Frequentemente ouvimos algumas vozes dizerem, com aquele ar de sobriedade postiça, que no mundo atual, seria de fundamental importância termos apenas “fontes confiáveis” para nos informar. Tal afirmação, à primeira vista, até parece bonitinha, porém, quando olhamos mais de perto, vemos com clareza o que de fato ela é.
De mais a mais, quais seriam as tais “fontes confiáveis”? Sejamos sinceros: todos nós, cada um ao seu modo, acaba se informando a esmo, conforme as notícias vão sendo atiradas em suas ventas pelos mais variados canais, considerando como confiável qualquer coisa que seja regurgitada pelo Jornal Nacional, ou por qualquer outra tranqueira similar, pela qual se nutre uma vaga afeição, nem um pouco criteriosa.
E por mil raios e trovões, quem será a excelsa autoridade, acima do bem e do mal, que dirá para todos que essa ou aquela seria uma “fonte confiável”? Quais critérios seriam utilizados para avaliar a credibilidade de algo? Aí, meu amigo, quando chegamos nesse ponto, é a hora em que a vaca vai para o brejo com corda e tudo, porque os critérios geralmente são tão vagos quanto maliciosos.
Diante dessa artificiosa preocupação, manifesta por algumas vozes, tem-se a impressão de que todos nós seríamos almas infantilizadas, com medo do bicho-papão e, por isso, carentes do auxílio de um “tiozinho censor” que nos diga que o dito-cujo não existe, que ele foi embora, que ele morreu de tédio, que ele é uma fake news ou qualquer coisa que o valha para que nos sintamos “em paz”.
Ora, meu caro Watson, como diria Guimarães Rosa, viver é perigoso, logo, informar-se não é uma ação humana livre de riscos. Sempre há o risco da imprensa ter se enganado, ou dela ter sido enganada, como há também o risco dela estar nos enganando, de forma proposital ou não.
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Não apenas isso! Nós podemos estar nos enganando com a forma leviana como consumimos as informações e isso, sou franco em dizer, é tão perigoso quanto as possibilidades anteriores, se não mais, porque é fruto da nossa desídia cognitiva, em misto com nossa curiosidade desordenada, que procura ter notícia de tudo, sem compreender nada para se escandalizar com qualquer coisa.
Por isso mesmo, a liberdade de acesso à informação é de fundamental importância para combatermos os enganos, os autoenganos e as atitudes maliciosas que se fazem presentes na vida de um modo geral.
O livre acesso a toda e qualquer informação, de forma descentralizada e distribuída, nos permite confrontar as várias versões dos fatos, os vários pontos de vista, para que possamos, se assim desejarmos, ter uma percepção mais clara dos acontecimentos e podermos tirar nossas próprias conclusões.
Sim, equivocar-se ou ser enganado é desconfortável. Sei disso. Mas um certo mal-estar faz parte do aprendizado de qualquer coisa e, por isso mesmo, procurar calar e censurar todos aqueles que não seguem o riscado da cartilha ideológica dos donos do poder é uma atitude claramente totalitária, e não há disfarce midiático que esconda essa peçonha.
Os defensores da censura, do tal “controle social da mídia”, afirmam peremptoriamente que isso é para o bem de todos, para o restabelecimento da “verdade” e para salvar a “democracia”.
Pois é, não sei quanto a vocês, mas essa conversa toda me lembra muito o blábláblá que era apresentado por Joseph Goebbels, quando estava à frente do Ministério da Propaganda e do Esclarecimento Público do Terceiro Reich, lembra muito o papo-furado dos editores do Pravda da URSS, porém, com uma nova e modernosa roupagem. Ou não? Bem, você decide.
Enfim, lembremos e, se possível for, jamais esqueçamos: todos aqueles que advogam em favor da censura não o fazem para combater fake news; o fazem para calar a verdade que esculhamba com suas mentiras oficiosas que, diga-se de passagem, não são poucas.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela – professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.