Especialistas identificam 6 subtipos de depressão

A depressão, uma condição que afeta cerca de 280 milhões de pessoas em todo o mundo, é reconhecida como a principal causa de incapacidade global pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, apesar de ser amplamente conhecida e estudada, a depressão é uma condição complexa e multifacetada que pode se manifestar de maneiras muito diferentes de uma pessoa para outra. Em um estudo inovador, cientistas da Universidade de Stanford identificaram seis subtipos distintos de depressão, ou biotipos, que requerem abordagens de tratamento personalizadas. Essa descoberta, publicada na revista Nature Medicine, promete revolucionar a maneira como entendemos e tratamos a depressão, potencialmente melhorando os resultados para milhões de pessoas que lutam contra essa condição debilitante.

A diversidade da depressão

A depressão é frequentemente tratada como uma única entidade, mas a realidade é muito mais complexa. Este novo estudo da Universidade de Stanford desafia essa visão simplista, mostrando que existem pelo menos seis subtipos de depressão, cada um com características biológicas e psicológicas distintas. Esses subtipos variam em termos de atividade cerebral, padrões de conectividade e resposta a diferentes formas de tratamento, o que significa que uma abordagem única para o tratamento da depressão pode não ser eficaz para todos.

Os cientistas utilizaram ressonância magnética funcional (fMRI) para escanear os cérebros de 801 pessoas diagnosticadas com depressão ou ansiedade, com uma idade média de 30 anos. Os exames foram realizados tanto em repouso quanto durante a realização de tarefas específicas, permitindo que os pesquisadores observassem as diferenças na atividade cerebral entre os participantes. Em seguida, a inteligência artificial foi usada para identificar padrões de conectividade e atividade cerebral que corresponderam a diferentes biotipos de depressão.

Seis subtipos de depressão

Os seis subtipos de depressão identificados no estudo oferecem uma nova perspectiva sobre a complexidade dessa condição. Cada subtipo está associado a características específicas de atividade cerebral e sintomas, sugerindo que diferentes abordagens de tratamento podem ser necessárias para cada um. Abaixo, uma descrição detalhada de cada biotipo:

1. Hiperatividade nas regiões cognitivas: Este subtipo é caracterizado por uma atividade excessiva nas áreas do cérebro relacionadas ao processamento cognitivo. Pessoas com este biotipo tendem a experimentar mais ansiedade, preconceitos negativos, desregulação de ameaças e uma perda de interesse nas experiências da vida. Este grupo pode se beneficiar mais de terapias que visam reduzir a hiperatividade cerebral, como técnicas de mindfulness e terapias comportamentais que focam na reestruturação cognitiva.

2. Alta conectividade cerebral em regiões associadas à depressão e resolução de problemas: Pessoas com este subtipo mostram níveis mais altos de conectividade entre áreas do cérebro associadas à depressão e à resolução de problemas. Esses indivíduos parecem responder melhor à terapia cognitivo-comportamental, que é uma forma de terapia de conversação projetada para ajudar as pessoas a resolver problemas e modificar padrões de pensamento disfuncionais.

3. Baixa atividade no circuito cerebral da atenção: Este subtipo se caracteriza por níveis mais baixos de atividade em circuitos cerebrais responsáveis pela atenção. Indivíduos com esse biotipo têm menos chances de melhorar com terapias tradicionais, como a psicoterapia, e podem precisar de intervenções que aumentem a atividade cerebral nessas áreas, possivelmente por meio de estimulação cerebral não invasiva ou medicações específicas.

4. Baixa atividade nas regiões cognitivas e emocionais do cérebro: Este biotipo é marcado por uma atividade reduzida tanto nas áreas cognitivas quanto emocionais do cérebro. Esses indivíduos têm dificuldades em processar informações cognitivas e regular emoções negativas, o que pode exigir um tratamento que combine medicação com terapias que estimulem a função cerebral nessas regiões.

5. Alta reatividade emocional: Pessoas com este subtipo são mais afetadas por estímulos emocionais, incluindo suas próprias emoções e as expressões faciais dos outros. Elas podem se beneficiar de tratamentos que abordem a reatividade emocional, como a terapia de aceitação e compromisso (ACT) ou terapias que visam a regulação emocional.

6. Depressão sem diferenças cerebrais detectáveis: O último subtipo é intrigante, pois não mostra diferenças significativas em comparação com indivíduos sem depressão, de acordo com as varreduras de ressonância magnética. Isso sugere que este biotipo pode representar uma forma subjacente de depressão que ainda não foi totalmente compreendida ou classificada. Esse grupo pode precisar de abordagens de diagnóstico e tratamento mais personalizadas, talvez focando em sintomas mais sutis ou usando técnicas avançadas de neuroimagem para detectar anormalidades cerebrais ainda desconhecidas.

depressão

A identificação desses subtipos tem implicações profundas para a prática clínica. Atualmente, encontrar o tratamento adequado para a depressão pode ser um processo longo e doloroso de tentativa e erro, com pacientes frequentemente experimentando diferentes medicamentos e terapias antes de encontrar algo que funcione. Com a identificação dos biotipos, pode ser possível personalizar os tratamentos desde o início, aumentando a eficácia e reduzindo o tempo necessário para que os pacientes encontrem alívio.

O Dr. Edilberto Peña de León, Diretor do Centro de Pesquisas do Sistema Nervoso do México, destaca a importância dessas descobertas: “Qualquer estudo que nos aproxime dos tratamentos adequados no menor tempo possível é uma excelente notícia. As descobertas dos pesquisadores de Stanford contribuem muito para a abordagem da medicina personalizada para a saúde mental com base em medidas objetivas da função cerebral.”

O futuro do tratamento da depressão

À medida que a ciência avança, o tratamento da depressão também evolui. A medicina personalizada, que leva em conta as características individuais do paciente, como genética, biologia cerebral e estilo de vida, está se tornando uma abordagem cada vez mais viável para o tratamento da depressão. As descobertas sobre os subtipos de depressão são um passo importante nessa direção, sugerindo que tratamentos personalizados podem ser mais eficazes do que as abordagens tradicionais.

No futuro, é provável que vejamos uma maior integração de tecnologias avançadas, como inteligência artificial e neuroimagem, no diagnóstico e tratamento da depressão. Além disso, novos tratamentos, como dispositivos eletrônicos não invasivos que podem modificar os circuitos neurais, já estão sendo explorados e podem oferecer novas opções para aqueles que não respondem bem aos tratamentos convencionais.

Conclusão

A descoberta dos seis subtipos de depressão pela equipe da Universidade de Stanford representa um avanço significativo na compreensão dessa condição complexa. Ao reconhecer que a depressão não é uma doença única, mas sim uma coleção de subtipos com características distintas, os cientistas abriram caminho para tratamentos mais eficazes e personalizados. Para os milhões de pessoas em todo o mundo que sofrem de depressão, essas descobertas trazem a esperança de que, em breve, o tratamento adequado será encontrado de forma mais rápida e eficiente, melhorando sua qualidade de vida e bem-estar geral.

FONTE: metroworldnews