Guerra em Gaza já dura seis meses e causa a morte de pelo menos 95 jornalistas aponta relatório de ONG

Funeral de jornalista em Gaza (Foto: divulgação / Sindicato de Jornalistas Palestinos)

Londres – A guerra em Gaza tem causado graves danos aos jornalistas desde que o Hamas atacou Israel em 7 de outubro, e Israel declarou guerra ao grupo palestino, aponta o Comitê de Proteção a Jornalistas, que nos seis meses de conflito vem contabilizando dia a dia o impacto do conflito sobre a liberdade de imprensa e sobre os profissionais. 

O CPJ investiga todos os relatos de jornalistas e profissionais de atividades de apoio à mídia mortos, feridos ou desaparecidos na guerra, e afirma que trata-se do período mais mortal para a imprensa desde que a organização com sede nos EUA começou a coletar dados, em 1992.

Em 5 de abril de 2024, o levantamento do CPJ mostra que pelo menos 95 jornalistas e profissionais de mídia estavam entre os mais de 34 mil mortos desde o início da guerra em Gaza, em 7 de outubro. 

O caso mais recente documentado pela organização aconteceu em 5 de outubro, faltando dois dias para o conflito em Gaza completar seis meses.

Muhammad Salama, um jornalista palestino que trabalhava como apresentador do canal de TV Al-Aqsa, afiliado ao Hamas, foi morto com sua família em um ataque aéreo israelense contra sua casa em Deir al-Balah, centro de Gaza, segundo relatos da mídia e do Sindicato de Jornalistas Palestinos.

Em um comunicado sobre os seis meses da guerra em Gaza, o CPJ recordou que as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) disseram às agências de notícias Reuters e Agence France Press em outubro que não poderiam garantir a segurança de seus jornalistas que operam na Faixa de Gaza, depois de elas terem solicitado garantias de que eles não seriam alvo de ataques israelenses, segundo reportagem da Reuters. 

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Um dos mortos nos seis meses de conflito em Gaza foi Issam Abdallah, cinegrafista da agência baseado no Líbano. A posição de imprensa em que estava para registrar um combate na fronteira entre o Líbano e Israel foi atingida por um drone, em um ataque apontado como deliberado, matando-o e ferindo outros jornalistas uniformizados e em carros de reportagem identificados. 

“Os jornalistas em Gaza enfrentam riscos particularmente  elevados  quando tentam cobrir o conflito, sujeitos a ataques aéreos devastadores, comunicações interrompidas, escassez de abastecimento e cortes de energia extensos”, afirma o CPJ. 

Segundo a organizção até o dia  5 de abril:

  • 95 jornalistas e profissionais da mídia foram confirmados como mortos, dois quais 90 palestinos, dois israelenses e três libaneses
  • 16 jornalistas ficaram feridos
  • 4 jornalistas foram dados como desaparecidos
  • 5 jornalistas foram presos 

Além disso, foram registradas pelo “múltiplas agressões, ameaças, ataques cibernéticos, censura e assassinatos de familiares de profissionais de imprensa”. 

O CPJ disse que ainda está investigando diversos outros relatos não confirmados de outros jornalistas mortos, desaparecidos, detidos, feridos ou ameaçados, e de danos a escritórios de mídia e residências de jornalistas. 

A lista da entidade inclui nomes baseados em informações obtidas de fontes na região e em reportagens da mídia. Ela inclui todos os jornalistas que estavam a serviço no momenot da morte, e outros sobre os quais não há certeza de que estivessem, mas o CPJ listou-os enquanto investiga as circunstâncias.

Há relatos de ataques a residências que podem estar associados ao trabalho, embora o profissional não estivesse trabalhando no momento do ato. 

“O CPJ enfatiza que os jornalistas são civis que realizam um trabalho importante em tempos de crise e não devem ser alvo de partes em conflito”, disse Sherif Mansour, coordenador do CPJ para o Médio Oriente e Norte de África.

“Os jornalistas de toda a região estão fazendo grandes sacrifícios para cobrir este conflito doloroso. Os que estão em Gaza, em particular, pagaram, e continuam a pagar, um preço sem precedentes e enfrentam ameaças exponenciais.

Muitos perderam colegas e familiares, e fugiram em busca de segurança quando não há saída segura.”

Jornalistas estrangeiros proibidos de entrar  

A cobertura local do conflito depende dos jornalistas palestinos, uma vez que Israel não permite a entrada de profissionais de mídia estrangeiros livremente, salvo em missões rápidas e controladas, com acompanhamento de forças militares. 

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Em fevereiro, um grupo de correspondentes estrangeiros cobrou do governo israelense autorização para entrar em Gaza, mas Israel não atendeu ao pedido. 

A organização Repórteres Sem Fronteiras protocolou duas queixas no Tribunal Penal de Haia, instando-o a investigar ataques a jornalistas como crimes de guerra.