A história da Roma Antiga continua a se desdobrar de maneiras surpreendentes e emocionantes. Durante as obras de construção de uma nova área para pedestres em Piazza Pia, perto do Vaticano, arqueólogos desenterraram um jardim de 2 mil anos que pertenceu ao controverso imperador Calígula.
Esta descoberta, repleta de detalhes fascinantes e artefatos históricos, oferece uma nova perspectiva sobre a vida e os luxos da elite romana, ao mesmo tempo que atrai a atenção de historiadores e turistas de todo o mundo.
A princípio, os arqueólogos encontraram uma instalação de lavanderia de 1.700 anos durante as escavações em Piazza Pia. No entanto, ao realocar essas ruínas, eles se depararam com algo ainda mais grandioso: um vasto jardim na margem direita do rio Tibre. Este local incluía um caminho ladeado por colunas, uma ampla área aberta para o cultivo de plantas, uma parede de travertino e as fundações de um pórtico, indicando a opulência e a importância histórica do espaço.
A identificação do proprietário do jardim foi confirmada de maneira surpreendente e direta. Um cano de água de chumbo estampado com o nome oficial de Calígula, “C(ai) Csaris Aug(usti) Germanici” (César Augusto Germânico), foi encontrado no local. Este artefato crucial confirmou que a luxuosa residência foi inicialmente herdada por Germânico, depois transferida para sua esposa Agripina, a Velha, e finalmente para seu filho Calígula. Esta descoberta foi corroborada pelo Ministério da Cultura da Itália, que citou descobertas anteriores na área, como canos inscritos com o nome de Júlia Augusta (Lívia Drusila).
Calígula governou o Império Romano de 37 a 41 d.C., um período marcado por suas extravagâncias, tirania e, eventualmente, loucura. Seu reinado foi tão tumultuado que acabou sendo assassinado pela própria Guarda Pretoriana. A descoberta do jardim não só nos oferece um vislumbre dos luxos desfrutados por Calígula, mas também reforça as narrativas históricas de seu comportamento extravagante e a opulência associada à sua corte.
Além das evidências arqueológicas, fontes literárias antigas também confirmam que o jardim pertencia a Calígula. Fílon de Alexandria, um historiador judeu, descreveu o imperador recebendo uma delegação de judeus alexandrinos nos Jardins de Agripina, que tinham vista para o Tibre e eram separados por um pórtico monumental. Fílon relatou que a embaixada buscava representar as dificuldades e crises enfrentadas pela comunidade judaica de Alexandria, mas seus pedidos foram rejeitados por Calígula.
Durante a escavação, foram descobertos artefatos significativos, como lajes de pedra e decorações de telhado de terracota que representavam cenas mitológicas. Estas terracotas, originalmente utilizadas como tampas de esgoto, provavelmente decoravam estruturas dentro do jardim. Esses achados não só adicionam riqueza à compreensão do local, mas também destacam a habilidade artística e a atenção aos detalhes que caracterizavam as construções da elite romana.
A construção da nova área para pedestres na Piazza Pia está programada para ser finalizada até dezembro de 2024, em preparação para o Ano Jubilar do Vaticano em 2025, que deve atrair milhões de turistas à cidade. Apesar das descobertas arqueológicas, o cronograma da obra está mantido. Os restos da antiga lavanderia romana serão exibidos próximo ao Castel Sant’Angelo, proporcionando aos visitantes uma oportunidade única de explorar as camadas da história romana.
Mesmo em ruínas, a grandiosidade do jardim de Calígula é evidente. O caminho ladeado por colunas e a ampla área aberta para o cultivo de plantas refletem a importância e a riqueza do local. A parede de travertino e as fundações do pórtico indicam que este jardim não era apenas um espaço de beleza natural, mas também um símbolo de poder e status. A preservação e a exibição desses elementos ajudarão a contar a história de Calígula e a vida luxuosa dos imperadores romanos.
A descoberta do jardim de 2 mil anos de Calígula em Roma é um lembrete poderoso da riqueza e complexidade da história romana. Este achado não só oferece uma nova perspectiva sobre a vida e os luxos da elite romana, mas também reforça a importância da preservação e do estudo contínuo de nosso patrimônio histórico.
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