Royalties no futebol brasileiro: o potencial financeiro inexplorado dos clubes

Nos últimos anos, o mercado do futebol brasileiro tem passado por transformações significativas que vão além das quatro linhas. Entre as novas estratégias de monetização, o licenciamento de marcas e produtos desponta como uma poderosa ferramenta para aumentar receitas e expandir a visibilidade dos clubes. A prática, que envolve a concessão de direitos para o uso de nomes, logotipos e outros elementos de identidade, pode se transformar em uma importante fonte de recursos financeiros.

No entanto, muitos clubes ainda não aproveitam plenamente o potencial desses ativos.

Acordos de royalties no futebol envolvem a concessão de direitos para que empresas utilizem a marca de um clube em produtos como camisas, bonés, canecas, jogos e diversos outros itens. Em troca, os clubes recebem uma porcentagem sobre as vendas desses produtos, chamada de royalties. Essa prática, amplamente adotada por clubes europeus e americanos, começa a ganhar força no Brasil, mas ainda há um longo caminho a percorrer para que seu potencial seja totalmente explorado.

Os royalties representam uma forma de receita recorrente, que não depende diretamente dos resultados esportivos, como a venda de ingressos ou a conquista de campeonatos. Isso significa que, mesmo em momentos de baixa performance no campo, o clube pode continuar gerando receita através de sua marca. No entanto, para que essa fonte de renda seja maximizada, é fundamental que os clubes desenvolvam estratégias de marketing eficientes e mantenham um bom relacionamento com os consumidores.

Thiago dos Passos, CEO da 8 Sport Capital, uma das principais consultorias esportivas do país, destaca que os royalties podem ir além de uma simples receita adicional. Segundo ele, quando bem gerenciados, esses ativos financeiros podem ser convertidos em crédito no mercado, ajudando os clubes a melhorar sua saúde financeira. “As receitas não se limitam apenas aos patrocínios. A venda de produtos licenciados também retorna aos clubes na forma de royalties, contribuindo significativamente para suas finanças”, explica.

Essa conversão de recebíveis em crédito pode ajudar os clubes a obter capital de giro, essencial para manter as operações diárias e planejar investimentos estratégicos. Por exemplo, um clube que possui um acordo sólido de royalties com uma fabricante de material esportivo pode usar esses recebíveis como garantia para obter empréstimos a taxas mais favoráveis, o que pode ser crucial para enfrentar períodos de crise financeira ou investir em contratações que elevem o nível do time.

Apesar do potencial financeiro, muitos clubes brasileiros ainda encontram dificuldades para explorar ao máximo os acordos de royalties. Um dos principais obstáculos é a falta de estrutura e conhecimento especializado dentro das instituições esportivas. Diferentemente de grandes clubes europeus, que contam com departamentos dedicados ao licenciamento e parcerias comerciais, muitas equipes brasileiras não possuem recursos suficientes para contratar profissionais capacitados para gerir essa área de forma eficaz.

Além disso, há desafios legais e contratuais que precisam ser cuidadosamente gerenciados. A negociação de royalties envolve um complexo conjunto de acordos que devem levar em consideração o valor da marca, o público-alvo dos produtos licenciados e o prazo de validade dos contratos. Qualquer erro nesses processos pode resultar em acordos desvantajosos que, ao invés de gerar receita, podem prejudicar a imagem e o faturamento do clube.

Outro desafio é a conscientização da própria torcida. Para que os produtos licenciados alcancem vendas expressivas, é fundamental que os torcedores compreendam a importância de consumir produtos oficiais e evitem pirataria. Campanhas de conscientização e um trabalho contínuo de valorização da marca são essenciais para educar o público e fortalecer o ciclo virtuoso das receitas de royalties.

Apesar dos desafios, o mercado de royalties no futebol brasileiro está longe de atingir seu potencial máximo, e há inúmeras oportunidades para inovação. Clubes que investirem em uma identidade de marca forte e em produtos que realmente dialoguem com seus torcedores poderão expandir significativamente suas receitas. Além dos tradicionais artigos esportivos, há um crescente mercado para produtos licenciados que vão desde itens de moda e decoração até produtos digitais, como NFTs (tokens não fungíveis) e jogos eletrônicos personalizados.

O advento da tecnologia e o crescimento das plataformas de e-commerce também oferecem novas possibilidades para os clubes diversificarem suas fontes de receita. Parcerias com plataformas de vendas online, como Amazon, Mercado Livre e Shopee, podem ampliar o alcance dos produtos licenciados, atingindo não apenas torcedores locais, mas também fãs em outras regiões do Brasil e do mundo.

Ademais, clubes que souberem utilizar dados de vendas e o comportamento dos consumidores podem personalizar suas estratégias de licenciamento, desenvolvendo produtos que atendam exatamente às preferências de seu público-alvo. Isso inclui desde a criação de linhas exclusivas para diferentes faixas etárias e perfis de torcedores até a oferta de produtos que reflitam os valores e a cultura do clube.

O mercado de royalties no futebol brasileiro tem um futuro promissor, mas para que ele se concretize, é necessário um esforço conjunto dos clubes, das empresas parceiras e dos próprios torcedores. O licenciamento de marcas e produtos deve ser visto não apenas como uma fonte de receita extra, mas como uma estratégia central para o fortalecimento financeiro e institucional das equipes.

Com uma abordagem profissional, que envolva especialistas em marketing, gestão financeira e direito esportivo, os clubes podem transformar os royalties em um dos pilares de sua sustentabilidade econômica. Além disso, o fortalecimento dos laços com os torcedores e a promoção de um consumo consciente de produtos oficiais são passos essenciais para que o futebol brasileiro possa finalmente explorar todo o potencial de sua paixão e de suas marcas.