O avanço das tecnologias digitais trouxe inúmeras facilidades para o dia a dia das pessoas, mas também criou novos desafios, especialmente no campo da educação. No ambiente escolar, o uso de celulares em sala de aula se tornou um tema recorrente, dividindo opiniões e preocupando professores.
No Dia dos Professores, a reflexão sobre o papel da tecnologia na educação se torna ainda mais relevante. Professores de todo o país enfrentam diariamente a difícil tarefa de manter o engajamento dos alunos em um cenário onde o celular, muitas vezes, rouba a atenção das aulas.
Essa questão vai além da simples distração; envolve também os impactos no processo de aprendizagem e o desafio de como integrar essas tecnologias de maneira produtiva. O que fazer quando o celular, em vez de auxiliar, se torna um obstáculo para a educação? Pesquisadores, como Gilberto Lacerda dos Santos e Fábio Campos, analisam as raízes desse problema e sugerem caminhos possíveis.
Com o aumento do uso de dispositivos móveis, muitas escolas e professores se veem diante de um dilema: proibir o celular em sala de aula ou encontrar formas de utilizá-lo de maneira pedagógica? O pesquisador Fábio Campos, da Universidade de Columbia (EUA), destaca que o telefone celular se tornou uma “epidemia” nas escolas, afetando negativamente o ambiente de aprendizagem. Segundo ele, é preciso discutir mais profundamente como os aparelhos podem ser usados de forma produtiva, sem causar distrações.
“Temos falado muito do telefone por conta dessa epidemia do celular na sala de aula. Não basta só uma lei proibindo os celulares. A gente precisa dar um norte para como se usa isso de uma forma um pouco mais virtuosa na sala de aula”, comenta Campos.
Essa preocupação se reflete em uma pesquisa recente do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), que mostrou que 60% das escolas brasileiras adotam regras específicas para o uso de celulares pelos alunos. Em algumas, o uso é permitido apenas em espaços e horários determinados, enquanto em outras, o aparelho é proibido. Porém, as regras por si só não resolvem o problema.
Para o professor Gilberto Lacerda dos Santos, da Universidade de Brasília (UnB), o uso de celulares em sala de aula deve ser abordado de forma integrada, conciliando os saberes tradicionais com as novas tecnologias. Ele defende que a formação continuada dos professores é essencial para lidar com esse desafio e, principalmente, para fazer com que o celular passe a ser um aliado no processo de ensino-aprendizagem.
“A sala de aula não pode estar desconectada dos nossos dias. Os professores precisam ser valorizados. Eles representam o cartão de visitas de uma instituição de ensino. São os profissionais que vão formar os cidadãos”, explica Lacerda.
Nesse sentido, as políticas públicas de apoio e valorização dos professores desempenham um papel crucial. Professores precisam ser capacitados para lidar com a tecnologia de forma eficiente, entendendo como utilizá-la para engajar os alunos, ao invés de simplesmente tentar bani-la. Um exemplo positivo pode ser visto na Europa, onde, segundo Lacerda, a docência é vista como uma carreira de Estado, comparável a carreiras como as de militares e diplomatas, o que inclui maior apoio e preparo para lidar com a tecnologia.
O uso prolongado de telas, incluindo celulares, levanta questões sobre saúde mental e bem-estar dos estudantes. O relatório de 2023 da Unesco, sobre Monitoramento Global da Educação, apontou que a exposição excessiva a telas pode causar problemas como ansiedade e depressão, além de prejudicar a qualidade do sono e a capacidade de concentração.
Em um cenário em que o celular está constantemente ao alcance dos alunos, a atenção que deveria estar focada no aprendizado pode se perder em distrações. As redes sociais, jogos e outros aplicativos acabam se tornando concorrentes diretos das atividades pedagógicas, afetando o rendimento escolar e a interação em sala de aula. Assim, as escolas têm que enfrentar não apenas a distração, mas também os impactos mais amplos que o uso indiscriminado de tecnologia pode causar na saúde mental dos estudantes.
Em várias partes do mundo, políticas de proibição do uso de celulares nas escolas têm sido adotadas como uma forma de lidar com o problema. Na França, por exemplo, o governo implementou leis que proíbem o uso de celulares em escolas de ensino fundamental e médio, com o objetivo de melhorar o foco dos alunos nas atividades escolares.
No Brasil, o debate sobre a proibição de celulares também tem ganhado força. Algumas escolas já adotaram medidas para restringir o uso, mas a eficácia dessas políticas ainda gera controvérsias. Para Fábio Campos, proibir o celular é uma medida necessária diante da situação atual, mas ele reconhece que isso representa um fracasso social: “Por mais que eu ache que é um fracasso social, a gente tem que proibir”.
A questão, portanto, vai além de simplesmente permitir ou proibir o uso dos celulares. É preciso criar uma cultura de uso consciente e produtivo da tecnologia, tanto por parte dos alunos quanto dos professores. Essa mudança de mentalidade exige diálogo, capacitação e, sobretudo, uma reformulação do modelo de ensino.
Embora o celular seja frequentemente visto como um vilão na sala de aula, ele também pode ser um aliado se usado de forma adequada. Tecnologias digitais, como aplicativos educacionais e plataformas de aprendizado online, podem enriquecer o processo de ensino e oferecer novas maneiras de engajar os alunos. No entanto, para que isso aconteça, é essencial que os professores estejam preparados para incorporar essas ferramentas de forma eficaz em suas aulas.
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A pandemia de Covid-19 trouxe um exemplo claro de como a tecnologia pode ser uma ferramenta importante para a educação. Durante o período de ensino remoto, as escolas e os professores tiveram que recorrer às plataformas digitais para manter o aprendizado em andamento. No entanto, a falta de uma política nacional de uso da tecnologia na educação deixou lacunas que ainda precisam ser preenchidas, como aponta Campos: “Mesmo depois disso tudo, o Brasil não investe em ter uma política nacional de uso da tecnologia na educação. É triste”.