Em meio a restaurações realizadas na década de 1990 na antiga residência de Benjamin Franklin em Londres, uma descoberta surpreendente veio à tona: mais de 1.200 pedaços de ossos humanos foram encontrados enterrados no porão da casa.
Esses restos mortais, pertencentes a pelo menos 15 pessoas, incluindo crianças, rapidamente se tornaram o centro de um mistério histórico que intrigou tanto especialistas quanto o público. Por que havia tantos esqueletos escondidos no porão do pai fundador dos Estados Unidos?
Teria Franklin algo a ver com essa sinistra descoberta?
Vamos desvendar o enigma por trás dos esqueletos e revelamos uma história que remonta a uma época em que o estudo da anatomia ainda era um campo repleto de desafios éticos.
Em 1998, durante os trabalhos de conservação da casa número 36 da Craven Street, em Londres, onde Benjamin Franklin viveu por quase duas décadas, trabalhadores se depararam com algo inesperado: um osso humano. A descoberta inicial levou a uma investigação mais aprofundada, e logo foi encontrado um poço contendo mais de 1.200 fragmentos de ossos. Esses restos estavam enterrados em uma sala subterrânea, sem janelas, localizada sob o jardim da casa.
Os ossos, analisados por especialistas forenses, mostraram sinais de terem sido manipulados em dissecações e estudos anatômicos. A datação dos ossos indicava que eles foram enterrados ali há cerca de 200 anos, aproximadamente na mesma época em que Franklin morava na casa. A descoberta levantou uma série de perguntas: o que esses ossos estavam fazendo ali? E qual era a conexão de Franklin com eles?
Benjamin Franklin é amplamente reconhecido por suas contribuições à ciência, filosofia e política. Ele era um homem curioso, sempre em busca de novos conhecimentos e de apoiar inovações científicas. No entanto, sua ligação com os esqueletos encontrados na Craven Street não estava diretamente relacionada a um interesse pessoal em estudos anatômicos. Em vez disso, essa ligação estava associada a uma figura menos conhecida, mas igualmente importante: William Hewson.
William Hewson era um jovem anatomista e protegido de Franklin. Ele começou sua carreira como aluno de William Hunter, um obstetra renomado que também se dedicava ao estudo da anatomia. Após uma disputa com Hunter, Hewson decidiu abrir sua própria escola de anatomia, e a casa da Craven Street, onde Franklin morava como pensionista, parecia o lugar ideal para isso.
Naquela época, o estudo da anatomia era uma área de grande interesse científico, mas também envolvia práticas que hoje seriam consideradas antiéticas. A obtenção de corpos para dissecação era um dos maiores desafios para anatomistas como Hewson. Os corpos geralmente eram adquiridos de forma ilegal, muitas vezes por meio do roubo de túmulos. Esse suprimento clandestino de cadáveres era essencial para que os anatomistas pudessem realizar seus estudos e avançar na compreensão do corpo humano.
A explicação mais plausível para a presença dos ossos no porão da casa de Franklin é que eles foram resultado das atividades da escola de anatomia de Hewson. Com a sogra de Hewson como proprietária da casa e Franklin como um amigo e defensor do jovem anatomista, a Craven Street oferecia um local seguro e discreto para os estudos de Hewson.
Os corpos, uma vez utilizados nos experimentos e dissecações, eram enterrados no porão da casa para evitar suspeitas e complicações legais. Naquele tempo, as dissecações eram frequentemente realizadas em segredo, já que o fornecimento legal de corpos para estudo era extremamente limitado. Os restos mortais dos corpos dissecados eram, assim, cuidadosamente ocultados para não atrair a atenção das autoridades ou do público.
Embora Franklin estivesse ciente das atividades de Hewson em sua casa, é improvável que ele tenha participado diretamente das dissecações. No entanto, sua paixão pela ciência e pelo progresso do conhecimento certamente o levou a apoiar Hewson, tanto profissional quanto pessoalmente. Franklin provavelmente via o trabalho de Hewson como uma contribuição importante para o avanço da ciência médica, mesmo que isso envolvesse métodos que hoje consideraríamos questionáveis.
Infelizmente, o próprio Hewson pagou um preço alto por seu trabalho. Em 1774, aos 34 anos, ele contraiu sepse após se cortar acidentalmente durante um procedimento de dissecação. Sua morte prematura foi um golpe para o círculo de amigos e colegas, incluindo Franklin, que relatou a tragédia com pesar em uma carta para sua esposa.
Com a morte de Hewson, a escola de anatomia na Craven Street foi encerrada, e a casa eventualmente se tornou um local de memória e reflexão. Hoje, a casa de Franklin foi transformada em um museu, onde os visitantes podem aprender mais sobre a vida do pai fundador e as muitas histórias ocultas que se desenrolaram sob seu teto.
A descoberta dos esqueletos na casa de Benjamin Franklin é um lembrete fascinante de como a busca pelo conhecimento muitas vezes envolve dilemas éticos complexos. Embora possa parecer macabro à primeira vista, os ossos encontrados no porão de Craven Street contam a história de um tempo em que o estudo da anatomia estava apenas começando a se desenvolver como ciência.
Franklin, com sua curiosidade insaciável e apoio a jovens cientistas como Hewson, desempenhou um papel crucial na história que esses esqueletos silenciosamente testemunham. Hoje, mais de dois séculos depois, essa história continua a nos intrigar e a nos fazer refletir sobre os desafios e sacrifícios envolvidos na busca pelo progresso humano.
Leia mais: