Na década de 1980, um achado arqueológico extraordinário na região de Nieuw-Dordrecht, nos Países Baixos, chamou a atenção de estudiosos e entusiastas da história mundial. Uma estrada de turfa neolítica de madeira, com mais de 4.500 anos de idade, foi descoberta e logo se tornou objeto de intenso estudo.
Construída precisamente em 2.549 a.C., a estrada foi datada com exatidão graças ao uso da dendrocronologia, um método de datação baseado no estudo dos anéis das árvores. Esta técnica permitiu não apenas saber a idade exata da construção, mas também compreender melhor os conhecimentos e habilidades das sociedades neolíticas.
A estrada, construída em meio à turfa – um material encontrado em solo úmido e fértil da época – tem impressionantes 800 metros de extensão. Este tipo de construção evidencia a engenhosidade e o esforço de uma comunidade organizada, capaz de executar obras de grande escala em condições que, para nós, poderiam parecer adversas.
A estrutura serviu possivelmente para conectar vilarejos ou facilitar o transporte entre regiões distantes, sendo um reflexo do desenvolvimento social e tecnológico de uma era em que ferramentas simples e mão de obra manual dominavam as atividades humanas.
A estrada foi descoberta acidentalmente em meio a uma série de escavações de rotina na década de 1980, na área de Nieuw-Dordrecht, província de Drente. A descoberta surpreendeu os arqueólogos não apenas pela idade avançada da estrutura, mas também pelo excelente estado de preservação.
Esse achado é especialmente relevante devido à natureza perecível dos materiais utilizados, como a madeira, que, quando exposta ao ar e ao tempo, geralmente se deteriora rapidamente. Porém, a presença de turfa na região desempenhou um papel fundamental na preservação da estrada. A turfa possui características que ajudam a isolar e conservar materiais orgânicos, o que permitiu que a madeira permanecesse intacta ao longo de milênios.
Para os pesquisadores, a descoberta significava mais do que uma simples estrutura de transporte. Ela se tornou uma janela para as práticas e o modo de vida de uma sociedade que desenvolvia infraestrutura com recursos naturais locais e técnicas avançadas de engenharia para a época. O uso da dendrocronologia, que se baseia no estudo dos anéis de crescimento das árvores, revelou a idade precisa da construção e abriu novas perspectivas para a datação de artefatos arqueológicos na Europa.
Como foi construída a estrada de turfa neolítica
A construção da estrada neolítica em Nieuw-Dordrecht foi um feito complexo e sofisticado para a época. A estrutura principal era composta de pranchas de madeira dispostas em uma linha reta, formando uma passagem firme e relativamente nivelada sobre a superfície pantanosa da turfa.
Para manter a estrada estável e resistente, os construtores neolíticos usaram técnicas que consistiam em sobrepor várias camadas de madeira, combinando tipos específicos de árvores que conferiam maior resistência à via. As pranchas eram organizadas de maneira meticulosa, e, por baixo delas, eram colocadas estacas adicionais para proporcionar sustentação e garantir que a estrutura permanecesse estável mesmo com a oscilação do terreno.
O uso de madeira na construção de estradas em terrenos úmidos não era comum na época, uma vez que demandava não só recursos materiais, mas também conhecimento de engenharia e planejamento. No caso da estrada de Nieuw-Dordrecht, acredita-se que madeiras de carvalho e outras espécies locais foram utilizadas devido à sua durabilidade e disponibilidade na região.
Este método inovador de construção em locais pantanosos representa um dos primeiros exemplos de infraestrutura voltada para a interconexão entre territórios e sugere a existência de uma organização social estruturada, com divisão de tarefas e conhecimento do território.
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Dendrocronologia: o método que revelou a idade exata da estrada
A datação precisa da estrada de Nieuw-Dordrecht foi possível graças à dendrocronologia. Este método revolucionário permite que arqueólogos identifiquem a idade de objetos de madeira por meio da análise dos anéis de crescimento das árvores. Cada anel corresponde a um ano de vida da árvore, com variações em largura e espessura que refletem as condições ambientais e climáticas enfrentadas ao longo dos anos.
Com esse método, os especialistas conseguiram estabelecer que a estrada foi construída em 2.549 a.C., uma data que oferece um vislumbre da complexidade e da capacidade técnica das civilizações neolíticas.
A dendrocronologia é particularmente eficaz em regiões com climas que possibilitam a preservação da madeira, como é o caso da turfa em Nieuw-Dordrecht.
Além de permitir a datação precisa da estrada, essa técnica tem sido fundamental para reconstruir o contexto histórico da época e identificar como mudanças climáticas e ambientais influenciaram as práticas de construção e organização social das comunidades neolíticas.
A existência de uma estrada de 800 metros de extensão indica que as comunidades neolíticas na região possuíam uma organização social complexa, com pessoas responsáveis por tarefas específicas e capazes de executar grandes obras coletivas. A estrada de Nieuw-Dordrecht servia provavelmente como uma conexão entre diferentes aldeias ou pontos de comércio, facilitando a circulação de pessoas, animais e bens de troca.
Além disso, a construção da estrada reflete um conhecimento profundo do ambiente natural e das características do terreno. Os habitantes daquela época souberam adaptar sua infraestrutura às condições específicas da turfa, criando um meio de transporte duradouro.
Este tipo de estrutura permite que historiadores e arqueólogos compreendam melhor a economia e o estilo de vida da sociedade neolítica, que, embora primitiva, possuía habilidades técnicas impressionantes e uma organização que possibilitava o desenvolvimento de infraestruturas complexas.
A estrada neolítica de Nieuw-Dordrecht tornou-se um ponto de referência para a arqueologia da região e para o estudo das civilizações europeias antigas. Ela é uma prova concreta de que as sociedades neolíticas eram capazes de desenvolver técnicas de construção inovadoras e adaptadas às condições naturais. Além disso, essa descoberta ajudou a reforçar a importância de preservar o patrimônio arqueológico, especialmente em áreas onde os materiais orgânicos são preservados por condições específicas, como é o caso da turfa.
A descoberta da estrada estimulou novos estudos e pesquisas arqueológicas em áreas similares, levando à identificação de outros sítios e estruturas que revelam ainda mais sobre as práticas e o modo de vida das civilizações da Idade da Pedra. Hoje, o estudo dessa estrada inspira arqueólogos a continuarem explorando os sítios neolíticos da região e a buscarem métodos de conservação e restauração que permitam que essas estruturas sejam preservadas para as gerações futuras.