultivação cerca de 23.000 anos atrás, desafiando as noções tradicionais sobre o início da agricultura no Crescente Fértil.
É fundamental distinguir cultivação de domesticação. A primeira refere-se à ação humana direta sobre o meio, preparando o solo e plantando sementes, enquanto a segunda diz respeito às alterações genéticas nas plantas resultantes dessa intervenção humana. As evidências mostram que, em Ohalo II, havia um uso intensivo de cereais selvagens, como trigo e cevada, muito antes de qualquer tentativa de domesticação. Essa prática era parte de um espectro mais amplo de manipulação ambiental, que eventualmente levaria à seleção de plantas com características desejáveis.
Os primeiros passos da cultivação
O sítio de Ohalo II fornece um registro único devido à excelente preservação de seus materiais orgânicos, permitindo uma análise detalhada dos restos de plantas e sua relação com as práticas humanas. Os achados incluem uma grande quantidade de grãos de cereais selvagens e restos de rácimos, que evidenciam uma exploração intensiva desses recursos naturais. Ferramentas de moagem encontradas no local indicam que esses cereais eram processados para consumo, destacando uma sofisticação na utilização de recursos vegetais muito antes do desenvolvimento da agricultura plena.
A análise de sementes de plantas no sítio revelou a presença de “protoervas”, ou seja, plantas que crescem em ambientes perturbados pelos humanos. Essas espécies são consideradas indicadores ecológicos cruciais para entender como e quando os seres humanos começaram a influenciar e modificar seus ecossistemas locais de maneira que favorecesse a agricultura. A presença dessas protoervas em Ohalo II sugere que já havia uma gestão ambiental que criava condições favoráveis para a cultivação, mesmo que em pequena escala.
Descobertas de Ohalo II
As evidências de Ohalo II são um lembrete de que a transição para a agricultura foi um processo longo e complexo, com muitas fases experimentais. Este sítio arqueológico oferece uma janela para o período em que os seres humanos começaram a explorar ativamente as possibilidades de manipular plantas e ambientes. Isso refuta a ideia de uma “revolução agrícola” repentina, substituindo-a por um modelo de evolução gradual e exploratória.
As descobertas em Ohalo II não apenas ampliam nossa compreensão das origens da agricultura, mas também desafiam a ideia de que a domesticação e a agricultura foram eventos rápidos e lineares. Ao invés, elas apontam para um processo de milênios de experimentação e interação com o meio ambiente, onde a domesticação era apenas uma parte de um espectro mais amplo de práticas de manejo ambiental e alimentar. Ohalo II, portanto, destaca a importância de reavaliar os caminhos que levaram à domesticação das plantas e ao surgimento das sociedades agrícolas.
Este estudo é um exemplo vívido de como os sítios arqueológicos podem transformar nossa compreensão dos processos históricos e sublinha a necessidade de uma abordagem mais matizada para estudar as origens da agricultura. Com a continuidade das pesquisas, espera-se desvendar ainda mais sobre esses estágios iniciais de interação humana com o meio ambiente, fornecendo insights valiosos sobre a complexidade das relações entre humanos e plantas no passado.
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