Autor: Dartagnan da Silva Zanela (*)
Um dos mantras que é repetido à exaustão no terceiro milênio é o de que devemos nos manter sempre bem informados porque, como dizia Abelardo Barbosa, “quem não se comunica se trumbica”. E é bem provável que eu e você já cobramos isso dos outros e de nós mesmos, mas, por mil raios e trovões, realmente precisamos estar atentos a todos os acontecimentos que foram destacados no último minuto e que são atirados em nossas ventas pela grande mídia? Foi o que eu pensei.
E tem outra: se formos petulantes além da conta, iremos notar que tudo aquilo que nos é noticiado só ganha sentido e contexto com o passar do tempo, porque é apenas o tempo que nos propicia o distanciamento que é imprescindível para compreender-se algo com alguma profundidade.
Quando uma série de notícias e factoides começa a tomar conta do cenário midiático, mais do que depressa veremos os nossos ânimos se alterando, turvando nossa compreensão, limitando o nosso entendimento e excitando o nosso desejo de, como direi, “ver o circo pegar fogo”, ou algo parecido com isso. E se nos encontramos nesse estado de espírito, dificilmente iremos ler a conjuntura, desenhada a partir das notícias, de uma forma minimamente crítica, mesmo que creiamos candidamente que o estamos fazendo.
Aliás, quando as coisas começam a parecer óbvias demais para nós é sinal de que alguma coisa está errada em nossas conclusões, na forma como processamos as informações que acolhemos e, principalmente, com as premissas que utilizamos para avaliar as informações que nos permitiram chegar àquilo que chamamos de nosso entendimento sobre os fatos.
Ora, se nós nunca nos fizemos esses questionamentos é um sinal de que aquilo que chamamos de nossa opinião [criticamente crítica] não passa de um estranho que nos habita sem pagar aluguel, como bem nos ensina José Ortega y Gasset.
E repare numa coisa: raramente questionamos as nossas conclusões porque, na maioria das vezes, nós já as temos prontinhas e acabadas antes mesmo de lermos uma notícia e, por não avaliarmos criticamente a forma como consumimos as informações que chegam até nós, tomamos nossas pseudo premissas como conclusões pétreas e aí, perguntamos: qual é o valor de um conhecimento construído de uma forma tão epidérmica? Pois é, foi o que eu pensei.
Enfim, deixemos as notícias envelhecerem para que possamos, com elas, amadurecer.
(*) professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.
Leia também: