Desenterrado um jarro cheio de moedas de ouro do império romano

Em uma casa romana em Corbridge, na Inglaterra, um dos achados mais impressionantes da arqueologia moderna foi desenterrado: um tesouro composto por 160 moedas de ouro, conhecidas como aureus, cuidadosamente escondidas em um jarro de bronze.

O tesouro, que ainda contava com duas moedas de bronze estrategicamente posicionadas para disfarçar o conteúdo valioso, traz uma nova compreensão sobre os hábitos e estratégias de proteção da riqueza durante o Império Romano.

As moedas de ouro de Corbridge contêm efígies de vários imperadores, entre eles Trajano, Adriano, Antônio Pio e Marco Aurélio, figuras históricas de relevância que moldaram o Império Romano e cujas políticas influenciaram grande parte do mundo antigo. Esses aureus não apenas representavam valor monetário, mas também eram símbolos de autoridade imperial e conquistas militares, reforçando a conexão entre o poder e o ouro.

Desde sua introdução em maior escala durante o governo de Júlio César, o aureus foi considerado a moeda de prestígio do império, reservada para transações de grande porte e para a elite. Este artigo explora a origem, o valor histórico e os detalhes desta descoberta singular em Corbridge, além de como ela ajuda a decifrar as relações econômicas e culturais da época.

A descoberta do tesouro em Corbridge

O tesouro de Corbridge foi descoberto em uma escavação no sítio arqueológico que, na época romana, era uma importante guarnição militar e uma das mais estratégicas da província da Britânia. A localização da descoberta, em uma casa comum, sugere que o proprietário do tesouro era alguém de status considerável, talvez um oficial ou um comerciante que acumulava ouro como uma forma de proteger suas riquezas em tempos de incerteza.

As moedas estavam habilmente escondidas dentro de um jarro de bronze, com duas moedas de bronze no topo para mascarar o verdadeiro valor do conteúdo. Esta técnica de camuflagem indica a necessidade de medidas de segurança sofisticadas, mesmo no interior de uma casa, e levanta questões sobre o contexto social e econômico da época. O fato de o tesouro estar intacto sugere que, por algum motivo, o proprietário não teve a oportunidade de recuperar as moedas, o que poderia estar relacionado a conflitos locais ou a uma retirada forçada.

Os aureus eram moedas de ouro que simbolizavam o poder e a prosperidade romana. O nome “aureus” vem da palavra latina aurum, que significa ouro, e estas moedas eram particularmente valorizadas não só pelo material precioso, mas também por seu peso e pureza. Durante a República Romana, o aureus era raramente cunhado, mas, com Júlio César, sua emissão se tornou mais frequente, refletindo a estabilidade e as reformas econômicas de seu governo.

Inicialmente, cada moeda pesava cerca de 8 gramas, mas esse valor foi sendo reduzido ao longo dos anos. Durante o governo do imperador Nero, o peso foi ajustado para cerca de 7,8 gramas, enquanto na era de Caracala, já pesava aproximadamente 7,4 gramas.

Apesar da redução no peso, a pureza do ouro permaneceu elevada, com teor de 99%. Essa estabilidade na pureza tornava o aureus uma moeda confiável e valiosa, mantida em alto padrão e usada em transações que envolviam grandes somas. O valor de cada moeda era também um reflexo do poder imperial, e as efígies dos imperadores cunhadas nos aureus eram uma maneira de reforçar a presença e a autoridade de Roma nas regiões mais distantes do império.

Moedas de ouro dos imperadores

ouro

Uma das características mais fascinantes do tesouro é a variedade de moedas com efígies de imperadores, entre eles Trajano, Adriano, Antônio Pio e Marco Aurélio. Cada uma dessas moedas conta uma parte da história imperial e representa um período de conquistas e desafios para o império.
Trajano, conhecido como um dos maiores imperadores romanos, é lembrado por suas vitórias militares e pela expansão do império.

Suas moedas são especialmente valorizadas por serem símbolos de uma era de glória militar e prosperidade. Adriano, seu sucessor, é famoso por consolidar o território e por seu interesse em fortalecer as fronteiras do império, o que se reflete em suas moedas que enfatizam a paz e a segurança. Antônio Pio, conhecido por seu reinado pacífico, também teve sua imagem imortalizada em moedas que destacam valores como justiça e virtude. Marco Aurélio, por sua vez, é celebrado como o imperador filósofo, e suas moedas frequentemente evocam temas de sabedoria e resiliência.

A diversidade de imperadores representados no tesouro sugere que ele foi acumulado ao longo de várias décadas, talvez até gerações, e que o proprietário possivelmente teve acesso a essas moedas por meio de redes comerciais ou como pagamentos recebidos.

Durante o período romano, o ouro era amplamente usado como forma de acumulação de riqueza e era reservado para transações significativas e para o pagamento de soldados e funcionários importantes. O uso de duas moedas de bronze para cobrir o topo do jarro é uma evidência da astúcia do proprietário em tentar proteger seu tesouro. Estratégias de proteção de riqueza como essa eram comuns, especialmente em tempos de crise ou incertezas políticas, e refletiam a necessidade de garantir a segurança dos bens preciosos.

Além de ser um símbolo de poder, o ouro tinha um papel funcional importante na economia romana. Ele era empregado para garantir a lealdade dos soldados e para estabelecer alianças com líderes locais. Por isso, encontrar um tesouro de moedas de ouro em uma residência comum indica que o dono era alguém que poderia estar envolvido em atividades de importância regional ou que exercia influência nas operações militares ou comerciais.

A descoberta desse tesouro lança uma nova luz sobre as práticas econômicas e sociais na Roma Antiga, especialmente em regiões afastadas do centro do império. O fato de as moedas terem sido encontradas na Britânia, uma das províncias mais distantes e militarmente estratégicas, sugere que o ouro era usado para integrar e controlar essas áreas.

Esse tipo de tesouro oferece pistas valiosas sobre a circulação de moedas e sobre como o império romano estabelecia e mantinha seu controle econômico e social. Os estudos sobre essas moedas permitem que os arqueólogos compreendam melhor as dinâmicas de poder, as rotas de comércio e as estratégias de proteção de riqueza no mundo romano.

O achado em Corbridge, especificamente, reforça a importância de Britânia como uma área de interesse para Roma e como as fortunas pessoais eram protegidas contra o roubo e a pilhagem.

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