Alguns dos itens que hoje associamos amplamente ao universo feminino, como salto alto, bolsas e absorventes, foram, na verdade, originalmente criados para homens. A história da moda e dos costumes está repleta de exemplos curiosos de como certos objetos evoluíram ao longo do tempo, transformando-se em ícones de feminilidade, embora suas origens estivessem intimamente ligadas ao universo masculino.
Salto alto
A primeira associação que muitos fazem ao pensar em salto alto é com o universo feminino, especialmente no que diz respeito ao glamour e à elegância. No entanto, os saltos altos foram originalmente criados para homens. A história dessa peça peculiar começa na Pérsia, no século IX, onde os homens usavam saltos como parte de sua indumentária militar. O objetivo era puramente prático: os saltos ajudavam a manter os pés firmes nos estribos enquanto cavalgavam, garantindo maior estabilidade ao manejar arcos e flechas.
Quando os europeus entraram em contato com a cultura persa, por volta do século XVII, ficaram fascinados com o visual dos saltos altos. Nobres europeus, particularmente na França, adotaram o estilo e passaram a usá-los como símbolo de status e poder. Os saltos altos diferenciavam os ricos e poderosos dos trabalhadores comuns, que usavam sapatos simples e baixos. Luís XIV da França, por exemplo, foi um dos maiores adeptos dessa moda. Com o passar do tempo, no entanto, a peça foi abandonada pelos homens e caiu nas graças das mulheres, tornando-se um ícone de feminilidade.
Bolsas
Outro item amplamente associado ao universo feminino é a bolsa. Seja para fins de estilo ou praticidade, as bolsas são indispensáveis para a maioria das mulheres. No entanto, a história nos revela que as bolsas também foram, originalmente, um item masculino. Na Idade Média, os homens usavam pequenas bolsas amarradas na cintura para carregar objetos pessoais, como dinheiro, documentos e outros pertences.
O exemplo mais antigo de uma bolsa, datado de cerca de 2.500 anos, foi encontrado no que é hoje o Iraque. Ela pertencia a um homem e estava decorada com dentes de cachorro, simbolizando força e status. Com o tempo, no entanto, as bolsas masculinas caíram em desuso, à medida que os bolsos passaram a ser incorporados diretamente às roupas masculinas. Para as mulheres, que continuavam a usar roupas sem bolsos, as bolsas mantiveram-se como um acessório necessário e, eventualmente, evoluíram para os modelos elegantes e diversos que conhecemos hoje.
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Absorventes descartáveis
Os absorventes descartáveis são outro exemplo de um produto que foi inicialmente criado para um propósito completamente diferente. Durante a Primeira Guerra Mundial, um material chamado selo cotton foi desenvolvido para estancar o sangue de soldados feridos nas batalhas. Este material, leve, altamente absorvente e de fácil descarte, era a solução ideal para tratar os ferimentos graves enfrentados nas trincheiras.
No entanto, foi durante o uso desse material pelos médicos e enfermeiras que surgiu uma nova aplicação. As enfermeiras perceberam que o selo cotton seria perfeito para absorver o fluxo menstrual. Após o fim da guerra, o material foi adaptado para esse novo uso, dando origem aos absorventes descartáveis femininos. Nas décadas seguintes, a inovação se tornou um marco na higiene feminina, proporcionando maior conforto e praticidade para as mulheres em todo o mundo.
Jeans skinny
Os jeans são um dos itens de vestuário mais populares do mundo, e os modelos skinny, em particular, são amplamente usados no universo feminino. No entanto, a origem desse estilo remonta ao século XIX, e sua criação foi destinada exclusivamente a homens, em especial aos mineradores. Os primeiros jeans, projetados para serem duráveis e resistentes, foram criados por Levi Strauss em meados de 1800 para suportar o desgaste do trabalho pesado nas minas.
Com o passar do tempo, especialmente nas décadas de 1950 e 1960, os jeans começaram a ganhar popularidade entre os jovens, particularmente aqueles ligados à música e à cultura pop. Ícones como Elvis Presley ajudaram a difundir o estilo justo e ajustado ao corpo, que eventualmente evoluiu para o que hoje chamamos de jeans skinny. Inicialmente, os jeans skinny ainda eram predominantemente masculinos, mas na década de 1980, com o surgimento de novas tendências de moda, eles começaram a ser adaptados para mulheres, tornando-se um item clássico do guarda-roupa feminino.
Outras peças femininas com origem masculina
Além dos saltos altos, bolsas, absorventes descartáveis e jeans, outros itens comuns no universo feminino também foram originalmente pensados para homens. Exemplos disso incluem a maquiagem e as perucas. No Antigo Egito, a maquiagem era usada por homens como símbolo de poder e divindade. Os faraós aplicavam delineador ao redor dos olhos, acreditando que isso os conectava aos deuses. Na França do século XVII, perucas volumosas eram usadas por homens como forma de ostentar riqueza e status, um costume popularizado pelo rei Luís XIV.
O que esses exemplos revelam é que a moda é um reflexo das mudanças sociais e culturais. Muitas vezes, o que é considerado exclusivo de um gênero em uma época ou lugar pode, em outro momento, ser reinterpretado e adotado por outro grupo. As roupas e os acessórios, que inicialmente tinham fins puramente utilitários, foram se transformando ao longo do tempo em símbolos de status, poder, ou estilo.
Conclusão
A história da moda está repleta de surpresas e reviravoltas, e os exemplos citados neste artigo são apenas uma pequena amostra de como certos itens que hoje associamos ao universo feminino, como salto alto, bolsas e absorventes descartáveis, tiveram suas origens no universo masculino. Essas mudanças ao longo do tempo refletem a dinâmica cultural e social, mostrando como a moda não é apenas uma questão de estilo, mas também de contexto histórico. A evolução desses itens, de utilitários masculinos a ícones de feminilidade, revela como a sociedade molda e ressignifica os objetos que usamos no dia a dia. Isso nos faz refletir sobre como outros elementos do vestuário ou objetos do cotidiano também podem seguir caminhos inesperados no futuro.