O batom vermelho, com sua cor vibrante e inconfundível, é muito mais do que um simples item de maquiagem. Ao longo dos séculos, ele tem se estabelecido como um símbolo de poder, rebeldia e glamour. Desde os tempos da antiga Mesopotâmia, passando pelo reinado de Cleópatra no Egito, até se tornar um ícone de Hollywood, o batom vermelho sempre esteve associado a figuras de destaque, seja em contextos de opulência, mistério ou luta. Em tempos modernos, continua a ser uma declaração de confiança e resistência, usado tanto como um acessório de beleza quanto como um emblema de protesto.
As origens do batom vermelho na antiguidade
O uso de pigmentos para tingir os lábios remonta a milhares de anos. Um dos primeiros registros do uso de batom vem da antiga Mesopotâmia, onde a rainha Puabi, por volta de 3500 a.C., utilizava uma mistura de chumbo branco e pedras vermelhas esmagadas para pintar os lábios, sinalizando seu status de poder. O batom, naquela época, não era apenas um item de beleza, mas também um símbolo de riqueza e autoridade. Escavações arqueológicas revelaram que muitos sumérios ricos eram enterrados com seus corantes labiais, armazenados em conchas de berbigão, um testemunho da importância que esse item tinha em suas vidas.
No Egito antigo, o batom vermelho também tinha um lugar de destaque. A rainha Cleópatra, famosa por sua beleza e inteligência, preferia um pigmento vermelho escuro chamado carmim, extraído de insetos da cochonilha. Este pigmento não era fácil de obter, o que o tornava ainda mais valioso e reservado para a elite. Cleópatra, assim como outras figuras da realeza egípcia, utilizava o batom não apenas como uma demonstração de poder, mas também como uma forma de se distinguir dos comuns.
O batom vermelho na Grécia antiga e no Império Romano
A Grécia antiga, por outro lado, tinha uma visão ambígua sobre o uso do batom vermelho. Naquela época, os lábios tingidos de vermelho eram geralmente associados às profissionais do sexo. As mulheres que faziam uso desse artifício corriam o risco de serem punidas por “se passarem por senhoras” se aparecessem em público sem a devida autorização. A mistura usada para colorir os lábios era uma combinação de ingredientes como amoras, algas marinhas, suor de ovelha e até excremento de crocodilo. Este preconceito contra o batom, porém, não durou para sempre.
No Império Romano, o batom voltou a ser um símbolo de status e poder. As mulheres romanas usavam cores vibrantes em seus lábios para indicar seu status elevado. No entanto, o uso de ingredientes perigosos, como o vermelho carregado de mercúrio, era comum, tornando o batom uma arma de dois gumes: uma demonstração de riqueza, mas também um risco à saúde. As pessoas mais pobres, que não podiam pagar pelos pigmentos caros, recorriam a sedimentos de vinho tinto para colorir os lábios, uma alternativa menos perigosa.
A transformação do batom vermelho na Idade Média
Durante a Idade Média, o batom vermelho adquiriu um novo significado, desta vez ligado à bruxaria e ao ocultismo. Com a reintrodução do uso de cosméticos no Ocidente pelas Cruzadas, o batom passou a ser visto com desconfiança pelos cristãos, que acreditavam que a maquiagem era uma forma de oposição aos ensinamentos religiosos, que pregavam a humildade e a beleza natural como virtudes divinas. Na Inglaterra, porém, acreditava-se que o batom vermelho tinha o poder de repelir espíritos malignos. A Rainha Elizabeth I, uma fervorosa crente, era conhecida por seus lábios pintados de carmim, que se tornaram sua marca registrada.
No entanto, essa visão positiva não durou muito. Com a ascensão do rei James I ao trono, os temores da sociedade em relação à bruxaria lançaram uma sombra sobre o uso de maquiagem. Em 1770, uma lei foi aprovada na Inglaterra que determinava que qualquer mulher que usasse maquiagem para enganar um homem a se casar com ela poderia ser julgada como bruxa. Este período marcou um declínio no uso do batom vermelho, que passou a ser visto como um sinal de desvio moral e manipulação.
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A ressurreição do batom vermelho como símbolo de rebeldia
No início do século 20, o batom vermelho começou a ressurgir como um símbolo de rebeldia, especialmente durante o movimento sufragista da década de 1920. Mulheres que lutavam pelos direitos civis e pelo voto feminino adotaram o batom vermelho como um emblema de resistência e coragem. A empresária de beleza Elizabeth Arden, percebendo o poder simbólico do batom, distribuiu tubos de batom vermelho para as sufragistas, incentivando-as a usá-lo como uma declaração de independência.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o batom vermelho passou de símbolo de rebeldia a um símbolo de feminilidade patriótica. Tons como “Fighting Red!” e “Victory Red!” se tornaram populares, representando a força e resiliência das mulheres que sustentavam o esforço de guerra em casa. Marcas como Elizabeth Arden lançaram tons que combinavam com os uniformes das mulheres que serviam nas forças armadas, e o batom tornou-se um item essencial nos vestiários das fábricas, ajudando a elevar o moral das trabalhadoras.
O legado do batom vermelho em Hollywood e nos dias atuais
Após a guerra, o batom vermelho consolidou seu status como um ícone de glamour, especialmente em Hollywood. Atrizes como Marilyn Monroe e Audrey Hepburn tornaram o batom vermelho um item obrigatório, imortalizando-o como símbolo de elegância e sensualidade. Nos anos seguintes, o batom vermelho continuou a ser associado a poder e feminilidade, sendo adotado por inúmeras celebridades e figuras públicas.
No entanto, o batom vermelho não é apenas um símbolo de glamour. Seu apelo atemporal também o tornou um símbolo de resistência e protesto. Em 2018, a campanha #SoyPicoRojo na Nicarágua viu homens e mulheres usando batom vermelho em protesto contra a ditadura do país. No ano seguinte, em 2019, milhares de mulheres no Chile usaram batom vermelho para denunciar a violência sexual, provando que o batom vermelho continua a ser um poderoso símbolo de empoderamento.
Conclusão
O batom vermelho percorreu um longo caminho desde suas origens na antiguidade até se tornar um emblema de poder, glamour e resistência nos dias atuais. Ele transcende culturas, épocas e até mesmo gêneros, mantendo-se relevante em um mundo em constante mudança. Se no passado ele foi visto como símbolo de opulência ou mesmo de bruxaria, hoje ele é celebrado como uma expressão de individualidade e força. Em qualquer de suas formas, o batom vermelho permanece como um ícone atemporal, capaz de capturar a essência do poder feminino e da rebeldia em uma única cor.
FONTE: nationalgeographicbrasil