Arqueólogos desenterram assentamento de 5.000 anos em Israel

Em uma das descobertas arqueológicas mais emocionantes dos últimos anos, pesquisadores da Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA) desenterraram um assentamento de 5.000 anos próximo a Beit Shemesh, em Hurvat Husham.

O local, destinado a um projeto de expansão industrial, revelou, em vez disso, uma impressionante estrutura cerimonial da Idade do Bronze, datada do 4º milênio a.C. Esta estrutura parece ter sido um templo ou centro ritual, conservado de forma surpreendente, com mais de 40 vasos rituais intactos ainda posicionados em seus locais originais, sugerindo seu uso em cerimônias.

Os achados fornecem novas informações sobre as primeiras formas de urbanização e complexidade social na região. A presença de um salão grande com paredes robustas e bancos embutidos, bem como de pedras verticais dispostas, indicam um espaço dedicado a funções religiosas ou rituais, muito possivelmente acessível a toda a comunidade. S

egundo os arqueólogos, essa descoberta marca um ponto crucial na transição da vida aldeã para a vida urbana. Além disso, artefatos e características do local revelam detalhes sobre a organização social, religiosa e industrial do período, dando pistas valiosas sobre como as comunidades locais evoluíram em direção a estruturas sociais mais complexas.

As origens de Hurvat Husham: um templo para os primeiros rituais

Hurvat Husham, localizado na região oeste de Beit Shemesh, inicialmente parecia apenas mais um espaço a ser aproveitado para expansão urbana. Contudo, as escavações revelaram um conjunto estrutural impressionante que, de acordo com a equipe de arqueólogos, possui características de um dos primeiros templos conhecidos nas Terras Baixas da Judeia.

Ariel Shatil, Maayan Hamed e Danny Ben Ain, gerentes de escavação do projeto, destacam que a grandiosidade da estrutura — com paredes robustas e bancos embutidos — é evidência de que servia um propósito público e provavelmente sagrado. Ao compararem o local com outras construções raras da época, os arqueólogos concluíram que esta é uma das estruturas mais antigas da região com tal função.

Este templo antigo abrigava vasos rituais únicos, cada um posicionado com cuidado. Alguns destes vasos foram encontrados entre marcas de queimaduras e tombados, sugerindo que o assentamento pode ter sido abruptamente abandonado após um evento significativo.

Os arqueólogos sugerem que esses vasos poderiam ter sido utilizados para armazenar substâncias importantes para a prática ritual, como óleos e grãos, ou até mesmo compostos exóticos usados em cerimônias. Estes detalhes indicam que o templo pode ter desempenhado um papel essencial na vida religiosa e comunitária dos habitantes.

Próximo ao templo, arqueólogos também encontraram grandes pedras verticais organizadas em fileiras. Este detalhe intrigante levou a equipe a especular que o local já era utilizado para rituais muito antes da construção do templo fechado.

O Dr. Yitzhak Paz, especialista na Idade do Bronze Inicial, acredita que estas pedras verticais foram erguidas para um propósito de culto comunitário ao ar livre.

Ele explica que Hurvat Husham provavelmente começou como um espaço ritual aberto, acessível a todos, onde a comunidade local realizava cerimônias. A presença dessas pedras evidencia um contexto social e político em desenvolvimento, refletindo a transição gradual de uma sociedade onde o culto era realizado em espaços abertos para práticas mais controladas e delimitadas.

Este processo de transformar um espaço de culto aberto em um local fechado pode indicar uma mudança significativa nas dinâmicas sociais e no controle do poder religioso. Ao serem inseridas estruturas fechadas, os rituais possivelmente se tornaram mais restritos e exclusivos, refletindo uma organização social que avançava para sistemas hierárquicos e urbanos mais complexos.

A escavação também trouxe à tona outros vestígios impressionantes, como os que podem ser os fornos de cerâmica mais antigos encontrados em Israel até o momento. Estes fornos indicam uma comunidade em transição para práticas industriais mais organizadas, com trabalhadores especializados.

Para os arqueólogos, a presença desses fornos, juntamente com a estrutura ritual, sugere que Hurvat Husham era mais do que apenas um assentamento comum — ele abrigava uma sociedade em pleno desenvolvimento industrial e social.

A fabricação de cerâmica, fundamental para armazenamento e comércio, reflete a mudança nas necessidades da comunidade e o aumento da complexidade econômica. Essa especialização também demonstra o surgimento de um tipo de organização social onde o trabalho era distribuído de forma mais estruturada, com grupos dedicados a atividades específicas, como a fabricação de cerâmicas.

A transição para a vida urbana nas Terras Baixas da Judeia

A descoberta em Hurvat Husham oferece um vislumbre fascinante sobre o processo de urbanização nas Terras Baixas da Judeia. Com um templo, pedras verticais para rituais e fornos de cerâmica, o local encapsula a evolução de uma sociedade que deixava para trás a simplicidade da vida aldeã e se aproximava de uma estrutura urbana organizada.

Ariel Shatil e sua equipe explicam que, há cerca de 5.000 anos, esta área estava experimentando um aumento populacional significativo, acompanhado pela formação de hierarquias sociais e desenvolvimento de indústrias.

Este período é marcado pela construção de arquiteturas monumentais, templos, fortificações e indústrias especializadas, todas características das primeiras cidades. Hurvat Husham, como afirmam os arqueólogos, captura essa transição crucial: de um pequeno assentamento agrícola para uma sociedade que começava a se estruturar com palácios, muralhas e uma organização hierárquica.

Outro aspecto fascinante da escavação é que Hurvat Husham está localizado próximo a Tel Yarmouth, um sítio arqueológico maior que também contém evidências de uma sociedade urbana avançada.

Os arqueólogos sugerem que Hurvat Husham pode ter sido uma das primeiras comunidades a dar o salto para a urbanização na região. Esta proximidade geográfica e temporal entre os sítios reforça a ideia de que as Terras Baixas da Judeia foram um centro importante para o surgimento das primeiras cidades.

Tel Yarmouth, com seus palácios e muralhas, representa uma fase mais avançada da urbanização, mas Hurvat Husham oferece uma janela para as etapas iniciais desse processo, onde práticas religiosas e indústrias especializadas se tornavam cada vez mais comuns.